segunda-feira, outubro 01, 2007

Carioca gosta é de evento

O título auto-explicativo fala do riscado que eu entendo, mas talvez possa ser generalizado. Jana, Samantha, Vivi, Paulo e Nana dirão se o mesmo ocorre em Fortaleza, Londrina, BH, Salvador e Brasília. Mas é fato que, no Rio, neguinho curte mesmo é um evento.




Explico o que trouxe essa reflexão à baila: neste sábado, contrariando os amigos que acharam insana a idéia, fui ao cinema sozinho assistir Paranoid Park, do Gus Van Sant, um filme entre os vários que estão em cartaz por ocasião do Festival do Rio. Comprei o ingresso com seis horas (!!!) de antecedência, porque sabia que, na hora, todas as sessões estariam esgotadas. E não deu outra. Deparei-me com uma fila homérica em frente ao Estação Botafogo, cheia de modernos que não queriam perder a oportunidade de participar do evento. Em outros anos, já vi pessoas que assistiram mais de 30 filmes nos quinze dias do festival, e já me deparei com lotação esgotada para um filme marroquino falado em dialeto africano com legendas em francês.



A mesma cena se repete nos demais festivais e grandes eventos que pululam na cidade. O Tim Festival, que já foi Free Jazz na época em que marcas de cigarro podiam patrocinar eventos culturais (pausa para um suspiro de saudade do Hollywood Rock), costuma trazer atrações absolutamente desconhecidas do grande público, e engana-se quem pensa que esses shows ficam vazios. Bruno Levinson, produtor do maior festival de música independente do Rio – o Humaitá Pra Peixe –, já me falou que se fizer o mesmo show, com as mesmas bandas, no mesmo local, só que uma semana depois do evento, não consegue público.



É que o carioca gosta mesmo de evento. Gosta de fazer parte do calendário cultural da cidade. Gosta, como disse Foucault, de ver e ser visto, ainda que isso implique em assistir um filme tosco ou uma banda bizarra – até porque a atração em si é o que parece menos importar. E no final das contas, consome-se qualquer produto cultural de merda porque a chancela do festival/evento garante uma certa legitimação.



A marca é tão importante que se chegou ao absurdo de realizar uma edição do Rock In Rio em Lisboa, com show de Ivete Sangalo. E quando se apagam as luzes, o público corre pra comprar a camiseta onde lê-se: “Rock In Rio: eu fui”. Pois o importante não é apenas participar, mas poder mostrar ao mundo que você esteve lá. E quem seria louco de perder?

20 comentários:

gigi disse...

Carioca gosta mesmo de um evento. O lance é que, pra você, a atração é o show ou o filme, Turos... pra muita gente, o maneiro é o público-alvo. E público-alvo vira alvo fácil. E isso também pode ser bom, né?

bj

Paulo Bono disse...

se aqui em Salvador é assim? putaquepariu! é aqui que acontece uma merdinha chamada festival de verão. e "todo mundo" vai! só dá "gente bonita".
ahhhh. e aqui tb tem um Rock in Rio Café. mas só tem axé e pagode na promoção. tô lhe dizendo, eu tô fudido.

grande abraço, rei arthur.

Madame S. disse...

NOSSA
Vou garantir mais uma comprovação empírica para teu post:
Semana passada ia assistir a um show do montage no ccbb (que se apresentaria alguns dias dps no tim)
Como saí tarde de casa pensei "ah, nunca vou encontrar ingressos por lá" e me mandei pra Lapa.
Não é que, para minha surpresa, no dia seguinte fui informada que tudo estava vazio?

Bianca Feijó disse...

Opaaa, voltei aqui e me deparei com mais um belo texto... e, não é só carioca que gosta de eventos e ser visto viu?!Gaúcho também... rsrs...e muita gente "boa" por aí.
Toda minha infancia tive trauma com este sobrenome, pois era apelidada de "feijão", mas depois de varias sessões terapêuticas estou curada e voltei a usa-lo...rsrs.
Seja bem-vindo sempre!
Beijos!

Jana disse...

Arthur,

Fortaleza gosta é de vento, cabeças de vento e não de evento.

Tirando alguma rara, quando existente, exceção do Ceará Music, alguma banda que se lembre desses lados daqui. Tudo se resume a forró, forró, forró, axé e pagode.

E eu, como não sou fã do rala coxa, quando petite, fui bater perna no Rock in Rio !!! e no Abril pro Rock da vida.

Tinha sido a amiga que tinha topado ir assistir esse filme esquisitão com vc. Falo isso como um fato. Mês passado fui a premiere do festival de curtas do cinema GLS do ceará. Com certeza, uma das maiores putarias que eu já vi na minha vida. E eu já vi muita putaria.

Anônimo disse...

É isso que faz o Rio ser Rio. Vi festival dos proibidões na Pca.
N.sra. da Paz, o FIF no ex-Metro Copa. Easy Rider à meia-noite. Lembro-me das bandas em Mauá. É cultura.

Samantha Abreu disse...

Arthur!
veja bem: aqui em Londrina a coisa é mais embaixo.
Nos "poucos" eventos que temos (tô falando de eventos grandes como o Rock'n Rio, Tim Festival, e tal), a lotação é total. Chega a dar raiva. É plaquinha de "esgotado" quase no mesmo dia da abertura das bilheterias.
Um dos maiores festivais que temos é o FILO (Festival Internacional de Londrina): Teatro, Dança, Espetáculos outros e Música. São mais ou menos 15 dias com programação em quase todos os horários (o dia todo) e, ainda assim, é um sufoco pra ver peças estrangeiras, de renome, etc.

Mas, daí, fica uma dúvida. Não posso dizer que o povo daqui gosta é de "evento" porque não sei até que ponto a culpa é do desespero por apenas 'participar de algo'. Somos muito carentes de investimentos culturais... então, acho que um pouco é pra aproveitar cada míseros centavos investidos. O governador do Paraná não deve nem saber como se faz cultura. É um chulo, grosso, que deve (imagino ele, em casa, comentando isso com a família) achar essa coisa de festivais culturais uma balela: "Vou gastar dinheiro com isso pra quê?".

Coisas pequenas, com patrocinios de empresas, temos bastante. E são de boa qualidade. Peças, Músicas Boas, Cinema é bom... disso não podemos reclamar.
Mas coisa "grande" não temos, não.

Pois é. A gente gosta sim de Eventos, mas não só pra participar. A coisa aqui é tão escassa que qualquer evento é, mesmo, "o mega evento".

Tá convidado!
tudo aqui é simples, mas muito intenso!

beijo!

Ana Priscila Freire disse...

vc é muito inteligente, rs. você me assusta. fico com vergonha de comentar aqui ahahahahaha
mas pelo menos eu tenho nariz de rico. (isso agora é meu novo bordão!) saudades

Nana disse...

Oi! Sumi mesmo, né? Nem te conto... Fui demitida. Aí, como aqui em casa a internet (ainda) é discada, não dá pra ficar no msn, ainda mais em horário comercial. Mas pretendo resolver esse problema em breve.

Tô meio empacada com o livro, mas não é porque eu não tô gostando, não, muito pelo contrário. Vou resolver isso, até o fim da semana termino de ler, juro. E você, gostou da Menina Má? Imagino que sim.

Em Brasília tem muitos eventos culturais, mas nenhum desses de graaaande porte. Tem muitos músicos bons, bandas, grupos de teatro, formados por brasilienses e que só os brasilienses conhecem. Esses shows e peças lotam. Outra coisa que tem muito por lá são festas. Megafestas no Setor de Mansões, nas quais você paga pra entrar e se diverte até o sol nascer, com direito a shows e performances bizarras (uma vez vi uma em que entravam duas pessoas no palco: um homem todo enfaixado igual a uma múmia e uma mulher pelada. Um ia rodando pra um lado, o outro pro outro lado, e, no fim, o cara tava pelado e a mulher tinha virado múmia. Nunca vou me esquecer disso).

Agora, quando aparecem por lá peças de atores globais, show do Chico Buarque etc, a "temporada" dura só um findsemana. Aí é foda de conseguir ingresso. Ou acampa na porta do teatro ou então desiste de ir, amigo.

Beijo!!!

gigi disse...

Ai, Brasília... ai, eu pegaria um avião agora pra ver duas horas de um show que tem em BSB todo dia e voltaria pra casa.

Unknown disse...

Bem, eu odeio esses eventos e quando fazia bico de guia de museu (e fiz isso por 4 anos) eu me irritava com aquelas mega-exposiçoes... eu sofria de ver tanta gente empolgada por nada, por um monte de coisa sem nexo pendurada junta, vários artistas que não tem a minima afinidade artistica exposta num mesmo plano pq em algum momento, a curadoria achou que eles tinham alguma proximidade. Ninguem entendia nada, o monitor sofria, era o dito pelo não dito, as pessoas viam tudo correndo e saiam de lá com mil panfletos, cards, camisetas, marcadores de livros, tudo mto temático, tudo mto enlatado ,mas exposição que é bom... nada! viam 4 salas repletas de obras, dezenas e dezenas de trabalhos complexos em meia hora, contando com o tempo levado para subir os lances de escadas do museu! uó!

pra mim, isso é uma espécie de vitimização, é o que eu chamo de vítima da cultura, gente que não tem personalidade suficiente para escolher a dedo o que realmente vale a pena assistir, o que é interessante, e carregar bandeiras e badulaques informando ao público em geral que se esteve em determinado evento, é no mínimo, irrelevante, descartavel, e sem proposito.

nao vou a festivais, não vou a mega exposições, não sou vítima da cultura,

prefiro ser vítima da moda, que é mto mais legal, a gente vai na loja e compra, sem tumulto, sem empurra-empurra, e sem fila!

beijos e saudades

Hi

quando tomamos o chopp? to com o horario bem tranquilo...

Diogo Lyra disse...

E por falar nisso, quando é que vamos ver aquela banda esquisita no Humaitá Pra Peixe?!

Anônimo disse...

Aqui em Santos é a mesma coisa.. o povo gosta mesmo é do evento e do movimento..rsrs..Mas é legal saber uma caracteristica dos cariocas.. hehe e o texto é belissimo..
Beijoks

Cascarravias disse...

carioca veio ao mundo a passeio; um evento é um momento instantâneo onde se exacerbam os elementos mais caros a esta forma peculiar de formacao do caráter. hoje amanheceu uma vaca coolorida de fibra na esquina da minha casa, não hä uma so vez que eu passe ali e nao tenha meia duzia de bbo alegre fotografando e tergiversando...

Cascarravias disse...

tres meses de treino e ainda nao mw du bem com esse malfito teclado

Nana disse...

Aí, entrei na comu, vc viu? Ainda te chamei pra ser amigo... Te considero! Hahaha.
Avisa quando tiver show!
Beijo

Anônimo disse...

eu curto eventos em trio...elétrico. na bahia é bom porque tem suingue.

gigi disse...

eu vi a vaca colorida na porta do semente! vi uma na porta do castelinho do flamengo!

eu quero uma vaquinha também!

Anônimo disse...

Look at this shit. Rock in Rio in Lisbon? What the fuck is this? After all of these centuries the Portuguse are still robbing you like crazy. How can you continue to stand for such a thing?
From a lowly european race of people who still insist to go without anti-perspirant 365 days a year? You think those fuckers are bad in Rio? You should see how they behave in Boston.
Portugal...the West Virgina of Europe. And those fuckers still haven't learned how to speak Spanish yet! Your slavish devotion to all things european is your Achilles Heel.

Cascarravias disse...

Oui dizer que a Biblioteca do Congresso de certo país ao norte é muuuuuuuuuito vasta. Será que os Atlas e Enciclopédias estão acessíveis?