quarta-feira, março 28, 2007

A incrível, triste e verdadeira história da prisão de Lyra e as agruras de um homem no cárcere privado de sua primavera madura

Parte final




(para entender a história é necessário ler os capítulos anteriores, que se encontram aqui e aqui).





Terça-feira à noite, dia 20 de março. Dia de eliminação do Big Brother Brasil. Dois bandidos, enclausurados em uma pequena casa de alvenaria na zona oeste do Rio de Janeiro, abrem as primeiras latinhas de cerveja dos dois engradados que haviam pedido por telefone ao bar mais próximo, para acompanhar o emocionante paredão. O laptop, conectado à internet, já se encontra na página da Globo.com para que pudessem votar repetidas vezes em quem desejavam eliminar do jogo.



Havia, no entanto um fator de desarmonia na pequena casa: Gilson, rapaz novo e magro, votava compulsivamente para a saída de Cowboy, enquanto Wellington, um negão de um metro e noventa por dois de largura, torcia pra que a DJ Analy fosse a eliminada. Os motivos de cada um eram até convergentes: ambos acreditavam que o Cowboy era um filho-da-puta, motivo que fazia com que Gilson desejasse a sua saída e Wellington, a sua permanência – “pra ver o circo pegar fogo”, como bem gostava de dizer.



A população do Brasil, entretanto, estava com Gilson, e foi impiedosa no seu veredicto: com 85% dos votos, Pedro Bial anunciou, sem esconder sua satisfação: “Rala, Cowboy!”. Gilson não se cabia de tanta alegria, enquanto Wellington, cheio de cerva na idéia, grunhia puto da vida, até que resolveu descontar sua frustração no corpo do jovem franzino que mantinham preso no fétido quartinho dos fundos.



Mas o frio coração dos vilões foi tomado por um sobressalto quando lá chegaram: o quarto encontrava-se vazio. Nosso astuto herói, Diogo Lyra, fundador e faxineiro do Fundo de Quintal Literário, havia conseguido fugir do cárcere, encoberto pelo alto volume da TV. Os bandidos não puderam explicar porque é que os cachorros dormiam pesadamente ao invés de vigiar os arredores da casa, e bateram cabeça tentando achar nosso esquivo herói nas imediações – sem sucesso. E assim transcorreu-se a noite.





No dia seguinte, a notícia de que Diogo Lyra estava solto já era postada no FQL, enquanto a polícia prendia Paulito no mesmo local onde Diogo havia sido seqüestrado. Não foi difícil, através de Paulito, chegar ao advogado Olavo Lebre Cabrito, que também foi preso. Para terminar de desbaratar a quadrilha, a polícia também deteve Son Soh, Lao Chi Chi e Gil Evans, que, temerosos em serem deportados, explicaram todo o plano aos policiais.



Ficou claro que o trio imigrante é que tinha maior interesse no sumiço de Lyra, pois que desejavam apoderar-se do Fundo de Quintal Literário e, corrompendo seus milhares de leitores, dominar o mundo. Para ajudar na execução de tal plano maligno, veio a calhar uma carta que receberam, na redação do FQL, recheada de ameaças de morte endereçadas a Diogo Lyra, carta esta cujo remetente se dizia um antigo colega de classe do nosso herói (Lyra, um gozador nos seus tempos de moleque, havia destruído a imagem e reputação do colega ao afirmar que este nutria tendências homossexuais, algo inadmissível para aquela conservadora turma de adolescentes estudantes de Irajá. Este amigo, como o sagaz leitor já deve ter concluído, atendia pela singela alcunha de Paulito).



Assim, o trio iletrado aproveitou-se da situação para utilizar a ajuda não só de Paulito, mas também do insatisfeito advogado Olavo Lebre Cabrito, e assim arquitetaram um diabólico plano, contando ainda com a ajuda de dois bandidos de alta periculosidade da zona oeste – Gilson e Wellington, assassinos, estupradores e fãs de carteirinha do Big Brother.


E acabaram, na mesma cela, Son Soh, Lao Chi Chi, Gil Evans, Gilson, Wellington e Paulito. Olavo Lebre Carneiro, que era de fato advogado, teve direito a cela especial.


E mesmo depois de semanas, Carneiro ainda podia ouvir os gemidos de Paulito, vindos do fundo do corredor da prisão ao cair da noite. É que uma coisa Gilson e Wellington tinham em comum: reincidentes na prisão, há muito tempo que ambos eram chegados numa carne fresca...





Epílogo



Mesmo com todo o caso resolvido, uma dúvida pairou na cabeça dos bandidos: como é que Diogo, com toda a falta de direção que lhe é inerente, conseguiu escapar de um barraco na zona oeste e chegar até o centro do Rio de Janeiro?



O que os vilões não contavam é que Arthur Coelho Bezerra, este autor que lhes escreve agora, na qualidade de amigo de primeira grandeza do fundador e faxineiro do FQL, havia descoberto todo o plano dos imigrantes – o fiz utilizando meus conhecimentos de inglês para ouvir uma conversa de Gil Evans ao telefone, na porta de um bar na Lapa.



Ciente do diabólico plano, e já com o endereço do cativeiro, parti para a zona oeste pilotando a Pantera – a superpoderosa Parati 1997 movida a gás da minha bonita. Lá chegando, tratei de ir ao bar mais próximo, expliquei a situação para o seu Gervásio (dono do estabelecimento, muito simpático e solícito, por sinal) e me disfarcei de entregador, para confirmar a história.



Depois de entregar cerveja aos criminosos, deixei um pedaço de carne com sonífero para os ferozes cães e acenei discretamente para meu grande amigo, que podia me ver através de uma pequena janela nos fundos da casa.


Quando Lyra conseguiu escapar, passando entre os adormecidos caninos, eu já o aguardava com a Pantera ligada na esquina da rua, e foi assim que voltamos felizes para o coração da cidade maravilhosa, ouvindo uma coletânea da bela Julie London no CD do carro.





fim.

11 comentários:

Diogo Lyra disse...

Arthur, meu grande amigo, não sei nem o que dizer. Ou melhor, sei sim: superaste todas as expectativas!!! O texto, as fotos e as subreferências são impagáveis!!!
É por essas e outras que eu sempre digo: "não basta ser amigo, tem que participar".
NOTA 10.

obs: não era o primeiro disco da Julie London que estava tocando?!

Joana disse...

e não é que estamos diante de um super héroi...
mas vamos combinar meu caro Arthur que não foi difícil enganar bandidos fãs do Big Brother, ne?? não desmerecendo seu vitorioso plano....
na espera dos próximos textos...
um cheiro...

4rthur disse...

Zizas, primeiro disco da Julie London? Vc acha que eu ia dar esse mole?

Diogo Lyra disse...

Desculpe querida Joana, mas confesso que quase comprometi a fuga por conta do BBB7...
(dá-lhe Alemão!)

Madame S. disse...

heheheh
que bonitinho

quem dera o Rio de Janeiro fosse solo fértil para essas quixotadas...

a propósito, adorei o post do seu amigo, muito bom mesmo.

beijão

Samantha Abreu disse...

meu Deus....!
até fiquei com medo dessa coisa de internet agora!

bem que meu pai fala: "filha, vc não sabe com que tipo de gente tá lidando!"
taí!

quem diria!
rsrsrsrss

Fantásticos!

Anônimo disse...

Que imaginação fértil Arthur!
Adorei!
;)

Cascarravias disse...

quando eu falo, quase ninguém acredita; mas eu acho sim que vcs ainda têm salvação. uma temporada lá no spa de Holly Cross facilitaria muito o retorno da sanidade.

gigi disse...

Nossa, quanto perigo correu o honorável Sr. Lyra!

blah disse...

Putz, que história doida...

Fala sério, vcs inventaram essa porra toda, né? rsrsrs

Abraços

Juju disse...

caralho, vc´s estão sempre se superando...rsrs bbb7, putz..rsrsrss