segunda-feira, junho 11, 2007

Sobre desenhos animados


Os desenhos animados norte-americanos sempre foram uma arena perfeita para a representação de alguns estereótipos difundidos naquelas terras. Tome-se o caso do Pepe Le Pew: personagem criado em 1930, trata-se de um gambá francês que passa todo o desenho perseguindo uma gatinha (Penelope Pussycat) que, por causa de uma tinta branca em seu dorso, assemelha-se a uma possível companheira de Pepe. A gatinha, é claro, foge apavoradamente do francês, que possui um cheiro insuportável – característica típica dos franceses, conforme mostra o desenho.



Outro caso típico é o de Ligeirinho (ou Speedy Gonzales), um rato mexicano veloz e ensaboado que vive fugindo às garras do gato – tal como os mexicanos vivem fugindo dos agentes de imigração estadunidenses, conforme nos faz crer o desenho.


Até mesmo os brasileiros já foram esteriotipados pelas ágeis canetas dos desenhistas norte-americanos, através do malandrão e ocioso Zé Carioca. Isso sem falar das menções a sexo e drogas, como na homessexualidade de Betty Boo e da dupla Batman e Robin, na transexualidade de Pernalonga (sempre vestido de mulher), na larica interminável que ataca os maconheiros Scooby Doo e Salsicha, nos cogumelos alucinógenos que fazem Gargamel ver smurfs na floresta e diversos outros exemplos. Muitos desses desenhos, hoje, são considerados politicamente incorretos, e alguns até deixaram de ser transmitidos pelos canais especializados – como pode-se conferir aqui.


Mas há um exemplo de manipulação maior, muito maior, que é simplesmente uma representação da guerra fria – sob a ótica norte-americana, claro – no famoso desenho Thundercats, dos anos 80. Vejam como é precisa a representação à qual me refiro:


Lion, defensor do bem, que com sua espada possui visão além do alcance, ostenta as cores da bandeira americana – o azul e o branco na roupa, e o vermelho nos seus cabelos de fogo. Já Mun-ra, símbolo máximo dos antigos espíritos do mal, é uma múmia que veste uma capa vermelha, a cor dos comunistas comedores de criancinhas.


Entretanto, a batalha entre as forças do bem e do mal não ocorre na terra de Lion e tampouco na de Mun-ra, mas em um planetinha chamado – vejam que descaramento! – Terceiro Mundo (Coréia? Vietnam?).



Agora reparem o profundo ideologismo da trama: os verdadeiros habitantes do Terceiro Mundo são os Roberbills, ursinhos frágeis e simpáticos que, impotentes quanto à investida de Mun-ra, Escamoso, Chacal e outras figuras repugnantes, precisam da ajuda dos sagazes Lion, Panthron, Cheetara, Tygra, até mesmo de Wilikat e Wilikit, para que possam desfrutar da paz capitalista em seu terceiro mundinho.



É tão, mas tão ideológico, que faz os politicamente incorretos charutos na boca do Patolino parecerem brincadeira de criança.

14 comentários:

Vivi disse...

Puxa, lembrei até da voz de Mun-ra! Os vilões dos desenhos eram muito mais divertidos e interessantes.Mas quanto ao caráter ideológico, nossa, isso dá pano pra manga...E desde pequenos querem nos fazer crer que o mais forte (até literalmente, olha os músculos do Lion!) vai nos proteger do mal, que é representado por algo mortífero (múmia, monstro, esqueleto); E essa associação de beleza e feiúra com o bem e o mal parece ser algo absorvido, de fato, pelas crianças.

Cascarravias disse...

pra ficar mais estereotipado, só faltou Mum-ra fumar.

mas a propósito, a representação de nós, macaquitos terceiro mundistas só fica falha na alimentação; eu acho q insossa comida do hemisfério norte muito mais próxima da tal fruta pão dos roberbills e roberbellas...

Anônimo disse...

Arthur, I have to disagree with some of the things you have written here.
First, 1930's America emulated all things French. At the time we considered them the best at everything. Actually, Americans have traditionally loved the French since our very inception and ironically we still do. Pepe Le Pew symbolized one of those "super romantic" ego-maniacs women often encounter at a bar. Afterall it was the French who invented modern romance and love...
Second, Speedy Gonzales symbolized the little guy triumphing over the big brute. Popeye is another example of this. Nowadays latinos and especially Mexicans living in the USA view any iconic characters symbolizing their culture to be of a shameful lower class. The "Yo quiero Taco Bell" dog was another recent example. It's a sign of very little cultural pride to take offense with a chihuahua. There have been no Irish sailors complaining about Popeye though. Political correctness only hides these problems and has now become one of the greatest racist ideologies in human history.
I missed out on the Thundercats. They were 10 years after me but their psychological impact upon the minds of children was far more simplistic than what you have written. They and many other animinated "hero" arch-types reinforce the fallible myth of absolute good vs. absolute evil.
Later in life these kids grow up still believing this bullshit. They often become police officers and soldiers. For them, the USA is ALWAYS seen as absolute good and anyone or anything who opposes us can only be absolute evil. This is the root cause for much of the manipulation and why it's easy to commit genocide all over the world.
By the age of 21 or so most people grow out of this pathetic view of reality and discover IRONY, yet a substantial portion of the american population does not. This is another reason why so many Hollywood movies have the same theme. The producers know they have a large idiot audience out there who will pay lots of money seeing absolute good vs. absolute evil. Anything else would confuse and bore them.
"....duh? Who is the good guy and who is the bad guy? This isn't as good as Spiderman!"

dän disse...

vc ja deve estar cansado de ler isso mas eu vou dizer mesmo assim... seu blog é TUDO DE BOM. eu adorei! será q posso te linkar? super beijo e obrigada pela visita.

Cascarravias disse...

ah não, para. quer dizer que o chicaninho estereotipado e o frances fedorento sao elogios?

alem de nao saberem fazer humor nao sabem entender classificações pejorativas

Unknown disse...

Eu sempre tive a impressão q o cérebro dos Thundercats era o Snarf, e por isso fiquei um tanto sentido pelo esquecimento dele no texto.

Comentário ranzinza e polêmico: tá bom, tá bom, os americanos são majoritariamente uns escrotos, e Thundercats nem era um desenho tão maneiro assim (mas eu me amarrava, tinha até um boneco do Panthro - nessa época, os mais populares do colégio eram aqueles que chegavam a ter um Thundertanque em seu quarto!), mas será q esses malditos ianques não tem o direito de fazer, pra suas criancinhas verem, um desenho q diga respeito às preocupações deles no momento (ou seja, Guerra-Frio, perigo comunista, imigração mexicana e todas essas coisas)? Sei lá, em vez de ficarmos putos, poderíamos pensar q tudo bem, eles são ricos, poderosos e malvados, mas ao mesmo tempo isso dá tanto trabalho e gera tanta nóia pra todos lá, q ser periférico pode acabar sendo uma vantagem.

E antes q alguém fale, sei q pras pessoas q passam fome aqui a questão é outra... mas acho q não é o caso de nenhum de nós... e não é tb por causa do olho de Thundera q isso acontece. Enfim, quem nunca brincou de Thundercats, e foi feliz fazendo isso, q atire a primeira pedra.

gigi disse...

postei lá. tu tá encabeçando a lista.

Cascarravias disse...

bruno, pode até gerar nóia.
mas eles tem metralhadoras, telas de plasma e hamburgers o suficiente pra se proteger...

Diogo Lyra disse...

E o menage a trois expresso na relação Olívia, Popeye e Brutus?!

Unknown disse...

Então Casca, é por isso q eu digo, baseado em preceitos metafóricos da sabedoria milenar oriental: "Nossa maior vingança contra os ianques, é eles serem quem são."

E tenho dito!

Vanessa Ornella disse...

Putz grila, Robin! Eu acho que nunca estarei sóbria ou paciente o bastante pra ler o anônimo americano.

Quero ver Shrek 3. Vamos?

blah disse...

Sobre esse assunto de pregações ideológicas em desenhos supostamente "inocentes" sugiro um livro que li recentemente:

Para Ler o Pato Donald - Cultura de Massa e Colonialismo.
(Ariel Dorfman e outro que esqueci o nome) - Chile 1972

Vale a pena.

Anônimo disse...

Tem rock 2 ou 3. Em que o grande lutador americano acaba com um russo gigante e que usa muita tecnologia para treinar e no fim leva uma porrada do americano, um "gancho de direita".

DesCrente disse...

Tá ta bom, ianques são malvadões e os terceiro-mundista são pobres inocente indefesos?

Agora nós tamo num país onde negros matam mais negros mas sempre q se noticiam é sobre genocídio contra negros como se fosse feito por brancos malvadões as elites mundiais, blá blá blá.

Criticam o maniqueísmo americano mas são maniqueístas contra eles.

E ainda tem comentários nonsense sobre comidas de clima temperado de países de primeiro mundo.
Ufanismo barato! Que adianta ter supostamente comida "melhor" e viver num país tenso como esse aqui?