Para Gigi, que sabe que português bem dizido não se correge
Tá bom, eu sei que a língua é uma coisa viva, em constante metamorfose. Sou um grande simpatizante de neologismos. Tampouco sou um xiita da língua, daqueles estilo MV Brasil que querem que e-mail seja sempre chamado de correio eletrônico – coisa que nunca faço, porque dá muito mais trabalho de falar.
O que eu condeno são adaptações esdrúxulas do informatiquês (neologismo, viram?) para a língua portuguesa. Deletar tudo bem, como evitar? Mas já ouvi gente dizendo linkar, atachar, e o que considero a pior de todas: printar. Porra, malandro, eu imprimo a merda da página, mas não me venha pedir pra printar que me arranha o ouvido, cacete!
Não é mau-humor nem é de graça. Existe uma linha tênue que separa a língua portuguesa do americanismo chulo. E, pra mim, o pior sintoma desse câncer lingüístico repousa no novo tempo verbal que está na boca de toda a população urbana carioca: o futuro do gerúndio.
O nome já é escroto, mas não consigo pensar em nada mais apropriado pra descrever essa nova “mania” verbal – que, aliás, inexiste na língua de Camões. Vejam bem: o futuro simples, aquele presente em construções como “eu irei à festa”, “acordarei às oito”, “viajarei na quinta”, ninguém usa mais. Virou tudo “vou viajar”, “vou acordar”, e até mesmo “eu vou ir à festa”. Tranqüilo, deixa rolar, também não sou nenhum purista, foda-se o nosso futuro (essa frase pode ser interpretada, inclusive, de outra forma). A gente usa o “vou” como auxiliar e pronto, taca o verbo no infinitivo.
Mas aí veio o fatídico e nocivo futuro do gerúndio, e vou lhes contar como tudo aconteceu:
Num belo dia, algum americano inventou uma profissão chamada telemarketing. E é claro que nós a importamos. O problema é que os manuais de teleatendimento e teleseilámaisoquê foram traduzidos, direto do inglês, por algum beduíno sem o menor conhecimento da língua, que abrasileirou o future continuous deles. Deu no que deu: do nada, comecei a receber ligações de bancos, lojas, planos de saúde e companhias telefônicas, e quando pedia pra me ligarem no dia seguinte – estratégia velha, mas que funciona – ouvia do telemarketeiro:
- Tudo bem, sr. Arthur, estarei retornando a ligação amanhã.
Vocês hão de convir que é um nojo. É não, era, porque agora isso se popularizou de tal forma, que não há um único indivíduo que eu conheça que não a utilize nos dias de hoje. Em qualquer empresa, é comum ouvir frases como “vou estar chegando às nove”. Aliás, desafio você, estimado leitor, a assumir aqui, publicamente, que nunca fez uso do gerundês futurístico. Eu mesmo tenho que confessar que já me peguei fazendo-o.
E, por favor, não me interpretem mal: não tenho nada contra telemarketeiros ou contra qualquer indivíduo em particular que se valha desta – a meu ver, nefasta – construção verbal. E digo mais: gosto da linguagem chula, chego a achá-la necessária, nunca corrigiria alguém que diz “os pessoal tudo” ou o velho “a gente vamo” (tadinho do meu corretor de texto, tá ficando maluco com essas citações!). Quero mais é que o professor Pasqualete vá pra puta que o pariu. Mas confesso que me dói ver gente que diz, cheio de pompa, como se estivesse citando Os Lusíadas, “amanhã estarei lhe enviando o documento”.
Se você leu esse texto e não ficou puto com o autor, se concorda minimamente comigo, então junte-se a mim e faça um esforço pra evitar o gerundismo do futuro.
Não é mau-humor nem é de graça. Existe uma linha tênue que separa a língua portuguesa do americanismo chulo. E, pra mim, o pior sintoma desse câncer lingüístico repousa no novo tempo verbal que está na boca de toda a população urbana carioca: o futuro do gerúndio.
O nome já é escroto, mas não consigo pensar em nada mais apropriado pra descrever essa nova “mania” verbal – que, aliás, inexiste na língua de Camões. Vejam bem: o futuro simples, aquele presente em construções como “eu irei à festa”, “acordarei às oito”, “viajarei na quinta”, ninguém usa mais. Virou tudo “vou viajar”, “vou acordar”, e até mesmo “eu vou ir à festa”. Tranqüilo, deixa rolar, também não sou nenhum purista, foda-se o nosso futuro (essa frase pode ser interpretada, inclusive, de outra forma). A gente usa o “vou” como auxiliar e pronto, taca o verbo no infinitivo.
Mas aí veio o fatídico e nocivo futuro do gerúndio, e vou lhes contar como tudo aconteceu:
Num belo dia, algum americano inventou uma profissão chamada telemarketing. E é claro que nós a importamos. O problema é que os manuais de teleatendimento e teleseilámaisoquê foram traduzidos, direto do inglês, por algum beduíno sem o menor conhecimento da língua, que abrasileirou o future continuous deles. Deu no que deu: do nada, comecei a receber ligações de bancos, lojas, planos de saúde e companhias telefônicas, e quando pedia pra me ligarem no dia seguinte – estratégia velha, mas que funciona – ouvia do telemarketeiro:
- Tudo bem, sr. Arthur, estarei retornando a ligação amanhã.
Vocês hão de convir que é um nojo. É não, era, porque agora isso se popularizou de tal forma, que não há um único indivíduo que eu conheça que não a utilize nos dias de hoje. Em qualquer empresa, é comum ouvir frases como “vou estar chegando às nove”. Aliás, desafio você, estimado leitor, a assumir aqui, publicamente, que nunca fez uso do gerundês futurístico. Eu mesmo tenho que confessar que já me peguei fazendo-o.
E, por favor, não me interpretem mal: não tenho nada contra telemarketeiros ou contra qualquer indivíduo em particular que se valha desta – a meu ver, nefasta – construção verbal. E digo mais: gosto da linguagem chula, chego a achá-la necessária, nunca corrigiria alguém que diz “os pessoal tudo” ou o velho “a gente vamo” (tadinho do meu corretor de texto, tá ficando maluco com essas citações!). Quero mais é que o professor Pasqualete vá pra puta que o pariu. Mas confesso que me dói ver gente que diz, cheio de pompa, como se estivesse citando Os Lusíadas, “amanhã estarei lhe enviando o documento”.
Se você leu esse texto e não ficou puto com o autor, se concorda minimamente comigo, então junte-se a mim e faça um esforço pra evitar o gerundismo do futuro.
Entre nessa campanha: pela pureza da língua portuguesa!
14 comentários:
engraçado, trabalhei algum tempo como "telemarketeiro" e tinha notas baixas na monitoria por não usar gerúndios... sempre me corrigindo: Anderson, com edução... vou estar transferindo sua ligação, vou estar registrando sua reclamação... putz!!!
Minha flor, gerundismo é foda, mas tem tanta coisa que me incomoda ainda mais... internetês, por exemplo. Trocar 'porque' por 'pq', beleza, entendo. Agora... 'não' por 'naum' decididamente não se estabelece. Fico louca. Belo post. Adorei a dedicação e a dedicatória! Quando desafogar aqui, comento decentemente. beijinhos.
Meu caro Arthur: deve ser coisa de velho, ou de um simples incorrigível mesmo, como eu. Ou, ainda, e eu prefiro essa versão, coisa de tijucano cascudo. Não entendi assumir publicamente que nunca vali-me de uma merda dessas. Nunca mesmo. Se algum dia, meu velho, lá no RB, ou mesmo noutro canto, tu me flagrar dizendo "estarei pedindo uma cerveja ao Joaquim" ou "estarei indo ao banheiro e estarei, uma vez lá dentro, mijando, em segundos".
É, Arthur, enquanto escrevo uma certeza me assalta: é coisa de velho.
E ninguém mais múmia que eu.
Beijo.
Múmias de todo mundo: uni-vos!
Salve a última flor do láscio!
E nada mais erótico do que homem que sabe por uma crase no lugar certo...
porra, tinha escrito varias paradas interessantes, e 'nao foi possivel processar'. nao vou repetir tudo, apenas a parte em que culpo o léxico da barra da tijuca por esse quadro deprimente.
Concordo, Helga. Uma crase no lugar certo, o acento no lugar certo, uma vírgula bem encaixadinha...
Tive um quase affair com um negão maravilhoso de dois metros de altura, aquela coisa MV Bill, sabe... A coisa mixou antes de começar porque o sujeito me mandou um e-mail com o seguinte: "Gostei muito de te conheçer, espero que não seje a última chance."
Não dá, gente. É mais forte que eu.
Helga,
Genial sua frase. Mas você diria (ou "estaria dizendo") o mesmo do homem que sabe usar o acento circunflexo???
O importante é que haja diálogo - e com travessão, de preferência na frente do sujeito.
Anônimo querido;
Vale pra case, pro cinrcunflexo e -a mais sensual de todas - pra trema.
Ai, uma trema bem colocada...
Senhor Athuros, analisando este blog em que o senhor vive "postando" acabamos via de regra concordando com o que senhor vem dizendo.
Comunicamos também que estaremos sempre lendo as belas "postagens" deste sítio internético.
Cheers
a verdade é que há diferença entre a transformação natural pela qual toda língua passa e a dominação cultural a qual nosso país está submetido
cara, há algo mais desprezível que as descrições no orkut em inglês?
títulos de fotolog..
nicks no msn..
frases na camisa..
Ó Senhor, nos salve da classe média.
qto ao whisky hehehe
é verdade
superego bom é superego morto
Edu, eu acredito.
Casca, como diz o meu amigo Edu, a Barra é cada vez menos da Tijuca e mais de Miami (ou me deixe!)
M.S., não poderia concordar mais com você. E ainda bem que não sou mesmo um purista: fosse eu do MV Brasil, por exemplo, ia pedir pra você escrever "uísque".
Gigi, naum vem falar mal do internetês pq eu axu q eh mt legal tc assim, blz?
:)
Pakkos, estarei sempre postando novas viagens para que você possa estar comentando.
Anderson, viu só o que eu disse? Gerundismo, no mundo do teleatendimento, é considerado cortês!
E Helga, espero não ser excessivamente eloqüente, nem quero parecer antiqüíssimo usando alguns adjetivos, mas sua presença grandiloqüente é sempre bem-vinda e, assim sendo, espero que suas visitas se tornem cada vez mais freqüentes.
Caramba Arthur...
Sinistro...
Não tinha me dado conta da origem desses neologismos. Tudo bem que eu não falo assim, mas nunca repareoi tanto, até porque evito ao máximo os telemarketeiros... Desligo na cara deles mesmo!!
Mas agora que vc me apontou para a origem desse neologismo gerundista, a próxima vez que um operador de telemarketing me mandar essa eu vou explicar pra ele o porque ele fala assim, vou esculachar e mandar ele voltar pra escola!
Abraço camarada!
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