sexta-feira, março 23, 2007

A incrível, triste e verdadeira história da prisão de Lyra e as agruras de um homem no cárcere privado de sua primavera madura

Por Arthur Coelho Bezerra




Fazia um calor ameno na manhã de segunda-feira, dia 12 de março, quando o fundador e faxineiro Diogo Lyra se dirigia para o seu trabalho no escritório do Fundo de Quintal Literário, que ocupa uma modesta sala em um prédio comercial do Bairro de Fátima. Como estivesse adiantado em seu horário, Lyra resolvera parar no botequim de esquina da rua Monte Alegre para tomar um pingado e comprar seu maço de cigarros, grande companheiro nos momentos de solidão que pontuam o seu fatídico dia de trabalho.



Não foi sem surpresa que Lyra, ao terminar seu desjejum, avistou um antigo amigo dos tempos de colégio, localizado no saudoso bairro do Irajá. Paulito cumprimentou-o com um largo sorriso, e Lyra dispôs-se chegar cinco minutos atrasado no escritório para ter a chance de ouvir o que a vida tinha reservado a este antigo colega – mesmo sabendo que era ele, Lyra, o responsável por abrir a porta para que a equipe do FQL pudesse dar início às suas atividades.



Paulito contou a Lyra que, embora a maior parte da sua renda mensal viesse do trabalho de michê, que desempenhava nos cantos ermos da rua do Lavradio, procurava trabalhar durante o dia como guardador de carros, ali mesmo, nas imediações da Monte Alegre. Diogo ouvia a história com um certo pesar, uma vez que seu amigo não tivera a mesma sorte que ele na vida. E foi neste momento que, comovido por uma lágrima que displicentemente rolara no rosto de Paulito, Lyra aceitou a proposta de tomar conta do ponto do amigo por não mais que cinco minutos, enquanto Paulito ia receber um dinheiro pelos serviços prestados na noite anterior. Lyra, que já fora muito gozador em sua juventude, resolveu experimentar os louros da maturidade e ser solidário com o antigo companheiro. “Tudo pela felicidade dos meus amigos”, foi o que disse com um sorriso sincero.


E passaram-se cinco, dez, quinze minutos. Lyra já se mostrava preocupado, porém não podia abandonar o amigo, e tampouco telefonar para alguém da equipe do FQL para justificar o atraso, pois que sempre fora relapso com os seus celulares que, invariavelmente, perdia nas noites de bebedeira intensa.



Já estava quase desistindo quando pára um carro importado, de vidros fumê, de onde brota um senhor gordo, engravatado, que se apresenta simplesmente como “advogado” e, jogando as chaves na direção do franzino faxineiro, pede, sem cerimônias, que este estacione o seu carro, lhe estendendo uma nota de dez reais. Antes de Diogo poder balbuciar qualquer coisa, o homem desaparece na multidão, deixando-o só com o veículo.


Quem conhece o nosso herói sabe: Diogo não tem a menor vocação para motorista. Mas o que fazer? Não podia deixar aquele veículo importado, caríssimo, parado em fila dupla no meio de uma rua tão movimentada. Queimaria o filme do amigo. Eis que novamente tomado pelo ímpeto da solidariedade, a frase “tudo pela felicidade dos meus amigos” ecoando em sua cabeça, Lyra decide encarar o desafio e entra no possante, procurando familiarizar-se com os pedais, sentindo o câmbio pela primeira vez em muitos anos, experimentando uma leve sensação de poder atrás do volante. Mas foi um momento breve.



Em poucos segundos, a sensação de segurança se transfigurou em completo medo quando Lyra sentiu o frio cano da arma lhe cutucar as costelas. Atrás da pistola, uma voz lhe ordenou em alto e bom som:




- feche a porta e pule para o banco do carona.











Continua...

7 comentários:

Diogo Lyra disse...

Amigo, confesso que embarguei os olhos de tanta emoção ao revisitar, por meio de tuas palavras, estes momentos de grande tensão e angústia. Sei que os médicos me aconselharam a retornar somente na semana que vem, mas venci o medo para lhe agradecer por tudo e abençoar seu nobre relato.

Anônimo disse...

Sr. Lyra, o senhor não deve desobedecer os médicos. Por favor, retorne ao seu repouso...

Sr. 4rthur, agradeço seus esforços para tornar pública esta trama sinistra planejada contra o Sr. Lyra.

Cordialmente,
Nestor Loureiro
Diretor Executivo da
Sub-Equipe do Fundo de Quintal Literário Provisório

4rthur disse...

Repouse, amigo. Todo o relato já está concluído e será aqui postado em três partes, para evitar o excesso de emoções que possam perturbar o seu período de recuperação.

Um abraço fraterno do grande amigo

Arthur

gigi disse...

Tenho medo de vocês.

Samantha Abreu disse...

ahahahahaha
isso é fabuloso!
adorei!

blah disse...

Putz,

fiquei curioso pra saber o resto da história...

Henrique Santos Pakkatto disse...

Muito boa tirada.