Neste ano passei a metade do carnaval no Rio (até domingo) e a outra metade em Pernambuco, entre Recife e Olinda. Poderia dissertar, por longos parágrafos, a respeito dos contrastes entre ambos os estados, ressaltar seus pontos positivos e enaltecer, enfim, a festa do aval da carne, conforme é concebida nesses pólos culturais diversos. O assunto, todavia, será de outra natureza.
Durante os dias de festa – excetuando-se aqueles blocos em que os foliões são agraciados com jatos d’água em quantidade industrial – levei minha digi-cam para clicar os momentos mais cool das baladas. Enchi, propositalmente, esta última frase de expressões bestas pra levantar o ponto em questão: assim como eu, centenas de foliões empunharam seus aparatos eletrônicos – gravadores, mp3 players, celulares e câmeras – para digitalizar a bagunça. Em meio a tantos cliques, não foi difícil ouvir reclamações de pessoas que sentiam ter a privacidade vilipendiada pelos paparazzi que hoje se multiplicam na multidão festeira, especialmente naqueles blocos onde o consumo de substâncias ilícitas é via de regra.
Essa queixa junta-se às dos que buscam emprego e evitam participar de certas comunidades no orkut porque temem o crivo severo de alguns nazi-departamentos de RH. Sinal dos tempos: o espaço privado encontra-se cada vez mais enclausurado, tendo como um dos últimos refúgios a própria mente do indivíduo – até, claro, a ciência nos brindar com algum processo de leitura de pensamentos, que sirva de pré-requisito para cargos em grandes nazi-empresas.
A multiplicação e facilidade de uso dos equipamentos eletrônicos de gravação de som e imagem uniu-se matrimonialmente aos elevados índices de insegurança, gerando como fruto o fim da privacidade que, no entanto, aparece travestido de benesse social. “Não fornicarás no elevador” é o primeiro mandamento de quem tem a camerazinha apontada para si. Ou como diria BNegão: "Sorria! Você está com o filme queimado!"
Entretanto, ao invés de debatermos esta questão seriamente, parecemos exaltar a explosão e o crescimento fermentado do espaço público, nos tornando, como eu, como você e como quase todo mundo, blogueiros, orkuteiros e espectadores do Big Brother, escancarando na rede tudo aquilo que um dia fora de foro íntimo e nos sentindo impelidos à bisbilhotice da vida alheia.
Com tudo isso em mente, dessa vez resolvi guardar as dezenas de fotos que tirei nesses últimos dias de folia para mim e meus amigos, evitando a exposição demasiada – atitude que minha bonita com certeza aprovará. Mas afirmo que não tenho uma opinião unilateral sobre o assunto; só levanto a bola para, mais uma vez, provocar o amigo e incansável internauta a refletir sobre o tópico e botar a mão na cuíca.
Durante os dias de festa – excetuando-se aqueles blocos em que os foliões são agraciados com jatos d’água em quantidade industrial – levei minha digi-cam para clicar os momentos mais cool das baladas. Enchi, propositalmente, esta última frase de expressões bestas pra levantar o ponto em questão: assim como eu, centenas de foliões empunharam seus aparatos eletrônicos – gravadores, mp3 players, celulares e câmeras – para digitalizar a bagunça. Em meio a tantos cliques, não foi difícil ouvir reclamações de pessoas que sentiam ter a privacidade vilipendiada pelos paparazzi que hoje se multiplicam na multidão festeira, especialmente naqueles blocos onde o consumo de substâncias ilícitas é via de regra.
Essa queixa junta-se às dos que buscam emprego e evitam participar de certas comunidades no orkut porque temem o crivo severo de alguns nazi-departamentos de RH. Sinal dos tempos: o espaço privado encontra-se cada vez mais enclausurado, tendo como um dos últimos refúgios a própria mente do indivíduo – até, claro, a ciência nos brindar com algum processo de leitura de pensamentos, que sirva de pré-requisito para cargos em grandes nazi-empresas.
A multiplicação e facilidade de uso dos equipamentos eletrônicos de gravação de som e imagem uniu-se matrimonialmente aos elevados índices de insegurança, gerando como fruto o fim da privacidade que, no entanto, aparece travestido de benesse social. “Não fornicarás no elevador” é o primeiro mandamento de quem tem a camerazinha apontada para si. Ou como diria BNegão: "Sorria! Você está com o filme queimado!"
Entretanto, ao invés de debatermos esta questão seriamente, parecemos exaltar a explosão e o crescimento fermentado do espaço público, nos tornando, como eu, como você e como quase todo mundo, blogueiros, orkuteiros e espectadores do Big Brother, escancarando na rede tudo aquilo que um dia fora de foro íntimo e nos sentindo impelidos à bisbilhotice da vida alheia.
Com tudo isso em mente, dessa vez resolvi guardar as dezenas de fotos que tirei nesses últimos dias de folia para mim e meus amigos, evitando a exposição demasiada – atitude que minha bonita com certeza aprovará. Mas afirmo que não tenho uma opinião unilateral sobre o assunto; só levanto a bola para, mais uma vez, provocar o amigo e incansável internauta a refletir sobre o tópico e botar a mão na cuíca.
Se você é exceção e não leu, corra atrás de 1984, de George Orwell. E aproveita e vá ler também Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Dois livros escritos na primeira metade do século XX que narram um futuro desprovido de espaço privado. A diferença: em Orwell, o governo impõe esta perda de privacidade; já em Huxley, é a própria sociedade que a deseja.
19 comentários:
putz! não li nenhum dos dois ainda.. e esse texto, agora, me deu um profundo peso na consciência...!
providenciarei o mais rápido possível!!!!!
Obrigada pela visita!
Como contraponto produtivo e promissor, indico, também de Huxley, o livro "A Ilha" (só pra gente não olhar pro futuro e pensar "caralho, fudeu")...
Sobre o tema, bem, já tem gente muito boa estudando isso e, em breve, deve sair uma tese de doutorado...
Entretanto, bicão que sou, não me furto a coçar a cabeça e dizer que torço não ver emergir o caos voyerístico no século 21 ou, pelo menos, não descobrir nenhum vídeo ou foto na internet vilipendiando minhas intimidades!!!
No mais é votar pro Alemão ficar na Casa atentamente observada por Pedro Bial e mais alguns milhões de brasileiros imprestáveis como eu...
obs: acho que você inverteu as bolas no aviso final do texto, quando indica a leitura dos livros "Admirável Mundo Novo" e "1984". é em Huxley que a sociedade deseja a alienação e a direção de suas atividades (soma + castas). no livro de orwell, ao contrário, o governo exerce uma espécie de tipo ideal totalitário, controlando com suas teletelas as vidas dos seus cidadãos...
bem, arthur, eu li os dois livros e concordo com vc. estamos muito devassados, isso sim.
eu odeio o rumo que essa tecnologia toda esta tendo. sinceramente, nao aguento mais ter fotos minhas em fotologs, em cameras de celular, tudo é motivo pra ser clicada.
no ultimo show que fui era um mar de cameras e flashes que atrapalhavam a minha vista. as pessoas estao neuroticas em guardar imagens sem quê nem porquê, sinto falta das lentes, dos filtros e do foco manual.
quando namorei um fotografo antropólogo tínhamos dias de saídas para fotografar, era uma espécie de evento, faziamos experimentaçoes, carregavamos equipamentos e tal... acho que isso meio que se perdeu... as pessoas simplesmente sacam os seus celulares e tiram fotos feias e sem nitidez...uó!
Grande Arthur,
É isso aí camarada, o admirável mundo novo é aqui... Eu li os dois livros, e só descordo de você numa coisa... Espectador do BBB nunca, jamais!!! rsrsrs. Nem o primeiro nem o atual ne os que vieram no meio.
É incrível como as pessoas não estão ligando para esta superexposição... Eu, por exemplo, tenho certo cuidado com o que ponho no orkut... Até pouco tempo atrás trabalhava pra Telemar, e só por causa disso me privei de entrar na comunidade "eu odeio a telemar" rsrsrs. Agora que fui mandado embora acho que vou criar uma "eu odeio a telemar ao quadrado" kkkkkk...
A primeira precaução foi não deixar os scraps ali!! Pra que alguém quer deixar os outros lerem 1569 mensagens que lhe foi enviada? sinceramente não entendo.
Logo no começo, quando o orkut era (ainda mais) lento e dava (ainda mais) problemas, descobri um site chamado multiply, que achei mais inteligente, inclusive as comunidades que cada um participa são ocultas, ninguém vê que comunidades você participa, a não ser que seja membro da mesma comunidade, aí vai poder ver os membros daquela comunidade. Convoquei os amigos a mudar para o multiply... mas de que adiantou? não vou ficar quase sozinho lá enquanto todo mundo continua no orkut...
Você já reparou que o google é o próprio Big Brother do George Orwell? Eles tem os nossos e-mails, nossos dados do orkut, são capazes de rastrear os blogs que escrevemos, os sites que procuramos, e não duvido nada que com aqueles satélites do Google Earth, que só nos mostram imagens estáticas, eles possam ver imagens dinâmicas, ou seja, ver as pessoinhas andando na rua, vigiar o que eu ou você estamos fazendo...
Abraço!
Arthur: não vejo problema algum nesse troço. Eu, por exemplo, e você sabe bem disso, publico incontáveis fotos não só no Buteco como nos álbuns virtuais, que acabam sendo uma mão na roda quando o assunto é arquivar os registros que fazemos. É evidente que tudo tem limite, e mais evidente ainda que há mecanismos capazes de impedir os abusos cometidos por quem ultrapassa esse limite. Se tem uma coisa que vejo extremamente vantajosa nessa facilidade que temos, hoje, para promover o registro do que se passa à nossa volta (shows, encontros inesperados, momentos históricos etc etc etc) é justamente essa capacidade que a tecnologia a custo baixo nos dá de promovermos o registro que há não muito tempo ou era impossível ou era privilégio de quem detinha o poder dos meios de comunicação ou de meia dúzia de milionários capazes de ter toda a parafernália necessária à disposição. Você mesmo - e cito você não como um sujeito que deva concordar comigo, mas como testemunha ocular - já esteve na Folha Seca comigo e pôde ver e/ou saber através dos relatos de terceiros, que lá mesmo já pude fotografar, filmar e registrar momentos que, contando apenas, ninguém tomaria como verdade. É isso. Já falei demais. Grande abraço.
pois é, Edu, como a sabedoria popular bem atesta, esta é uma faca de dois legumes. A tecnologia permite, de fato, que eu tenha a facilidade de mostrar fotos na net para um sem número de amigos. Mas sempre haverá quem se sinta invadido com isto, um grande grupo de pessoas que não tem orkut, blog ou coisa que valha, e que tenha o direito de querer resguardar sua imagem. Que o digam as ex-namoradas que acreditaram na pouco confiável frase "deixa eu filmar, vai, juro que só nós dois vamos assistir esse vídeo"! Os mecanismos de controle nem sempre dão conta...
Zizas, valeu pelo toque, grande irmão. De fato troquei as bolas. Vou providenciar a errata.
Hilaine, vc tocou num ponto importante. ALERTA A TODOS: a atual definição das fotos e músicas baixadas e trocadas aos montes via internê está criando uma geração de moleques pré-aborrecentes que nunca vão ter a cultura de ouvir uma música com alta definição, que vão se contentar com aquela merdinha comprimida que é o ordinário MP3 de 128kps.
a é, o comentário não apareceu...
nada não, só falei bem feito por ter ido a PE
queria que eu fosse de táxi, que nem aquela mina?
A intimidade é um conceito pessoal?
Eu acho que sim. Culturalmente instituído.
O grande erro dos magníficos escritores foi depositar nos governos o controle sobre ela. Huxley, sempre genial, percebe que os agentes dessa quebra são os "imbecis" que fazem parte dessa sociedade.
Fenômenos sociais de quebra de "intimidade" são reflexo de uma doença da sociedade de consumo que reifica o próprio ato de viver aliada a solidão e a falta de referências que só um clã proporciona.
O Google Account já sabe que eu postei aqui há dez minutos atrás.
Vou me desesperar?
Não.
Vou sentar e esperar calmamente que o anúncio de uma catástrofe ou que um pateta conservador limitem o conteúdo da Internet?
Também não.
Que farei?
Vou chamar o Arturo pra bater um papo no MSN e ver as tais fotos. Ou melhor, vou marcar um cervejal e ver as fotos.
Big Brother? Eu vejo filmes e ouço música.
Daniela Cicarelli? Há pornôs mais bem feitos.
Google Earth? É, eu vou tomar cuidado nos dias ensolarados...
Estou decepcionadíssima comigo mesma por não ter lido os dois livros. Enfim...
Fiquei me sentindo uma merda depois de ler o texto. Sempre ando com minha câmera por aí porque sempre vejo alguma cena, paisagem ou algum objeto que valha o registro. Também adoro gente. Ontem faltou luz aqui no trabalho e dispensaram geral. Aproveitei pra ver umas gravuras do Rembrandt e do Dührer no CCBB, dei uma blitz nos sebos mais próximos e corri lá pra Berinjela. Tinha um senhor com uma barba branca enorme muito linda, uns cabelões... parecia o Gandalf do Senhor dos Anéis. Ele estava bebendo café e lendo seu livrinho no Gioconda Café. Não resisti, dei uma disfarçada e bati uma foto com o celular.
Tenho várias fotos assim. Não mostro pra ninguém, mas, de qualquer forma, vilipendiei a privacidade do Gandalf. Fiquei imaginando o que ele ia achar se soubesse da minha estripulia e questionei esse meu hábito, considerando que tirei todas as minhas fotos do álbum do orkut justamente porque não queria ninguém dando 'save as' em imagem minha sem meu consentimento.
Quanto ao Big Brother, ainda bem que aquela mala sem alça saiu! Ô mulher chata.
beijocas.
malditos, eu vou aí fuder com todos vocês!!!
Arthur,
Apesar de ser um livro focado pcp no controle total exercido pelo governo sobre os atos dos cidadãos (vale lembrar q os pobres, ou proles, nem eram vigiados... não valia a pena), tem uma frase q exprime muito bem a parada q vc ta falando, e q tb é o q acho mais preocupante. A mulher q o cara principal tá comendo, falando sobre o mundo diz q, muito pior do q o controle do Partido sobre a galera, era o controle dos espiões amadores, sempre prestando atenção em tudo e fofocando cada coisa q visse por aí. Imagina essa galera com acesso à tecnologia digital... Só pode dar merda...
Mas q é maneiro poder tirar várias fotos de tudo e registrar vários momentos da vida é, não dá pra negar. Creio q podemos continuar fazendo isso, sem problemas na consciência... quer dizer, aí depende do uso q cada um vai fazer das imagens... ou seja, como onde houver uma merda pra fazer lá estarão muitos humanos obstinados, a possibilidade de muita gente se foder é gigante. o que nos leva novamente para os mandamentos: 1-Não fornicarás no elevador; 2- Não usarás entorpecentes em locais públicos; 3- também Não fornicarás na praia ... já viu q vai ser difícil né... acho q nos fodemos!
e...
4- não sairás do banheiro na hora de pegar um novo rolo de papel higiênico.
é... essa história de fornicar na praia me fudeu, em ambos os sentidos.
5. não tirarás meleca quando parar no sinal.
morro de ódio quando vejo. já reparou que todos os motoristas tiram meleca quando param no sinal?
ai turo, libera essas fotos aê vai...uahuahauhauhauahua...
só pra você, Juju, eu mostro depois...
It was a warm sunny day back in '93. We were all sitting around smoking spiff and drinkin' beer when it finally came to us..."Dudes, it's both...the mother fuckers are mixing both '84 and brave new world on us!!! We're fuckin' doomed, dudes...." Both novels were warnings and both have become our REALITY. 9-11 was an inside job...'nuff said.
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