Antes de entrar na sala de projeção, eu já sabia que o documentário Cartola, dirigido pelo pernambucano Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, seria emocionante. E, obviamente, não estava enganado. Estão todos lá, em vídeos ou em depoimentos antigos: Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Carlos Cachaça, Nelson Sargento, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Nara Leão, Chico Buarque, Beth Carvalho e vários outros bambas.
Duas curiosidades interessantes: uma, que eu já sabia, é o fato de Cartola (1908-1980) ter sido re-descoberto por Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, enquanto guardava carros em um edifício em Ipanema. Sumido da Mangueira desde 1948, foi somente em 1956 que Cartola, a partir deste encontro com Stanislaw (este um jornalista influente), arrumou um emprego numa repartição pública e voltou ao cenário da música brasileira. O primeiro disco de Cartola sairia somente em 1974, quando o cantor mangueirense já contava 65 anos de vida. É talvez a maior obra-prima do samba, reunindo, numa só bolacha, Disfarça e Chora, O Sol Nascerá, Sim, Alegria, Acontece, Tive Sim, Corra e Olhe o Céu, Amor Proibido e Alvorada.
A outra curiosidade é a resposta de Cartola à pergunta de um repórter: “quem você gostaria que gravasse uma música sua”? (Àquela altura, muita gente já tinha gravado Cartola, especialmente As Rosas não Falam). E o grande Angenor de Oliveira responde mais ou menos assim: “Olha, aquele garoto, o Roberto Carlos, tinha manifestado a vontade de gravar uma música minha. Eu ia ficar muito satisfeito se ele gravasse”.
Mas o rei RC nunca atendeu ao pedido.
O outro filme é uma comédia, dessa feita com personagens esquisitos e perturbados. Confesso que, atualmente, tenho muita dificuldade de rir em comédias. O humor que me apraz não é feito com pastelões americanos, piadas sobre peido ou no estilo global diarista-sob nova direção-casseta e planeta, mas sim com muita acidez, personagens escrotos e situações tendendo para o politicamente incorreto - sem forçação de barra. E é como defino O Cheiro do Ralo, dirigido por Heitor Dhalia e baseado no livro homônimo de Lourenço Mutarelli. O personagem de Selton Mello, Lourenço, é o cara mais escroto que existe, e é aí que está metade da graça do filme.
O filme, basicamente, é sobre um ralo, um olho e uma bunda. Entre essas três opções, fico com a bunda, e com a frase superescrota do Lourenço:
“Eu poderia passar semanas só olhando pra essa bunda. Mas eu não quero casar com essa bunda. Eu quero é comprar ela pra mim”.
Cartola - Música para os Olhos: 13h15 17h 20h45 exceto segunda, terça e quinta
9 comentários:
Putz! Gostei do Ralo pelos mesmos motivos que você: a escrotidão humana dissecada a céu aberto, sem o filtro hipócrita que não suporta ouvir "caralho", mas chupa!, é meu tipo favorito de humor.
E gosto do Odeon pelos mesmos motivos, mas isso somos só eu e a torcida do Flamengo. :)
Também gostei muito do Cheiro do Ralo. Ótima recomendação.
Cartola é o próximo.
Pô, Odeon é sempre uma delícia. Lembro quando trabalhava ao lado e sempre ia de tarde, quando ele ficava bem vazio. Ô, nostalgia...
Não assisti aos filmes - aliás, a última vez em que pisei em um cinema foi para ver o último do Guerra nas Estrelas...
Mas Arhutr, reparei uma coisa: o Cartola termina uns quinze minutos antes de começar o Cheiro do Ralo, NA MESMA SALA.
Hum, me parece que alguém ficou no banheiro por dez minutos e, quando voltou, por sorte, deparou-se com uma nova película e não viu razões para deixar de assisti-la...
... ou não!
Voltando ao assunto propriamente dito, creio que não assistiria os filmes em questão. É que, como diz um amigo meu, "não vejo filmes que não tenham tiro, robô ou monstro"...
esses filmes em um cinema que não seja o Odeon tem o mesmo sentido??? rsrrsrsrs
vontade de conhecer....
um cheiro moço...
parce que o sábio sr. playmobil deixou algumas palavras no FQL. é ver pra crer...
http://www.fundodequintalliterario.blogspot.com/
Vou conferir o cheiro do ralo nessa semana.
Recomendo uma visita ao site do filme, baixei o wallpaper e, creiam, ele é maneiríssimo.
o Odeon é lindo, tem um clima todo peculiar.., na minha unica passada pelo Rio tive a oportunidade de ver uma pré-estréia sobre o Milton Santos. pena não poder ver esses que vc indica, vou tentar na internet, vai que acha.
Ainda não vi "Cartola", a que estou com afã de assisir. E recomendo o "Cheiro do Ralo", que poderia abrir margens a títulos como "O Paladar do Ralo" e "O Tato do Ralo", ou seja, a sentidos que nos fogem enquanto vemos e ouvimos. Também concordo com Turo no que tange ao tipo de humor escroto, mesquinho, todavia, mais humano e identificatório do que os humorísticos insossos e previsíveis que nos assolam avassaladoramente.
Música para os olhos e filme para as narinas, poros e papilas gustativas!
Caralho, Tchello, sensacional:
Cartola - música para os olhos
O Cheiro do Ralo - filme para as narinas
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