terça-feira, julho 31, 2007

No menu musical de hoje...




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...The Strokes, com Reptilia

Leia antes de apertar o play: Nunca gostei daquilo que, no rock, chamam de “indie”. Mas gosto da banda The Strokes, e tem gente que fala que o som deles é indie. Problema deles. Pra mim, o som do grupo do filho de John Casablancas, dono da Elite Models, que conta com o brasileiro Fabrício nas baquetas, é um rock seco e cru, que não considero tão distante de outras bandas que são rotuladas como grunge ou punk ou outra sub-divisão qualquer, entre as tantas que existem no bom e velho roquenrol.


Reptilia é minha música favorita do Strokes. É a segunda faixa do segundo disco deles, Room of Fire. E o que mais gosto nela é exatamente o arranjo: como trata-se de um rock bem cru, feito com duas guitarras, baixo, batera e voz, a solução encontrada pelos caras para sofisticar o arranjo é alternar a presença dos instrumentos que são tocados. O resultado são trechos com guitarra sem baixo e bateria, trecho com baixo e bateria sem guitarras, trechos com voz, guitarra e bateria sem baixo, enfim, toda sorte de combinações possíveis, como iremos conferir agora. Aperte o play e vamos nessa!

* * *


(a música começa com bateria e baixo, aquele baixo bem simples, uma só nota martelada com palheta mesmo. Depois, entram as duas guitarras distorcidas, uma fazendo os acordes da base, junto com o baixo, e a outra uma frase melódica dessas que grudam em nossos ouvidos. Quando o vocal entra, saem o baixo e a guitarra base e ficam a bateria e o tal riff melódico)


He seemed impressed by the way you came in
"Tell us a story
I know you're not boring"


(volta o baixo, cimentando o chão da base)


I was afraid that you would not insist.
"You sound so sleepy
just take this, now leave me"


(e agora volta a guitarra base, rasgando tudo. O vocal distorcido ajuda a aumentar a sujeira)

I said please don't slow me down
If I'm going too fast
You're in a strange part of our town...


(melhor pedaço da música: todos param de tocar e ouve-se só uma guitarra, fazendo uma bela frase com acordes arrastados pra cima e pra baixo. Aí, entra um desenho melódico no baixo, acompanhando o riff da guitarra, e o bumbo fazendo a marcação e preparando a volta dos outros instrumentos)


Yeah, the night's not over
You're not trying hard enough,
Our lives are changing lanes
You ran me off the road,
The wait is over
I'm now taking over,
You're no longer laughing
I'm not drowning fast enough.


(solo de guitarra, daqueles bem rock n’roll tosco, com escalinhas repetidas mil vezes. Findo o solo, saem agora as duas guitarras, ficando somente a cozinha – baixo e batera)


Now every time that I look at myself
"I thought I told you
this world is not for you"


(e, novamente, a banda toda quebrando tudo)


The room is on fire as she's fixing her hair
"you sound so angry
just calm down, you found me"


I said please don't slow me down
If I'm going too fast
You're in a strange part of our town...


(fala sério, não é o melhor trecho da música? Depois de conhecer, a gente passa a ouvir a música só esperando por esse momento)


Yeah, the night's not over
You're not trying hard enough,
Our lives are changing lanes
You ran me off the road,
The wait is over
I'm now taking over,
You're no longer laughing
I'm not drowning fast enough.



Gostou do som? Então aproveita e veja aqui o clipe da música, que é todo feito de closes nos instrumentos dos caras, ou seja, praticamente a descrição que eu fiz, só que com imagens ao invés de palavras.

segunda-feira, julho 30, 2007

Um brinde democrático



Domingo frio e inóspito pros cariocas, perfeito prum estrogonofe "indoor".


E pra você que está vendo esse brinde democrático, proponho um jogo:


quem bebe o quê na foto?



(1) dida..............................................( ) uísque
(2) zucca............................................( ) cerva
(3) davos............................................( ) caipirinha
(4) bonita...........................................( ) vinho
(5) ledas.............................................( ) vinho
(6) eu..................................................( ) vinho



Resposta certa amanhã, nas intervenções.

quinta-feira, julho 26, 2007

Notas sobre o PAN

Minha bonita tem ido a alguns jogos do PAN e me informou que os estádios estão ficando vazios, mesmo nos casos em que os ingressos para venda já estão esgotados. O Comitê responsável, CO-Rio, explicou n’O Globo de hoje que, do total de 1,7 milhão de ingressos disponíveis, cerca de 300 mil foram doados para União, Governo do Estado e Prefeitura. Acho que, mesmo através do monitor, vocês conseguiram sentir o cheiro de merda que paira no ar.


Problemas na numeração dos ingressos já motivaram uma ação na justiça contra o Comitê, e a Promotoria de Defesa do Consumidor já pensa em entrar com outra ação pra investigar o que para eles pode ser um indício, mas para mim é uma certeza: existem mais falcatruas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.


Pelo menos, fico feliz em saber que ganhamos a medalha de ouro no futebol feminino, metendo 5 gols nas ianques. Certa vez, aqui mesmo no blog, um amigo estadunidense disse que o futebol era um esporte de meninas. E, de alguma forma, parece que ele tinha razão: o futebol também é um esporte de meninas, mas de meninas brazucas.


Com essa vitória, passamos Cuba e estamos em segundo lugar no ranking de medalhas do PAN. Mas sei que voltaremos ao posto de terceiro lugar. Temos vocação pra terceiro. É só ver que nenhum país, nem mesmo os EUA, tem mais medalhas de bronze que o nosso. Em matéria de ser terceiro, somos os primeiros.


E pensem bem: pelo menos nos esportes de equipes, ser terceiro é muito melhor do que ser segundo. Ser terceiro significa que você perdeu a penúltima partida, não foi pra final, mas não se deixou abalar e venceu o último jogo, garantindo o bronze. Ser prata em esportes de equipe significa que você fez uma brilhante campanha e perdeu o último jogo, ou seja, como se diz no futebol, nadou, nadou e morreu na praia. Nada mais frustrante.


Foi exatamente o que aconteceu com as meninas de prata do vôlei e com as meninas de prata do basquete. Esses resultados levaram um conhecido meu, natural da Turquia, a afirmar que “a mulher brasileira sempre entrega o ouro no final”. Mas Marta e suas colegas de seleção podem, agora, dizer que este jovem imigrante de bigode estava errado.

terça-feira, julho 24, 2007

Fugere Urbem

Foi no próprio dia do amigo que viajei com três deles (Lelo, Digas e Ligita, além da minha bonita e sua indefectível Pantera) pro Sana, que é distrito de Macaé mas se chega mesmo por Casimiro de Abreu. Terra do reggae, dos hippies e dos bolinhos de aipim, o Sana é o local perfeito pra quem quer fugir da grande cidade e experimentar um convívio mais próximo com a natureza, como vocês poderão acompanhar nas fotos abaixo:








Pela manhã, um café com frutas colhidas no próprio pé
(na foto, um exemplar da espécie homo sapiens sapiens garantindo seu desjejum).







Depois, um refrescante banho de cachoeira.






À tarde, um passeio de charrete, na companhia de insetos exóticos.








À noite, um jantar saudável à base de alimentos orgânicos,
preparados num rústico fogão à lenha.









E pra acompanhar, um bom vinho.









O Sana é isso. Amigos, natureza, paz e muita saúde!




sexta-feira, julho 20, 2007

No dia do amigo, uma bela notícia




Hoje é dia do amigo e, por este motivo, pensei em usar este espaço pra prestar uma homenagem aos malandros que dividem comigo a foto acima. Evidentemente, há outros camaradas que também merecem atitudes deste tipo (entre eles Andrada, Iuri, Pakkatto, Tchello, Johnny e, obviamente, meu gande parceiro Davos). Porém, Lelo, Ledas e Digas são amizades que remontam à pré-história, pessoas com quem tenho contato quase diário e um convívio mais que fraterno. Um exemplo: embora esta foto já tenha uns meses, estive ainda ontem na companhia deste mesmo trio.


Então, como eu dizia, pensei em saudar os amigos mas percebi que, devido a um fato importantíssimo ocorrido hoje, vi que teria que dividir esta homenagem com outra, esta dedicada a todo o povo brasileiro:






Parabéns, Brasil, por ter se livrado de um dos seus maiores pilantras!





Adeus, ACM!!!

quinta-feira, julho 19, 2007

No menu musical de hoje...




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...Dire Straits, com Sultans of Swing

para Ledas


Leia antes de apertar o play: além de guitarrista e violonista, sou também fanático por arranjos musicais. Assim, estréio esta série onde farei alguns comentários sobre os arranjos de músicas que aprecio. Quem também é músico vai aproveitar bastante, porém buscarei usar uma linguagem que não deixe de fora quem gosta de som mas não toca nada. O upload de músicas ainda é novidade pra mim, então é legal saber de vocês se o troço está funcionando como deveria.




Sultans of Swing é, incontestavelmente, uma das músicas que mais me aprazem ouvir. Sou suspeito por ser guitarrista, mas mesmo quem não é fica impressionado com a sonoridade das frases que Mark Knopfler tira da sua guitarra, um timbre muito característico também pelo fato dele dispensar a palheta e tocar com os dedos.

Sultans está no primeiro disco do grupo, homônimo, de 1978 (ano em que nasci), e na coletânia Money For Nothing. A letra é muito boa, descreve o clima de um barzinho onde grupos de músicos tocam jazz (mais especificamente, “dixieland” e “creole”).


Logo no início, ouviremos a primeira frase da guitarra de Knopfler, e depois entra a voz do próprio – não é um grande cantor mas, pro que se propõe, resolve. Além do quê, sua guitarra de sonoridade ímpar irá costurar toda a letra com um sem-número de frases melódicas improvisadas.



A música está em acorde menor, e a mão direita do batera Pick Whiters (tive que pesquisar esse nome, confesso) está nos pratos de contratempo. Aperte o play e vamos ao arranjo:



* * *


You get a shiver in the dark
It's raining in the park but meantime
South of the river you stop and you hold everything

(agora a música vai prum acorde maior e o batera vai pro prato de condução, o que dá um brilho especial ao trecho)


A band is blowing Dixie double four time (pan, pan, pa-paran-pan)
You feel alright when you hear that music ring


(volta pro acorde menor e o batera volta pro contratempo)

You step inside but you don't see too many faces
Coming in out of the rain to hear the jazz go down


(mesmo esquema: acorde maior, baterista na condução. isso acontecerá sempre durante a música)


Too much competition too many other places
But not too many horns can make that sound
Way on downsouth way on downsouth London town


(refrão instrumental, delicioso)



You check out Guitar George he knows all the chords
Mind he's strictly rhythm he doesn't want to make it cry or sing
And an old guitar is all he can afford
When he gets up under the lights to play his thing



And Harry doesn't mind if he doesn't make the scene
(aqui um acorde bem roquenrol)

He's got a daytime job he's doing alright
He can play honky tonk just like anything
Saving it up for Friday night
With the Sultans with the Sultan of Swing


(refrão de novo, muito bom)



And a crowd of young boys they're fooling around in the corner
Drunk and dressed in their best brown baggies and their platform soles
They don't give a damn about any trumpet playing band
It ain't what they call rock and roll
And the Sultans played Creole (creole)



(agora, depois do refrão, vem o primeiro solo, que é o primeiro orgasmo dos guitarristas e apreciadores. Se fosse pra usar uma metáfora visual, diria que o som é cristalino; se escolhesse uma metáfora tátil, diria que é aveludado. Mas na linguagem corriqueira do dia-a-dia, me limito a dizer que é foda).



And then the man he steps right up to the microphone
And says at last just as the time bell rings
(vejam a habilidade do batera neste detalhe!)



'Thank you good night now it's time to go home'
And he make it fast with one more thing
'We are the Sultans, we are the Sultans of Swing'





E, finalmente, o último solo, o gozo final. É aí que Knopfler mostra sua técnica de tocar guitarra com os dedos, alternando entre indicador e polegar para produzir frases rápidas e, ao mesmo tempo, muito definidas. O êxtase da canção é no finalzinho do solo, quando ele toca a frase mais característica da música, aquela que todo guitarrista quer aprender – e que só fica perfeita daquele jeito se tocada com os dedos. O batera também aproveita e vai pro prato de condução, pra dar aquele brilho especial. Regozijo total. Depois, fade-out, fim da música, hora de acender aquele cigarrinho...




segunda-feira, julho 16, 2007

Chocolate

contribuição do camarada Lelo


Se eu dissesse que o Brasil esculachou a Argentina, que deu um sacode, um chocolate, provavelmente me acusariam de não estar sendo imparcial. Então, vamos à manchete do próprio Clarín sobre o jogo de ontem:




Una derrota cruel: Brasil fue más en todos los aspectos


La ilusión del título quedó hecha añicos. Más allá de hechos que fueron determinantes, el equipo de Dunga ganó en lo técnico, en lo psicológico y en el azar, que siempre pesa.







Azar, né? Suponho que nossos hermanos devem ter quebrado uma casa de espelhos, porque 24 anos sem ganhar... êita azar da porra!

sexta-feira, julho 13, 2007

Atocha!

Hoje é o dia mundial do rock. Apropriadamente, neste ano caiu numa sexta-feira 13.

Ah sim, também é o dia de abertura dos jogos Pan-Americanos, aqui na Cidade Maravilha Mutante. Mas, tirando o fato de que, pra muita gente, essa sexta virou feriado (eu mesmo só trabalharei até às 13hs), o carioca não parece estar muito animado com o tal de PAN.


Ontem à noite, passei de carro pela praia de Ipanema e, totalmente por acaso, tive a oportunidade de ver a tocha olímpica passar. Quase ninguém, além dos moradores locais, foi à praia saudar a dita cuja. À noite, no jornal da Globo, mostraram a passagem da tocha com closes bem fechados, para que não desse pra perceber que pouquíssima gente fez questão de presenciar o singelo evento.


Hoje de manhã, a promessa de trânsito caótico não se concretizou – e olha que moro próximo ao Maraca! O único congestionamento que vi foi em direção à ponte Rio-Niterói, principal rota para a região dos Lagos. De fato, a abertura do PAN parece significar, para o carioca, simplesmente a possibilidade de um fim-de-semana prolongado em Búzios, Cabo Frio ou outro balneário do gênero.


Da minha parte, ainda que pouco afeito a esportes, pretendo dar minha módica contribuição torcendo para a pequena Daiane dos Santos, com suas piruetas que desafiam a lei da gravidade. E, é claro, não poderia deixar de manifestar meu apoio a Beatriz e Branca, duas atletas tijucanas (quase minhas vizinhas, portanto) que irão representar o Brasil no nado sincronizado. É promessa de espetáculo – e não só pelo nado, como vocês podem conferir na foto das gêmeas abaixo.










Bom PANdemônio pra você! E, pros nossos atletas, deixo aqui o meu honesto conselho:



ATOCHA NELES ! ! !

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quarta-feira, julho 11, 2007

Manchete

Manchete que eu gostaria de ter visto na capa de algum tablóide carioca na segunda passada:




"Argentina pega o Peru e dá de quatro"




sexta-feira, julho 06, 2007

O primeiro disco de rock

Tinha eu oito anos em 1986. Meu pai já havia se separado da minha mãe, e morava sozinho na zona sul do Rio. Tinha um Puma conversível igual ao da foto ao lado, um carro que, nos anos 80, em termos de playboyzice, só perdia pro Miúra vermelho com néon no pára-choque. E sexta sim, sexta não, ele me pegava na casa da minha mãe pra passarmos o fim de semana juntos. Geralmente, íamos direto jantar numa churrascaria ou então passávamos no Caneco 70, onde ele bebia chope com os amigos enquanto eu comia batatas fritas com Coca-Cola, pra depois irmos pro tal apê de solteiro dele.


O cara morava num dois quartos em Botafogo. Num quarto, dormia ele. No outro, dormia sua guitarra (que me foi dada de presente mais tarde e que tenho até hoje), seu amplificador, uma pequena estante com livros de aviação e uma bateria, que me proporcionou muitos momentos de empolgação – não compartilhados pelos vizinhos dele.


Vai daí que, numa dessas noites, depois de voltarmos do Caneco, chegamos em casa e ele me conta que havia comprado um disco. E diz que eu poderia ouvir, só que baixinho, pois já passava de meia noite e era um disco de rock. Ele foi então dormir e eu fiquei lá, estirado no carpete, bem perto da vitrola e com os ouvidos grudados naquelas grandes caixas de som. E, depois da marcação forte dos ton-tons e surdos da bateria e dos primeiros acordes diminutos das guitarras distorcidas, vem aquela voz mórbida, como num mantra satanista, cantando:


Cabeça dinossauro, cabeça dinossauro, cabeça, cabeça, cabeça dinossauro!


O que era aquilo? Que tipo de som minimalista era aquele que tanto me intrigava?


Pança de matute, pança de matute, pança, pança, pança de matute!


É sempre bom lembrar que a capa de um disco de vinil é algo muito mais impactante do que a de um CD. E eu olhava praquela enorme cabeça dinossauro (na verdade um esboço de Da Vinci intitulado A expressão de um homem urrando), imaginava a “pança de mamute” e o “espírito de porco” da criatura, e aquilo já era o prenúncio que anunciava qual seria o tom e o clima da bolacha que eu ouvia com extrema curiosidade.




O disco Cabeça Dinossauro é o terceiro dos Titãs. Antes disso, os caras ainda faziam uma linha meio new wave, em músicas como Sonífera Ilha e Televisão. Com o Cabeça, enveredaram pelo lado mais cru do rock n’roll, influenciado pelo punk de poucos acordes e muita intensidade nas letras. E, de fato, as músicas do disco, cujos títulos são quase todos de uma ou duas palavras, disparam versos contra as instituições e o sistema capitalista de forma geral, o que se percebe em Igreja, Polícia, Família, Estado Violência, Tô Cansado, Dívidas, AA UU, A Face do Destruidor e Homem Primata.


Uma das músicas que mais assustou aquele garoto de oito anos de família católica, que foi batizado mas que não faria catecismo ou primeira comunhão, foi Igreja. Como é que os caras tinham coragem de dizer versos hereges como aqueles?


Eu não gosto de padre Eu não gosto de madre Eu não gosto de frei. Eu não gosto de bispo Eu não gosto de Cristo Eu não digo amém. Eu não monto presépio Eu não gosto do vigário Nem da missa das seis, não!

Eu não gosto do terço Eu não gosto do berço De Jesus de Belém. Eu não gosto do papa Eu não creio na graça Do milagre de Deus. Eu não gosto da igreja Eu não entro na igreja Não tenho religião.



Mas a música que acabou mais se popularizando, até por conta da proibição de radiodifusão, foi Bichos Escrotos, uma ode às baratas, ratos e pulgas, na qual os caras mandavam oncinha pintada, zebrinha listrada e coelhinho peludo irem se foder.



Finalizando, não poderia esquecer de O Quê, música que defino como a grande viagem de heroína de Arnaldo Antunes. Até hoje, a heroína é dificílima de se encontrar abaixo da linha do Equador mas, em 1985, Arnaldo e o guitarra Tony Belloto já haviam sido presos por porte da droga. E, no ano seguinte, os Titãs fechariam sua grande obra-prima com a seguinte letra:



O que não é o que não pode ser que
Não é o que não pode ser que não é
O que não pode ser que não é o que não
Pode ser que não é!
Que não é o que não pode ser
Que não é o que não pode ser
Que não é o que não pode ser
Que não é!







Hoje não gosto mais do Titãs (aliás, desde o Acústico), mas ainda considero Cabeça Dinossauro o melhor disco daquela geração BRock dos anos 80.





E o primeiro disco (de rock ou não) que te marcou, lembra qual foi?

terça-feira, julho 03, 2007

Sobre a "mercadorização" da vida moderna

Quando comecei a estudar sociologia, há relativamente pouco tempo – em 2003, pra ser exato –, o primeiro livro que caiu em minhas mãos (emprestado por Diana, uma de minhas amigas mais próximas) foi A Grande Transformação, de Karl Polanyi. E as teorias contidas no livro, a respeito da grande transformação que ocorreu na sociedade moderna do século XIX pra cá, também causaram uma grande transformação no meu modo de ver as coisas, pois que despertaram meu interesse neste fantástico (não achei adjetivo melhor) processo de preponderância dos valores econômicos sobre tudo mais que existe. Ou, pra ter mais a ver com o que pretendo dizer, da possibilidade de quantificação valorativa de tudo que existe.


O advento da sociedade de mercado abstrai as particularidades de todas as coisas, conferindo-lhes valores monetários – para Marx, o tal “valor de troca”. E Polanyi mostra como esta orientação mercadológica da sociedade burguesa, a primeira civilização a se basear em fundamentos econômicos, parte de um tripé fundamental, que é a quantificação valorativa do trabalho, da terra e da própria moeda, o dinheiro. Segundo ele, "a ampliação do mecanismo de mercado aos componentes da indústria - trabalho, terra e dinheiro - foi a conseqüência inevitável da introdução do sistema fabril numa sociedade comercial". Mas vejam o real significado destas três coisas para Polanyi:


"Trabalho é apenas um outro nome para a atividade humana que acompanha a própria vida que, por sua vez, não é produzida para a venda. Terra é apenas outro nome para a natureza, que não é produzida pelo homem. Finalmente, o dinheiro é apenas um símbolo do poder de compra e, como regra, ele não é produzido mas adquire vida através do mecanismo dos bancos e das finanças estatais".


Logo, Terra, Trabalho e Dinheiro não foram produzidos como mercadorias, mas apenas tratadas como se o fossem – e por isso, chamadas pelo autor de mercadorias fictícias (ou aparentes). E é esta transformação, ocorrida a partir da organização da economia através do mercado, que gera uma condição de subordinação dos homens ao capital e, consequentemente, um tipo alienado de sociabilidade, já que o nexo social entre os indivíduos, mediado pelo valor, exprime-se como uma “relação entre coisas” (nos termos do velho Marx).


Este é o tripé básico da “mercadorização” da vida moderna; todavia, conforme fui percebendo com o tempo, estamos tão mergulhados nesta realidade que não seria exagero afirmar que toda e qualquer coisa pode ser reduzida à lógica econômica. Até mesmo a própria vida, como vemos nos experimentos genéticos e na especulação do valor sobre remédios e tratamentos médicos, e também no ar que respiramos, como ocorre quando se estabelecem vendas de cotas de poluição para países mega-industrializados como nossos vizinhos ianques (um dos diversos assuntos levantados no excelente documentário canadense The Corporation).




E, é claro, não seria diferente com a cultura. As manifestações culturais e artísticas, as danças, rituais, os trabalhos artesanais, a subjetividade do homem como um todo, enfim, tudo pode ser economicamente mensurado pelo “espírito” capitalista de nossa sociedadezinha pueril. E quando a necessidade, real ou adquirida, de ter la plata no bolso emerge às vistas do homem, essa valoração mercadológica passa a assumir contornos nocivos, passa a se mostrar preponderante, passa a ditar as regras, orientar as práticas e influenciar as criações. Passa a objetivar a subjetividade.


Por isso, não devemos ficar surpresos quando vemos artesãos indígenas adaptando seus “produtos” de forma a “terem utilidade”, além de enfeitar a casa dos turistas compradores. Ou quando observamos que danças populares são formatadas em espetáculos para que as elites possam aplaudir de pé (após terem pago o ingresso, claro).


Sinal dos tempos: quanto mais submersos nesta lógica de mercado, mais difícil torna-se sequer notar o condicionamento econômico do qual até mesmo nossa subjetividade encontra-se refém.




* * *




(até que este seria um bom tema de doutorado... mas, sei lá, acho que vou banir esta idéia e fazer um MBA em marketing, que dá mais dinheiro...)