A chamada “escalada da violência” nas grandes cidades, explorada sem piedade pelos grandes veículos de comunicação de tendência duvidosa, produz um efeito de bola de neve que faz com que muitos “cidadãos de bem” tenham os batimentos cardíacos acelerados com o simples estouro de um estalinho na rua.
Penso que a sensação da violência – e não a violência per se – seja uma das principais responsáveis pelo sentimento de apreensão que acompanha muitos de nós. Ontem, por exemplo, vi um garoto, com aspecto de morador de rua, iniciar uma briga no Arco-íris, bar da Lapa, porque o garçom havia encostado nele ao pedir que saísse do estabelecimento. Alguns amigos que chegaram depois ouviram meu relato do ocorrido, que envolveu voadoras, mata-leões e garrafas quebradas – tudo verídico.
Aqueles que me ouviram não viveram a violência por mim descrita – mas tiveram a sensação da violência bem próxima. E muitos dos freqüentadores que estavam no local provavelmente contaram a mesma história para outras pessoas, que também experimentaram semelhante sensação. O mesmo ocorre quando alguém é assaltado: embora somente uma pessoa viva a violência de fato, diversas outras pessoas ouvirão o relato e dirão: “porra, o Rio está cada vez mais violento!”. O que pode não ser uma verdade de fato – o aumento dos índices de criminalidade – transmuta-se em uma sensação de aumento da violência, uma vez que a divulgação desse tipo de informação promove correlato tipo de sensação.
E agora, em tempos de internet, existe uma modalidade nova desse tipo de “terrorismo”: são e-mails que, com a intenção de prevenir os “cidadãos de bem” (pois que muitos são supostamente assinados pela polícia, alguns com o título de “utilidade pública”), produzem o efeito de aterrorizar as pessoas. É de deixar neurótico qualquer um que leve o negócio a sério. Vamos então a alguns exemplos, retirados dessa modalidade de e-mails a qual me refiro:
Penso que a sensação da violência – e não a violência per se – seja uma das principais responsáveis pelo sentimento de apreensão que acompanha muitos de nós. Ontem, por exemplo, vi um garoto, com aspecto de morador de rua, iniciar uma briga no Arco-íris, bar da Lapa, porque o garçom havia encostado nele ao pedir que saísse do estabelecimento. Alguns amigos que chegaram depois ouviram meu relato do ocorrido, que envolveu voadoras, mata-leões e garrafas quebradas – tudo verídico.
Aqueles que me ouviram não viveram a violência por mim descrita – mas tiveram a sensação da violência bem próxima. E muitos dos freqüentadores que estavam no local provavelmente contaram a mesma história para outras pessoas, que também experimentaram semelhante sensação. O mesmo ocorre quando alguém é assaltado: embora somente uma pessoa viva a violência de fato, diversas outras pessoas ouvirão o relato e dirão: “porra, o Rio está cada vez mais violento!”. O que pode não ser uma verdade de fato – o aumento dos índices de criminalidade – transmuta-se em uma sensação de aumento da violência, uma vez que a divulgação desse tipo de informação promove correlato tipo de sensação.
E agora, em tempos de internet, existe uma modalidade nova desse tipo de “terrorismo”: são e-mails que, com a intenção de prevenir os “cidadãos de bem” (pois que muitos são supostamente assinados pela polícia, alguns com o título de “utilidade pública”), produzem o efeito de aterrorizar as pessoas. É de deixar neurótico qualquer um que leve o negócio a sério. Vamos então a alguns exemplos, retirados dessa modalidade de e-mails a qual me refiro:
“Você e seus amigos estão num bar, batendo papo, tomando uma cervejinha e se divertindo. De repente, chega um individuo e pergunta de quem é o carro tal, com placa tal, estacionado na rua tal, solicitando que o proprietário dê um pulinho lá fora para manobrar o carro, que está dificultando a saída de outro carro. Você, bastante solícito, vai e, ao chegar até o seu carro, anunciam o assalto e levam seu carro e seus pertences. E ainda terá sorte se não levar um tiro...”
Essa, então, é clássica:
“Comunidades do Orkut e sites pessoais estão repletos de gente que afirma ter tido seu rim roubado depois de ser dopado na balada. A vítima geralmente sai para se divertir com os amigos e não presta atenção à sua bebida. O interessado no rim joga algo dentro do copo, leva a vítima sedada para casa, arranca seu rim e deixa o atacado dentro de uma banheira com gelo até a cintura. Quando acorda, o jovem, de ressaca, lê no espelho de seu banheiro: “Corra para o hospital. Roubamos seu rim e você pode morrer de hemorragia”. O rim acaba indo para grupos de contrabando de órgãos internacionais e a vítima passa o resto da vida fazendo hemodiálise”.
As mulheres, nesses casos, são as que mais se fodem, vejam só:
“Quando as mulheres vão a toaletes, banheiros, quartos de hotel, vestiários de mudar de roupa, academias, etc., quantas podem estar certas de que o espelho, aparentemente comum, pendurado na parede, é um espelho de verdade ou um espelho de duas direções? (daqueles em que você vê sua imagem refletida, mas alguém pode te ver do outro lado do vidro como os da Casa dos artistas e Big Brother). Tem havido muitos casos de pessoas instalando espelhos de duas direções em locais freqüentados por mulheres, para filmar, fotografar ou simplesmente ficar olhando”.
E as dicas para se safar de um estupro?
“1 - A primeira coisa que eles olham em uma vítima potencial é o penteado. É mais provável que eles ataquem uma mulher com rabo-de-cavalo, coque, trança ou qualquer outro penteado que seja possível puxar mais facilmente. É provável também que ataquem mulheres com cabelos longos. Mulheres com cabelos curtos não são alvos comuns.
2 - A segunda coisa que eles olham é a roupa. Eles vão olhar para mulheres em que a roupa seja fácil de tirar rapidamente. Eles também procuram mulheres falando no celular ou fazendo outras coisas enquanto anda, isto sinaliza que estão desatentas e desarmadas e podem ser facilmente apanhadas.
3 - A hora do dia em que eles mais atacam e estupram mulheres é no começo da manhã, entre as 5:00h e 8:30 horas.
4 - O lugar campeão para apanhar mulheres é o lugar onde ficam os estacionamentos de escritórios. Em segundo lugar, estão os banheiros públicos.
(...) 7 - Disseram que não pegam mulheres que carregam guarda-chuvas ou objetos que possam ser usados como arma a uma certa distância (chaves não os intimidam, porque para ser usadas como arma, a vítima tem que deixá-los chegar muito perto).
(...) 10 - Esteja sempre atenta ao que se passa à sua volta. Caso perceba algum comportamento estranho, não o ignore. Siga seus instintos. Você pode até descobrir que se enganou, ficar meio desnorteada no momento, mas pode ter certeza de que ficaria muito pior se o rapaz realmente atacasse”.
Tirando o caso do rim, típica lenda urbana (que, pelo que li, circula inclusive em países da Europa e nos EUA), não duvido que os outros casos possam ser verdadeiros. Só duvido que, entre o efeito de prevenção e a paranóia generalizada, esse tipo de e-mail produza algum aspecto positivo. Mas é melhor nos acostumarmos, pois vivemos tempos de nóia e a qualquer momento um lunático pode te estuprar, levar seu carro, te abrir pra tomar o seu rim ou simplesmente te espiar enquanto você troca de roupa na academia.
E quanto a você, mulher, é melhor que, para sua própria segurança, corte os cabelos bem curtinhos, ande de guarda-chuva constantemente, chegue atrasadas ao trabalho para não saírem às ruas antes das oito e meia, não vá de carro e nunca mije na rua.
Afinal, é como ensina a sabedoria popular:
“quem tem cu tem medo”.
Cuidado!!!
15 comentários:
É, turos! É exatamente essa a dinâmica da percepção da violência incentivada pela mídia. E é foda porque esse telefone sem fio não tem fim...
Ah, aproveito a oportunidade pra dizer que adorei a resenha dos filmes brasileiros que vc fez na sexta passada: muito melhor que as que encontrei na revista Rio Show (pra variar!)
Beijoca!
Sobre
“quem tem cu tem medo”,
não é por menos que os muito medrosos são chamados de CUzões.
Mas Arthur, nesses tempos de nóia tome muito CUidado com o que escreve...
Eu fiquei com medo dessa buceta gigante e rosa que vc colocou nesse post. Horrível. Apavorante. E ainda bem que cheguei depois da violência, porque meu coração não suporta mais esse tipo de coisa, mesmo sabendo que é muito mais violento ser enxotado – mesmo que delicadamente – de um bar sob os olhares daqueles que têm o prazer de beber seu choppinho e comer sua batatinha depois de um dia de trabalho no ar condicionado.
Pode me zoar à vontade, mas não tinha reparado que era uma buceta. Quando uploadeei a foto ela era bem pequena, só vi a expressão de pânico mesmo.
Cruz credo. Acho que vou ter pesadelos.
eu tenho cú =D
pobres mulheres... vigiadas, estupradas e descabeladas???
bela colocação Arthur!
"Eu tenho medo" - Regina Duarte
ahahahahaa
já vi algumas dessas...
mas o que eu tenho medo mesmo é de acordar numa banheira cheia de gelo, sem meus rins.
Deus me livre!
ahahahahaa
Eu tenho medo de mim...
Ignorar a violência, é a melhor coisa a se fazer.
Medo é uma das maiores doenças psicológicas a que um ser humano pode se submeter.
O medo atrai a violência. Se vc não sentir medo, pode crer que a violência vai chegar mais aos outros do que a vc...
O medo alimenta a violência. Porque as pesoas sentem medo, a violência e os preconceitos crescem.
Dominar o medo não é algo fácil... Precisa-se de certo treino psicológico. Mas também ser destemido não significa ser ingênuo e sair por aí dando mole e acreditando na bondade alheia.
Eu sempre andei sozinho, a pé, em qualquer lugar do Rio, a qualquer hora. E não pretendo mudar esse hábito. Ando 100% ligado, num estado de semi-paranóia, constantemente me esforçando para vencer o medo. Se eu morrer assim, que seja. Nada acontece por acaso.
Eu não acredito em bala perdida. Acredito em bala achada. A probabilidade de uma bala "perdida" cair num indivíduo é tão remota que, repito, nada acontece por acaso.
"E ainda que eu ande pelo vale das sombras,
eu nada temerei, pois Tu estais comigo.
Teu bordão e Teu báculo
São o meu amparo"
Salmos 22 ou 23 versículo 4
Nine Eleven, dois comentários a respéito da sua (ótima) intervenção:
1. "O medo alimenta a violência. Porque as pesoas sentem medo, a violência e os preconceitos crescem."
Fato. Tem um professor do IFCS (Misse) que fala sobre a criminação, que é quando o sujeito já é responsabilizado antes mesmo e fazer alguma coisa (como a polícia e a sociedade fazem com negros e pobres). Luiz Eduardo Soares, no Cabeça de Porco, conta um caso desses, em que uma senhora entra num elevador vazio e, durante o "trajeto", entra um rapaz negro no elevador. Ela olha pra ele com tanto temor, sua em bicas pela certeza de que sofrerá violência que, quando sai do elevador, embora não tenha sofrido nenhuma agressão por parte do tal jovem, sente que viveu momentos de angústia e pavor. E certamente contará pros amigos: hoje eu quase fui assaltada.
2. "Ignorar a violência é a melhor coisa a se fazer."
Aqui eu discordo, como já discordei disso no post Contagem de Corpos (http://absurdosturos.blogspot.com/2007/04/contagem-de-corpos.html).
Acho que a violência tem que ser combatida e não ignorada. Sempre acho que fechar os olhos só traz benefícios de curtíssimo prazo. Sei que não foi exatamente isso que você quis dizer (até porque vai contra os princípios que você costuma demonstrar por aqui), mas não quis deixar passar em branco. O que acho que você quis dizer é que a violência não pode nos reprimir e esvaziar os espaços citadinos de convivência.
Ocupemo-los!
Isso aí bate certinho com o que disse a respeito do rapaz expulso do AI anteontem...
Se Regina Duarte tem medo, seria bastante lógico pensar que ela tem cu; se ela tem cu, ela caga; se ela caga, COMO ELA PODE TER SIDO A NAMORADINHA DO BRASIL DURANTE TANTO TEMPO?!? Where the hell is romance?
E por tocar nesse assunto erógeno que rende, eu adoro essa capa do Tom Zé, sobretudo pelo contexto histórico em que ela foi lançada. O cara, pelo visto, é "acusado". (desculpe a infâmia, mas eu sou ridícula, e gente ridícula é assim mesmo)
as pessoas adoram mitificar tudo.
Por exemplo, o lance do estupro.. Não tenho a estatística em mãos, mas sei que a maioria absoluta dos atos de violência sexual são praticados por conhecidos da vítima (familiares, amigos, etc) e não por estranhos.
Então, o mundo não é um lugar seguro de se viver. Só que é muito pior do que as pessoas imaginam rs
Acho que isso não me torna uma paranóica, mas também não sou das mais relaxadas. hehehehehe
Acho que o medo a ser combatido é o medo irreal, passional e preconceituoso. Mas... Convencer-me a perder o medo de andar sozinha de madrugada, no Rio de Janeiro, no meio de uma rua deserta e escura.. huuunmm? Não.
A mídia vende medo? vende. Há interesses por trás? Há. Muito além dos quais possamos imaginar e definir. Mas olhe com seus próprios olhos. Olhe pra rua, pro vizinho, pros amigos. Não tenho dúvidas de que não haja casos de violência com arma e até morte. Então, é apenas uma conspiração da mídia? A mídia matou meu vizinho? E me assaltou a mão armada? A mídia vai me dar um tiro no meio de uma briga por estar drogada? É ela quem arrancou fora os olhos e as unhas do meu amigo?
Eu tenho da medo da mídia que grita contra as cotas, clama por prisões e faz chacota do presidente eleito em um país democrático. Que não repercute o sofrimento do oprimido.
Eu tenho medo dos colegas de universidade fazendo piadas sobre negros, gays, pobres e nordestinos.
Infelizmente não consigo acreditar muito no pensamento "libertário" de que a humanidade encontrará sua redenção quando perder todos os seus medos. E que a violência seja condicionada pelo medo.
Sei lá, não se pode fechar os olhos pra tanta coisa. Seja afundando-se num temor egoísta e insano, seja encarando o mundo de forma quase religiosa.
Eu tenho medo do que não se questiona... dos resultados que isso gera.
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A propósito, te vejo qualquer dia no arco-íris :)
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