Penso que a sensação da violência – e não a violência per se – seja uma das principais responsáveis pelo sentimento de apreensão que acompanha muitos de nós. Ontem, por exemplo, vi um garoto, com aspecto de morador de rua, iniciar uma briga no Arco-íris, bar da Lapa, porque o garçom havia encostado nele ao pedir que saísse do estabelecimento. Alguns amigos que chegaram depois ouviram meu relato do ocorrido, que envolveu voadoras, mata-leões e garrafas quebradas – tudo verídico.
Aqueles que me ouviram não viveram a violência por mim descrita – mas tiveram a sensação da violência bem próxima. E muitos dos freqüentadores que estavam no local provavelmente contaram a mesma história para outras pessoas, que também experimentaram semelhante sensação. O mesmo ocorre quando alguém é assaltado: embora somente uma pessoa viva a violência de fato, diversas outras pessoas ouvirão o relato e dirão: “porra, o Rio está cada vez mais violento!”. O que pode não ser uma verdade de fato – o aumento dos índices de criminalidade – transmuta-se em uma sensação de aumento da violência, uma vez que a divulgação desse tipo de informação promove correlato tipo de sensação.
E agora, em tempos de internet, existe uma modalidade nova desse tipo de “terrorismo”: são e-mails que, com a intenção de prevenir os “cidadãos de bem” (pois que muitos são supostamente assinados pela polícia, alguns com o título de “utilidade pública”), produzem o efeito de aterrorizar as pessoas. É de deixar neurótico qualquer um que leve o negócio a sério. Vamos então a alguns exemplos, retirados dessa modalidade de e-mails a qual me refiro:
“Você e seus amigos estão num bar, batendo papo, tomando uma cervejinha e se divertindo. De repente, chega um individuo e pergunta de quem é o carro tal, com placa tal, estacionado na rua tal, solicitando que o proprietário dê um pulinho lá fora para manobrar o carro, que está dificultando a saída de outro carro. Você, bastante solícito, vai e, ao chegar até o seu carro, anunciam o assalto e levam seu carro e seus pertences. E ainda terá sorte se não levar um tiro...”
Essa, então, é clássica:
“Comunidades do Orkut e sites pessoais estão repletos de gente que afirma ter tido seu rim roubado depois de ser dopado na balada. A vítima geralmente sai para se divertir com os amigos e não presta atenção à sua bebida. O interessado no rim joga algo dentro do copo, leva a vítima sedada para casa, arranca seu rim e deixa o atacado dentro de uma banheira com gelo até a cintura. Quando acorda, o jovem, de ressaca, lê no espelho de seu banheiro: “Corra para o hospital. Roubamos seu rim e você pode morrer de hemorragia”. O rim acaba indo para grupos de contrabando de órgãos internacionais e a vítima passa o resto da vida fazendo hemodiálise”.
As mulheres, nesses casos, são as que mais se fodem, vejam só:
“Quando as mulheres vão a toaletes, banheiros, quartos de hotel, vestiários de mudar de roupa, academias, etc., quantas podem estar certas de que o espelho, aparentemente comum, pendurado na parede, é um espelho de verdade ou um espelho de duas direções? (daqueles em que você vê sua imagem refletida, mas alguém pode te ver do outro lado do vidro como os da Casa dos artistas e Big Brother). Tem havido muitos casos de pessoas instalando espelhos de duas direções em locais freqüentados por mulheres, para filmar, fotografar ou simplesmente ficar olhando”.
E as dicas para se safar de um estupro?
“1 - A primeira coisa que eles olham em uma vítima potencial é o penteado. É mais provável que eles ataquem uma mulher com rabo-de-cavalo, coque, trança ou qualquer outro penteado que seja possível puxar mais facilmente. É provável também que ataquem mulheres com cabelos longos. Mulheres com cabelos curtos não são alvos comuns.
2 - A segunda coisa que eles olham é a roupa. Eles vão olhar para mulheres em que a roupa seja fácil de tirar rapidamente. Eles também procuram mulheres falando no celular ou fazendo outras coisas enquanto anda, isto sinaliza que estão desatentas e desarmadas e podem ser facilmente apanhadas.
3 - A hora do dia em que eles mais atacam e estupram mulheres é no começo da manhã, entre as 5:00h e 8:30 horas.
4 - O lugar campeão para apanhar mulheres é o lugar onde ficam os estacionamentos de escritórios. Em segundo lugar, estão os banheiros públicos.
(...) 7 - Disseram que não pegam mulheres que carregam guarda-chuvas ou objetos que possam ser usados como arma a uma certa distância (chaves não os intimidam, porque para ser usadas como arma, a vítima tem que deixá-los chegar muito perto).
(...) 10 - Esteja sempre atenta ao que se passa à sua volta. Caso perceba algum comportamento estranho, não o ignore. Siga seus instintos. Você pode até descobrir que se enganou, ficar meio desnorteada no momento, mas pode ter certeza de que ficaria muito pior se o rapaz realmente atacasse”.
Tirando o caso do rim, típica lenda urbana (que, pelo que li, circula inclusive em países da Europa e nos EUA), não duvido que os outros casos possam ser verdadeiros. Só duvido que, entre o efeito de prevenção e a paranóia generalizada, esse tipo de e-mail produza algum aspecto positivo. Mas é melhor nos acostumarmos, pois vivemos tempos de nóia e a qualquer momento um lunático pode te estuprar, levar seu carro, te abrir pra tomar o seu rim ou simplesmente te espiar enquanto você troca de roupa na academia.
E quanto a você, mulher, é melhor que, para sua própria segurança, corte os cabelos bem curtinhos, ande de guarda-chuva constantemente, chegue atrasadas ao trabalho para não saírem às ruas antes das oito e meia, não vá de carro e nunca mije na rua.
Afinal, é como ensina a sabedoria popular: