quinta-feira, maio 17, 2007

Uma chopada "gummy"

Na terça passada fui à chopada do meu curso de graduação, que concluí no fim de 2002. Atravessei a poça por dois motivos: 1) Teria a chance de rever ilustres e saudosos amigos, com os quais tenho tido pouco (ou nenhum) contato; 2) A cerveja seria gratuita e minha entrada, enquanto veterano, idem.

Antes que eu comece a destilar os motivos da minha frustração, é necessário contextualizar o incauto leitor: o curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense não passa dos 12 anos de existência, e recebe, semestralmente, algo em torno de 30 ou 40 calouros. Quando eu entrei na Universidade, no segundo semestre de 1998, o curso recebia 20 inscritos por semestre, e devia ter, no total, cerca de 100 alunos. Mesmo com o grande crescimento auferido no passar de uma década, julgo ainda tratar-se de uma chopada de dimensões até certo ponto humildes, principalmente se comparada com as mega-produções (hoje terceirizadas) das chopadas de cursos como Engenharia e Medicina.


Talvez para os calouros e muitos veteranos que compareceram a este evento, a chopada tenha sido divertida. Pra mim, veterano de tempo imemoriais, foi uma merda. De longe, a pior de todas as chopadas da ProCult que já fui. E vamos aos porquês.


1. A música: estava muito, mas muito ruim. Aquele dance/house de academia, sabe? Pra você ter uma idéia, os melhores momentos sonoros foram flashbacks dos anos 90, tipo Depech Mode, EMF, Deee Lite e coisas do gênero. Imagina só: "Enjoy the silence" sendo o melhor momento de uma festa jovem de 2007! Lembro quando as chopadas tinham Bob Pai e Tchello nas carrapetas, com muita música brasileira e diversidade sonora. Até som ao vivo já teve, jam sessions com calouros subindo pra cantar e tudo! O som dessa edição foi lamentável, e pelo visto o mais contente com o som era o próprio DJ, que dançava tal qual um Go-Go Boy em happy hour no Centro.


2. A cerveja: embora gelada, era liberada em doses homeopáticas. Ocorria basicamente assim: você se acotovela entre os corpos suados de várias pessoas, enche um copo com cerveja, sai e bebe. Quando volta pro refil, só tem gummy (pra quem não conhece, uma bebida feita da infeliz mistura de cachaça com sucos em pó no estilo Ki-suco – pra quem é desse tempo – ou Fresh). Aí você espera uns dez, quinze minutos, e volta a sofrer por mais um copo. Ou seja: pra quem não curte as tais bebidas coloridas tiradas de grandes garrafas pet, a média de dosagem alcoólica era de quatro a cinco copos de plástico de cerveja por hora. Triste pros mais afoitos como eu, que costumam entornar de quatro a cinco vezes essa quantidade no mesmo espaço de tempo.


3. Os jovens: este ponto até passaria despercebido, não fosse a completa ausência de veteranos no local. Houve exceções, é claro, dentre elas saudosos amigos de curso e esquadrilha como Johnny, Raphael, Luisinho e o trio de meninas superpoderosas Gi, Isa e Ju (sem dúvida, os melhores partidos da festa). Todavia, a grande maioria resolveu (sabiamente, reconheço agora) não dar a cara à tapa na chopada. Até porque, sem o apoio de outras lendas históricas, veteranos jurássicos como eu ficam se sentido, como diria o amigo Edu, verdadeiras múmias embalsamadas perto da garotada que era, no mínimo, três copas do mundo mais nova. Pra se ter uma idéia, a certa altura ouvi um jovem mancebo mandar a seguinte pérola dentro do banheiro:


- Peitooooo! Hoje eu quero tocar num peitoooo!!!


Realmente, essa foi a cereja do bolo. Senti-me numa high school americana, só que sem os atiradores revoltados.


4. Os seguranças: os dois ogros postados no umbral da porta de entrada (uso o adjetivo "ogro" pela atitude de brutos, e não pelo tamanho, já que nem eram tão grandes assim) disseram ter sido contratados pela galera organizadora da chopada, que deve ter entrado no curso lá pros idos de 2004, 2005. E como explicar pra esse povo que eu era de 2/98, formado em 2/2002, se eles nunca me viram? Mencionei o nome de professores e funcionários, quase tive que contar historinhas do meu tempo de faculdade, pra finalmente entrar, e ainda ouvindo a seguinte gracinha de um dos brutos: "assim é muito fácil, né?". E pior: como o cigarrinho da confraternização estava terminantemente proibido dentro do local, tinha um pessoal veterano que entrava e saía do estabelecimento - até por uma questão de respeito, se é que vocês me entendem. E os ogros barrando a galera na porta! Diziam pra mim: "ah, tu não vai sair de novo não, tu já entrou e saiu umas cinco vezes!" Ou seja: o cara me reconhecia, sabia que eu era veterano, sabia que veterano entra de graça a qualquer hora, e ainda assim queria impedir meu direito (e o de outros), legalmente constituído pela própria comissão organizadora, de ir e vir.



Enfim, quero deixar claro que não estou culpando a organização do evento - aliás, minha intenção não é, nem de longe, apontar culpados por isso ou aquilo. Só estou usando do meu direito de emitir opinião, desde já antevendo as críticas daqueles que nem conheço. O caso da mochila do camarada só vem piorar as coisas. De maneira que, se nas futuras edições da festa não houver uma adesão em massa da galera da lista da ex-procult, temo ter encerrado (de maneira pífia, infelizmente) minha participação em um evento que já não tem nada a ver comigo e com aqueles que frequentaram o curso de produção cultural e (aqui fico meio melodramático e saudosista, se me permitem) vislumbravam contribuir para a produção de eventos e produtos culturais de qualidade e em consonância com a cultura brasileira, e não fazer do principal evento de socialização e recepção dos novos alunos do curso uma grande festa gummy, com bebida gummy, seguranças gummy e música gummy.

31 comentários:

Diogo Lyra disse...

Malditos jovens, sempre eles..
Sinto saudades dos velhos tempos - e olha que eram tempos de faculdade de direito, o que diz tudo - em que as chopadas se resumiam ao som de boa música e cerveja de garrafa a rodo.
Maldito Gummy, sempre ele...

Cascarravias disse...

ah não arthur. tu sofreu algum aborrecimento antes, durante ou depois disso? bem feito!

Anônimo disse...

Bem feito, vc quebrou duas das minhas regras mais básicas de diversão:
1. toda festa q serve gummy liberado é uma espécie de micareta, e toda espécie de micareta é cheia de playboys fortes e sem camisa, q se abraçam (ou se dão mata-leão, sei lá) o tempo todo e sabem as coreografias das músicas: ou seja, mantenha-se longe!;
2- pra um carioca de verdade, não há diversão possível em Niterói: a angústia de se encontrar em outro município, sob uma jurisdição completamente diferente, e sem estar viajando (e, logo, ter um hotel ou pousada ou camping pra cair)é forte demais. E depois de ter percorrido tantas léguas pra chegar lá, vc tem q passar pelo menos o mesmo tempo q levou para ir e voltar, ou seja, umas três horas. Só em Jacarepaguá sinto mal-estar tão grande quanto em Niterói (e em Santa Teresa tb, afinal não tenho carro...)

Ou seja, vc sabia muito bem o q te esperava. Se não sabia, meus pêsames, deu mole ...

Anônimo disse...

esse cara aí em cima com certeza nunca ouviu falar dos dados quantitativos e qualitativos referentes ao número e qualidade das mulheres niteroienses. Se tivesse ouvido, garanto que atravessaria três pontes pra ver garotas de 17, 18 aninhos perdendo a linha no gummy.

Luiz Antonio Simas disse...

Arthur, tua aventura me faz achar cada vez mais prudente a exortação do grande Nelson Rodrigues, o profeta, ao meninos :
- Envelheçam!
Seu texto me fez lembrar do que senti quando me despedi das chopadas, após uma situação parecida com a sua, ciente de que era melhor me embalsamar de vez em barris de carvalho.
Abraço.

Diogo Lyra disse...

Ah niteroiense, sai pra lá com essa conversa fiada porra! A análise criticada por você é absolutamente perfeita, sobretudo a parte "a angústia de se encontrar em outro município, sob uma jurisdição completamente diferente, e sem estar viajando".
Eu, carioca que sou, tenho uma teoria ainda mais dura: da ponte rio-niterói pra cima é tudo paraíba.

Anônimo disse...

mas que lá tem uma bela vista do Rio, isso tem... perfeito pra empinar uma pipa!

Anônimo disse...

"Conversa fiada" é papo de quem realmente ignora o padrão de qualidade niteroiense.

Carioca, é cafifa, porra!

Anônimo disse...

Não, caro niteroiense, me referia a soltar outro tipo de "pipa", viajando na paisagem do Rio...

Anônimo disse...

Bom mesmo é Itaquecetuba.

Anônimo disse...

Bom mesmo é gummy e, com um pouco de sorte, um peitinho.

Diogo Lyra disse...

Niteroiense, não fique bravo, mas não existe nada mais niteroiense que "cafifa"...
Além do mais, quando estou com o coração repleto de esperança, vejo Niterói como um grande bairro do Rio, uma espécie de Ilha do Governador com mais auto-estima...

Anônimo disse...

Mesmo tendo sido dito em uma pesquisa da década de 20 que o IDH de Niterói era melhor que o da Suécia, continuo achando a "escandinávia Brasileira" um subúrbio do Rio... isso mesmo, uma Ilha do Governador com mais auto-estima... e sem Linha Vermelha (os mais antigos lembram da merda q era chegar lá só pela Av. Brasil, engarrafadona... era uma espécie de Ponte Rio-Niterói, mas sem pedágio, o q faz os ilhenses terme menos auto-estima mas não serem otários, de pagar pra vir ao centro, quer dizer, ao Rio).

Ah, niteroiense, é bom saber q aí tá cheio de meninas de 17 anos, pq aqui no Rio não tem nenhuma ...

Vivi disse...

Ah, que caixa de mensagens divertida! Eu só consegui ir a uma calourada quando fazia graduação, e os calouros do meu curso têm se mostrado mais desinteressantes a cada semestre. Sobre o flash back anos 80-90, isso tá virando mania nas festas mesmo e eu até assumo meu lado brega e curto isso. Mas apesar de eu gostar do clipe dessa música, eu digo que se "enjoy the silence" era o ponto alto da festa, realmente você não exagerou...rs Abraço!

Cascarravias disse...

pq em niterói tem tanto show de bandas cover?

Anônimo disse...

mas arthur, que parte de niterói vc mais gosta? icaraí ou são gonçalo?

blah disse...

Pou bruno,

não concordo não. Já tive bons momentos em niterói. Só concordo com as festas a gummy serem micaretas, mantenha-se longe!!! Isso é...

Arthur, playboizada desse tipo sempre teve, e a nossa geração tem seus representantes também... É que a gente sempre andou com uma galera mais cabeça... Mas a galera cabeça, que curte mpb, nessa geração tá meio dispersa...

Ora, gosto musical à parte, às vezes eu prefiro mesmo é o underground, andar com os punks e com todos aqueles esquisitões cheios de tatuagens e piercings... Muitas vezes é ali que vc vai encontrar vida inteligente...

Samantha Abreu disse...

Ai Ai Ai!
essa mulecada de hoje me pinica a cara...
saudade, melancolia.
Putz Grila!

(se bem que no meu tempo, meu pai devia dizer o mesmo que tô dizendo agora!)
é a vida....

gigi disse...

Cara, esse Bruno é um grande gênio. Ele escreveu exatamente o que eu queria falar. Enfim... vc perde meu comentário e Bruno ganha meu elogio.

Anônimo disse...

dado o recado!!
cheiroooo...

Anônimo disse...

vá a niterói e ganhe uma multa!

Anônimo disse...

vá ao Rio e ganhe uma rajada!

Vivi disse...

Aff, ainda tem gente que se deixa levar por estereótipos ("muitas vezes é ali que você vai encontrar vida inteligente")! Ow, "revolution", a pessoa pode ser leitora de Foucault e ir a uma micareta mexer o esqueleto ao som do Olodum, uai...Depois vai achar ruim a "playboyzada" dizer por aí que intelectual não pega ninguém e mulher cult é mal comida! hehehe Ter um cérebro durinho é bom, mas não vamos, por isso, perder o rebolado né! hehe

Cascarravias disse...

mas foucault e micareta tem tudo a ver. é a liberdade do corpo e da mente, a possibilidade de se soltar de amarras e microestruturas de dominação cotidiana, como por exemplo a dignidade e o senso do ridículo

Vivi disse...

Aff, Foucault é isso?! hahaha Vou pegar da minha estante e queimar agora "A ordem do discurso", "As palavas e as coisas" e a "Arqueologia do saber", vai ver eu entendi tudo errado, e olha que deu um trabalhão, fiz o maior esforço...Quem sabe assim eu recupere a dignidade e o senso do ridículo, que perdi na última micareta! hahahahaha

Vivi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cascarravias disse...

foucault é uma espécie de Los Hemanos

Cascarravias disse...

e não queima não, nos sebos dá pra trocar na base de dois pra um. se o 4rthur te passar o "modernidade reflexiva" (uma obra foucaultiana feita depois de sua morte), dá pra trocar por dois livros!

o Vigiar e Punir me agrada.

Anônimo disse...

Mas o Foucault tem barba de menos...

Nana disse...

Compartilho com você a preocupação com o futuro dessa juventude...
Depois de ter desistido de três outros cursos superiores, entrei pra jornalismo na Uerj. Achei que teria coleguinhas de turma bem maluquinhos, diferentes dos da veterinária em Viçosa, todos uns nerds.
Me enganei. Acho que era só minha turma, mas as pessoas não bebiam (nem gummy) e não fumavam (nem cigarro)!
A situação uma vez chegou ao cúmulo de irmos fazer um amigo oculto num butiquim em frente à universidade e, no final, só restarem latas de coca-cola vazias em cima da mesa. Meu deus, onde é que esse mundo vai parar?

Unknown disse...

depois de ler o seu texto com um, devo admitir certo delay, não posso deixar de comentar, em primeiro lugar que ainda bem não fui nessa chopada porque não quis e ponto. a ultima em que fui, 01/2006 já tinha se anunciado p mim e alguns veteranos que conheço que era aúltima em que iríamos.não chegou aos limites dessa postada por ti, mas já predizia o que vinha por ai bem de perto, gritando ao pé do ouvido. Tenho que reconhecer que não sou tao veteranossaura assim, embora minha alma diga que sim (rs), sendo de 02/2002, me incluo no grupo de veteranos que ainda luta p se formar e pena p frequentar, mesmo que raramente, o iacs nos dias de hj. Se nem o Iacs cheira ao que um dia foi, era de se esperar que a chopada "tão pouco famosa", (o que era uma de suas virtudes), da produção cultural terminasse. é, porque p mim, a chopada terminou.