quinta-feira, maio 29, 2008

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Prato do dia (#4): The Raconteurs



No segmento musical, vez por outra surgem bandas paralelas com qualidade à altura dos trabalhos principais de seus músicos. É o caso do Mr. Bungle e do Fantomas, projetos do alucinado Mike Patton, vocalista da saudosa banda Faith No More.


O caso de The Raconteurs é ainda mais raro: a banda supera, em muito, a banda original do vocalista e guitarrista Jack White. Também pudera: por melhor que seja a capacidade de White de criar excelentes riffs de rock, fica difícil sustentar uma banda de rock com uma baterista descoordenada (caso de Meg White) e sem baixo! Estou falando, claro, do White Stripes – que apesar de ser uma banda meia bomba, possui músicas irresistíveis como Seven nation army e The hardest button to button.


Com o The Raconteurs, porém, isso não acontece. Há guitarras, baixo, bateria e teclados, criando um som rock n’roll bem na linha setentista de bandas como The Who, Doors, Beatles e Led Zeppelin. O Led, aliás, é a referência mais gritante, perpassando as diversas faixas do primeiro álbum da banda, Broken Boy Soldiers, um disco primoroso do início ao fim, que começa com a levada cadenciada de Steady as she goes (que lembra de leve os contrapontos que ouvimos num rock brazuca estilo Los Hermanos) e terminando com Blue veins, um blues arrastado daqueles no estilo Since I’ve been loving you.


O segundo disco, Consolers of the Lonely, lançado recentemente, prova que não se trata de uma banda de um disco só. Também é excelente do início ao fim, e já começa com mudanças bruscas de tempo (coisa que adoro) nos primeiros trinta segundos da música homônima.


Os destaques da banda vão para as músicas Broken boy soldiers e Level (confira aqui), do primeiro disco, e The Switch and the Spur, do segundo. Ouçam e vejam se não tenho razão ao desejar que Jack White desista do White Stripes pra dedicar-se exclusivamente ao The Raconteurs... quem sabe assim rola uma chance dos caras pintarem por aqui?

terça-feira, maio 20, 2008

A esquadrilha contra-ataca




A melhor coisa de reencontrar gente que a gente conhece há sete, oito, dez anos é perceber que, embora a vida tenha mudado, com filhos e casas pra cuidar e novas responsabilidades que a vida insiste em trazer, as pessoas continuam, em essência, as mesmas.

Mais ainda, é impossível não reacender o espírito jovem e descompromissado de outrora quando se revê pessoas que nos remetem ao tempo em que curtir a vida despreocupadamente traduzia a nossa maior preocupação.




quinta-feira, maio 15, 2008

O mal estar do século XXI


Domingo foi dia das mães, e passei a tarde cercado delas, que são muitas na minha família. Foi ótimo conversar e rir com minhas tias e minha dezena de primos, todos mais novos que eu. Um dos tópicos, porém, me deixou bastante assustado: a presença de vários casos de depressão, na própria família e em famílias próximas.


É de fato um panorama assustador. Ouvi histórias de pessoas entrando em depressão dentro do próprio carro, sem conseguir sair pra trabalhar. Pessoas que precisam ligar para maridos/esposas para que estes apóiem a execução das tarefas mais cotidianas, como pagar uma conta ou ir à padaria. Pessoas católicas freqüentando centros espíritas porque já tentaram de tudo. E, claro, todo tipo de “droga legal” (será uma antítese ou um eufemismo?) sendo tomada por pais, mães e filhos, jovens de 20 anos em pesadas dietas de Frontal, Pondera, Apraz, Rivotril, Lexotan e outras tarjas pretas do gênero.


Apesar de até ter despertado certa curiosidade, eu nunca tomei um comprimido desses, nem sei o que é ansiolítico, o que é calmante, o que é produtor de serotonina (talvez uma espécie de ecstasy legalizado?). Contudo, uma conversa com alguns amigos revelou que esse quadro não é tão raro assim. A depressão e o stress, efeitos colaterais do mal estar da civilização moderna, atingem um número alarmante de pessoas.


Digam pra mim: quando foi que ser minimamente feliz ou contente tornou-se uma meta tão inalcançável? Quando foi que a “falta de grana” deixou de ser o problema da classe média, perdendo espaço pra essa nuvem negra que destrói humores e expectativas positivas? Será que as pessoas humildes que trabalham pesado o dia todo, enfrentam jornadas diárias dentro de conduções lotadas e possuem sua cota de problemas domésticos para cuidar têm alguma idéia do que é sofrer de depressão?


Minha irmã deve estar certa: a psicologia é a profissão do futuro. Pelo quadro que vem sendo pintado, em pouco tempo estaremos todos loucos - inclusive os psicólogos.

quinta-feira, maio 08, 2008

Uma nova esperança




Morreu, na semana passada, o químico suíço Albert Hoffman, cuja maior contribuição para a história recente da humanidade foi a descoberta da dietilamida do ácido lisérgico – mais conhecida pelos nomes ácido, doce, cones, microponto, gota, fiote, quadrado, papel, macrobiótico, porongos, bike, filete, selo, trips - ou simplesmente pela sigla LSD. Há exatos 70 anos, durante seus experimentos em laboratório, Hofmann ingeriu acidentalmente uma quantidade de ácido lisérgico e, segundo o texto do Wikipedia, “se viu obrigado a interromper o trabalho que estava realizando devido aos sintomas alucinatórios que estava sentindo”.


Utilizado inicialmente como recurso psicoterapêutico e para tratamento de alcoolismo e disfunções sexuais, o uso recreativo do LSD acabou sendo amplamente difundido pela contracultura americana dos anos 60, fazendo a cabeça de ícones da música como Pink Floyd, The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin e The Beatles (cuja canção Lucy in the Sky with Diamonds é a referência mais explícita).


Se Hofmann ficou conhecido como “pai” do LSD, o “guru” desta substância foi o Dr. Timothy Leary. Em 1961, Leary recebeu uma grana da Universidade de Harvard para estudar os efeitos do LSD em voluntários, que Leary levava para uma grande fazenda na qual eles poderiam fazer o que quisessem (contanto que preenchessem fichas relatando a experiência que tiveram). Segundo o Wikipedia, “3.500 doses foram dadas para mais de 400 pessoas. Daqueles testados, 90% disseram que eles gostariam de repetir a experiência, 83% disseram ter aprendido alguma coisa ou ter tido uma ‘iluminação’ (insight), e 62% disseram que o LSD mudou suas vidas para melhor”.


Embora refira-se à substância que descobriu como seu “filho problemático” (título de um de seus livros), imagino que Hofmann tenha tomado uma quantidade considerável de ácido, especialmente entre os anos 30 e 60. E isso, aparentemente, não causou efeitos negativos na vida do químico, que morreu no último dia 29 com inacreditáveis 102 anos! Essa história me fez lembrar de Compay Segundo, um dos principais músicos cubanos redescobertos por Ry Cooder para o filme Buena Vista Social Clube, de Win Wenders. Compay Segundo viveu até que os 95 anos, dos quais 90 passou fumando charutos (isso mesmo, o cara começou aos 5 anos de idade, acendendo charutos para a avó).


São casos como estes que me trazem um novo vigor e um brilho emocionado nos olhos, fazendo com que eu continue a ter esperança no futuro da humanidade.

segunda-feira, maio 05, 2008

Bi

Parecia um filme que eu já tinha visto. O jogo começa com um gol do Botafogo - na verdade, um verdadeiro frango do goleirão Bruno, que vinha se achando o último biscoito do pacote depois que fez um gol de falta contra o Coronel à Bolognesa. Este gol entrou pra história como o primeiro de falta marcado por um goleiro do Flamengo, e foi realmente lindo, no melhor estilo Zico, quando o goleiro adversário nem tira os pés do chão (confiram aqui). Ontem, infelizmente, Bruno deu uma vacilada que poderia ter comprometido a vitória rubro-negra, assim como o gol perdido do Ibson. Mas a coisa mudaria de figuria.



Início do segundo tempo, Flamengo perdendo de um a zero, e o técnico Joel Santana resolve colocar Tardelli e Obina, os salvadores do Megão. Obina empata o jogo e Tardelli vira, da mesma forma como fez há três meses na final da Taça Guanabara, contra o mesmo Botafogo. E pra colocar a cereja no bolo, Tardelli leva a bola até a área adversária e passa para Obina fechar o placar: Mengão três a um contra o Botafogo, consagrado bicampeão carioca e, agora, com o mesmo número de títulos do Fluminense. Caso vença o carioca no ano que vem, o Flamengo irá para o penta-tricampeonato carioca e será recordista isolado, com 31 títulos estaduais.



Penso que agora, de alma lavada, um dos nossos mais ilustres torcedores pode esquecer do embaraço sofrido durante os últimos dias e gritar a plenos pulmões: