terça-feira, abril 17, 2007

Contagem de corpos

Já escrevi hoje aqui no blog, e o tema é inclusive bem mais palatável do que esse. Mas não pude me furtar de desabafar aqui depois do que acabou de acontecer.


Há alguns minutos, por volta das 15hs, escutei três tiros do escritório onde trabalho, junto ao Consulado Estadunidense. Já está na página virtual do Globo (e os ascensoristas daqui, e por extensão todos no prédio, já sabem): uma tentativa de assalto resultou num assaltante morto e duas pessoas feridas (outro assaltante e o assaltado).


Lembrei-me então que chegara atrasado hoje por causa de um congestionamento causado pela chamada “guerra do tráfico” no Morro da Mineira, localizado em cima do túnel Santa Bárbara. O Globo virtual revela: “pelo menos 14 bandidos, segundo a PM, morreram na favela”.


Até agora, portanto, já contamos 15 mortos.


A esses quinze, podemos somar um empresário de funkeiros morto a tiros no Irajá e seis homens mortos a tiros por policiais na favela do Rebu, em Senador Camará, na madrugada de ontem pra hoje.


Nas minhas contas, 15 + 7 = 22.


A divertida Nair Belo também faleceu, mas de morte natural, então não conta. São, até agora (e que eu saiba, podem haver mais) 22 mortes por armas de fogo em menos de 24 horas – e só na cidade do Rio de Janeiro.


E qual a manchete de capa de hoje do mesmo Globo?


“A maior tragédia das armas”.


Mas eles estão se referindo ao massacre feito por um sul-coreano numa universidade da Virginia. O cara matou 32 pessoas por lá. Mas sei que, se o pessoal daqui se esforçar, sem dúvidas consegue bater esse recorde.


Pronto, era isso. Depois desse breve choque de realidade, podemos voltar à mediocridade de nossas vidas, num lugar onde a vida não vale a pedra portuguesa em que se pisa.



30 comentários:

Anônimo disse...

Pobre Nair Belo...

Diogo Lyra disse...

É foda Turos, o problemas é que as pessoas não estão muito afim de resolver a violência - isto implicaria num rol de reformas tão profundas que, para a grande maioria, é conversa fiada. As pesoas querem, realmente, que a violÊncia seja contida dentro da favela, lugar de onde nunca deveria ter saído. É por isso que, em face de situações tão turbulentas como esta, onde mais de 20 pessoas são mortas em tiroteios, a manchete do Globo.
Estas pesoas só contam para o André Dahmer, protagonista do Rio Bodycount, pois para a imensa maioria estes mortos são "baixas" de guerra.
Mas a guerra está cada vez mais próxima de todos nós e, em algum momento, o circo vai pegar fogo. De verdade...

4rthur disse...

Amigo, a situação me deixou realmente deprimido, e aí parece que é isso que você falou: me deprimiu mais porque chegou bem pertinho, ouvi os tiros, vi a aglomeração daqui da janela. O tiroteio tem mesmo que descer da favela e chegar perto da classe média pra ver se nego se toca e pensa em fazer algo mais efetivo do que abraçar a lagoa ou defender redução da maioridade penal.

Cascarravias disse...

body count is in tha house...

Eduardo Goldenberg disse...

Pô, Arthur, me perdoa o trocadilho que me parece inevitável, mas é um absurdosturos - será que um dia eu consigo voltar a falar absurdo, simples, assim? - você dar publicidade a um troço criminoso como esse site cujo nome não repito. Tem tanta coisa mais séria pra se contar, pra se apontar, pra se mensurar... Francamente. Abração.

Diogo Lyra disse...

Quê isso Edu, o Dahmer manda bem pra caralho e conseguiu chamar a atenção de muita gente pro bang-bang do Rio. A la Michel Moore, o André conseguiu capitalizar um sem número de pessoas que, de outra forma, jamais teriam se dado conta que o termo "violência" se aplica também aos fudidos que, usualmente, vemos sendo carregados da favela direto pro IML.
Revolte-se, mas não perca a ternura camarada!

Cascarravias disse...

no rio de hoje acho que não tem nada mais sério pra se contar, mensurar e mostrar pros outros, que a multidão de cadáveres anônimos contabilizados genericamente - via de regra, ou vitimas de bala perdida, ou 'traficantes em guerra'

Eduardo Goldenberg disse...

A ternura anda de mãos dadas com a Ansiedade, a Compulsão e a Precisão, sempre em volta de mim.

Não acho que tenhamos que expôr pra ninguém - ainda mais com um fétido nome em inglês, imitando um site semelhante usado no Iraque - a conta dos nossos mortos.

Nem acho que tenhamos que fazer disso um objeto de vigilância.

Antes, e ao contrário, vigiar o que causa esse estado putrefato de coisas: os desembargadores e suas capas pretas arrastando o chão de mármore sujo dos Tribunais Estaduais ou mesmo Federais, os políticos de merda que são coniventes com os bandidos (sejam eles de colarinho branco, encardido ou sem colarinho), o sórdido burguês que acha um absurdo um preto-pobre-fodido fumar crack num baile funk mas acha normalíssimo seu filhote fumar maconha e chupar balinha em festa rave.

Não perdi a ternura, repito.

Mas a revolta contra tudo isso, contra a canalha e contra os que, mesmo achando que estão fazendo uma coisa do caralho, como o Dahmer a quem não conheço, jogam contra a cidade, o estado e o país em nome de um bom-mocismo que só nos fode, aumenta.

Anônimo disse...

e fazer um blog chamado "buteco do edu" pra fica de bla-bla-bla dizendo que bar eh da moda e que bar eh pe-sujo eh que eh importante...

vai le os malvados mane!

Cascarravias disse...

'jogam contra a cidade, patati, patata...' que cidade? que estado? joga contra que ESTADO DE COISAS, afinal? pra que defender, camuflar ou omitir os fatos relativos a uma cidade que esmaga a maioria absoluta de seus, hum, 'cidadãos'?
pq fingir condescendencia para com a urbe que é controlada e funciona apenas para os que a tornam esse inferno?

não, meu caro, essa hipocrisia não vai me pegar. denunciar o genocídio é louvável, e tem meu apoio.

Diogo Lyra disse...

Eu entendo seu ponto-de-vista Edu, só não acredito que expor o tema seja maléfico para a cidade. Ao contrário, é justamente esse tipo de visibilidade aparentemente negativa que exerce pressão nas autoridades, incita debates na mídia e, por fim, resulta numa ou outra investigação que vai até o fim. Tenho sérias razões para acreditar que todos os temas por você elencados acima são conexos ao tipo de discussão proposta pelo Dahmer e que, no fim, ambos acreditam na mesma coisa e apenas divergem quanto aos mecanismos práticos.
Ah, e quanto ao nome em inglês (e propositalmente modelado a partir do similar EUA/Iraque), eu creio que intenção foi esta mesmo, ou seja, um recurso de marketing (como usa e abusa o Michael Moore) para despertar a atenção sobre o tema.
Ou não!!!
Abraços meu véio!

obs: o foda é que essas coisas só são boas de discutir numa mesinha de bar, com uma gelada ao lado...

Anônimo disse...

flw e disse cascarravias!

Anônimo disse...

Pobre Nair Belo...

Eduardo Goldenberg disse...

Vou fazer meu último comentário já que, como diria Nelson Rodrigues, a quem imito deslavadamente, jovens têm que envelhecer logo. Faço-o, entretanto, se assim você permitir, Arthur, respondendo um a um. Se não permitir, querido, deleta essa porra toda de minha lavra que nada mudará com relação ao que penso sobre o tema aqui proposto e sobre você.

Começando pelo Neo. Nem deveria responder a um sujeito com esse prenome: neo me lembra uma porrada de coisa ruim, o que, espero, não seja seu caso. Eu não digo que é importante, neo-leitor, apontar o que é pé-sujo e o que é bar-de-merda. Eu digo que essa é uma das coisas às quais me proponho no Buteco. Não satisfeito? Vá na contramão - ainda bem - dos que me lêem, número que só faz aumentar, mas isso não vem ao caso. E não é a isso, apenas, a que me proponho. Seja menos neo, e você vai entender. Marco em cima, sim, os jornalistas, pseudo-jornalistas, neo-jornalistas, que não sabem nada e arrotam sabedoria num jornal não menos merda que o deles. Fosse o tema, como você sugere, tão ruim, e não seriam, hoje, dezenas de blogs, alguns patrocinados por grandes meios de comunicação, falando do assunto.

Diogo: eu, ao contrário de você, e louve-se a discordância inteligente, e não a neo-discussão-agressiva-a-troco-de-nada, não acredito que a exposição de nossas mazelas seja caminho para a solução delas. Mas isso, como você mesmo disse, é assunto pra mesa de bar. Mas eu só piso em buteco, você sabe. Neo-bar não é comigo.

Cascarravia - a ou o, meu Deus? Esses neo-apelidos são foda, vocês hão de me desculpar... Nem sei como responder a você. Quem controla a urbe? Quem a transforma num inferno? A qual hipocrisia você se refere? Confuso demais. Não sei, mesmo, como lhe responder. Evidente que não sou obrigado a fazê-lo, mas eu não perdi - nunca deixei de tê-la - nem a doçura, nem a educação e nem a vontade de debater quase tudo.

Maneco: é verdade. Pobre Nair Belo!

Abração, Arthur, me perdoe o mau jeito.

Cascarravias disse...

neo apelido pra ignorante. voc/~çe não faz idéia da idade desse epíteto.

e só não sabendo mesmo quem controla a urbe, pra achar desnecessário denunciar o massacre.

4rthur disse...

Edu, o Diogo escreveu uma frase que talvez reflita com a maior das perfeições o que penso a respeito dessa questão:

"... os temas por você elencados acima são conexos ao tipo de discussão proposta pelo Dahmer e que, no fim, ambos acreditam na mesma coisa e apenas divergem quanto aos mecanismos práticos".

Diogo é meu Simas, ou seja, um camarada tão próximo de mim (como o Simas de você) que eu poderia concordar e assinar embaixo de(quase) tudo que ele escreve.

É esse o caso agora. Não acho que seja maléfico - pelo contrário, acho que a tal "contagem de corpos" chama a atenção para um problema gravíssimo que ameaça todos os moradores da minha e de outras cidades. Não falar de uma realidade gritante, pra mim, é bem próximo de escamoteá-la, e com isso eu não posso compactuar.

Mas concordo que existem outras coisas melhores para serem contadas. E acho uma pena que o número de mortos seja tão grande que justifique a existência desse site. Preferia que não houvesse motivo pra que o site do Dahmer ou a minha própria postagem existissem. Mas há, meu caro, sabemos que há.

Diogo Lyra disse...

Aí, o mail do iuperj tá dando pau! Me liga e, ô infeliz, envia a porra da minha foto da minha tatoo!!!!
(pode fazer uma cópia pra ti)
Hehe...

Anônimo disse...

Que merda, hein? Sendo um heterossexual masculino, seria melhor que o e-mail estivesse é dando a bunda, concorda?

4rthur disse...

Caros, minha querida amiga Isabel Mansur redigiu uma pertinente avaliação sobre a situação do nosso RJ no que concerne a questão da violência. O texto, de título "O Pânico na zona sul e a lógica da “sensação de segurança”, ou: acorda amor!", encontra-se na página do (também nosso) deputado Marcelo Freixo, cujo link reproduzo abaixo:

http://www.marcelofreixo.pro.br/index.php?option=com_content&task=view&id=149&Itemid=5

Anônimo disse...

4rthur, por que vc não abre uma conta gratuita no Haloscan.com.br pra postagem de comentários no blog. Eu sou super pela democracia, mas vejo que vez por outra tem uns malinhas comentando anonimamente no teu blog que, com as ferramentas do Haloscan, não voltariam a te incomodar. Aliás, não sei se eles te incomodam, mas tem essas agressões desnecessárias aos seus chapas... sei lá. Pensaê. O chato, se vc mudar, é que você perde tudo que já foi comentado até hoje no sistema de comentários do blogger, mas o apego, meu filho, não compensa.

Anônimo disse...

Haloscan.com! Esquece o br. Vai por mim: é mais divertido! :)

Diogo Lyra disse...

Querido Anônimo, o MEU e-mail, como bom e velho heterossexual masculino que sou, só dá pau. O seu eu acredito que deve dar a bunda mesmo...

4rthur disse...

Vanessita querida, agradeço pela sugestão e cavalheiramente declino. É que eu mais me divirto do que me irrito com os anônimos. Muitas vezes são amigos meus que eu reconheço pelo estilo, outras vezes são pessoas que não conheço que também me divertem, e em outras sou eu mesmo!

Não fossem os anônimos e eu não teria uma postagem com o número recorde de 78 comentários, já que o nosso amigo gringo Garrett só comenta aqui como anônimo (e de anônimo não tem, obviamente, porra nenhuma, já que comenta em inglês e, afinal, é uma americano, ora!).
Além do mais, como canta Seca Pacotinho, "eu tenho fé no meu apego".

Mas rola uma saudade de ti. Apareça nesta janelinha mágica mais vezes!

Vanessa Ornella disse...

Ah, saquei. Como anônimo inteligente, o próprio blogueiro pode semear a cizânia em sua casa, a fim de fazer os leitores se comerem (com e sem trocadilhos, por favor!) e comentarem. Pô, eu tenho blog há mais de um ano e nunca tinha pensado nisso... É um excelente laboratório de criação de personagens: você inventa um babaquara qualquer e os outros todos aparecem de graça, cada qual com seu cada qual, e com suas próprias necessidades dramáticas. Genial! :)

Anônimo disse...

"Não fossem os anônimos e eu não teria uma postagem com o número recorde de 78 comentários"

aeh, dexa de seh pelasaco!

Anônimo disse...

The bodycount is presently 752 since february 1st...hey this is excellent stuff. Someone should help this guy out and get him better graphics and much more notoriety. I know you guys are sick of it but the world has got to know. Start crying out for help for god's sake...then I'll stop calling Rio, Baghdad with a Beach.
Hey Neo...you have entered a blog with some first class dickheads. We can be ruthless so be prepared!

Anônimo disse...

Arthur just a few more things...thanx for not saying much about what happened at VT. Apparently this latest psycho-path was a neighbor of mine back in Centreville, Virginia. Small fuckin' world indeed...You have no idea how I hate this shit. Makes for bad tv programming. Just one big bloody and giant distraction to hide the real carnage. 32 dead? Multiply by 2 and it's just another day in Iraq...
Arthur man, you're working in a favela that's 10 times worse than Vidigal but you know how all of those south zoners get all the media attention. Keep cool and never ever ever ever take fuckin' sides. If it becomes too much, then leave for good. Anyone can understand.
You can never get used to it despite what anybody says, especially if you personally know who is doin' the shootin' and who's doin' the dyin'.

Anônimo disse...

Hi, i'm Garrett from Brokeback Montain and i'm so scared...

Anônimo disse...

Ei, jovem Neo, tente superar os abusos sexuais dos tempos de infância...
... senta aqui no colo do tio.

Anônimo disse...

Casca, it was nice seein' Edu chewin' your ass...you've been a little bitch ever since!