terça-feira, fevereiro 06, 2007

Sobre o texto sobre o boicote

O texto sobre boicote que postei aqui provocou um número recorde de intervenções, o que tornou impossível a tarefa de responder a todos. É claro que fiquei satisfeito em ver tantas opiniões divergentes, gente que nunca vi que concorda comigo, gente que conheço há mais de dez anos e que discorda de tudo. "Toda unanimidade é burra", diria Nelson Rodrigues, ou "viva a diversidade", como bradou minha amiga Lelê. De fato, o número de comentários só não foi maior porque alguns sagazes, captando o espírito da coisa, resolveram boicotar o próprio texto.

Mas algumas coisas eu gostaria de esmiuçar de forma mais clara: não sou contra os boicotes, muito pelo contrário, admiro as pessoas que têm culhão pra engendrar esse tipo de iniciativa. Principalmente quando os “boicoteiros” já passaram dos 20, contrariando a (bem sacada, vamos admitir) frase que o cartunista André Dahmer empresta ao grande Emir: “Ideais são enfeites que os jovens usam por 5 ou 10 anos”.

Minha opinião, na verdade, discute o resultado prático dos boicotes, que pra mim é muito baixo. Nisso concordo com o amigo Athos, quando este diz que dificilmente o palhaço Ronald perde o sorriso quando ele ou minha bonita deixam de consumir o delicioso Cheddar – até porque provavelmente o Pakkato deve ingerir, sozinho, a cota dos três juntos.

Outra crítica ao boicote é a mesma que, num plano mais pesado – que eu vou evitar de destrinchar aqui pra não ter que ler 250 intervenções me espinafrando – eu faria às ONGs que pululam no nosso sistema neo-liberalzinho de merda: o problema não são as iniciativas calcadas na vontade de fazer a diferença no mundo através de posturas ativas, mas sim deixar de cobrar dos governos a parte de responsabilidade social que lhes cabe, contribuindo para isentá-los das suas principais obrigações.

Resumindo, sou a favor de qualquer tipo de iniciativa contra-hegemônica, incluindo-se aí a prática do boicote. Mas creio que o idealismo e a energia que movem tal prática poderiam ser melhor empregados. Fosse eu de outra época, estaria agora citando os levantes populares como exemplo, mas infelizmente sou do tempo em que levante popular é a burguesia vestida de branco, no calçadão do Arpoador, em protesto à socialite que foi morta nas redondezas.

21 comentários:

Diogo Lyra disse...

A intensidade dos comentários só fez jus ao excelente tema e, sobretudo, excelente texto que o subscreve. Na minha opinião foi uma análise bastante madura e pertinente ao momento - não só na questão do boicote propriamente dito, mas em relação ao pano de fundo mais abrangente da tua reflexão, a saber, uma certa falta de noção sobre como reagir às intempéries do mercado nesses tempos loucos em que as Bolsas de Valores têm humor próprio...
Parabéns 4rthur e, sem rasgação de seda, há de se reconhecer que este espaço já é um fórum de debates bastante interessante e vivo!

Anônimo disse...

Arthur, cuidado!
Embora eu concorde com tudo que o Diogo escreveu, este elogio está tão bem escrito que até parece que ele está te devendo dinheiro.
Teu blog está genial.
P.S.> Eu não queria passar a idéia de que sou um viciado em Cheddar a estes leitores.
Por isso, resolvi abrir meu coração e revelar...
Eu também adoro o Quarteirão, o Milk Shake de Ovomaltine e a série Arrested Development.
Shame on me. Give me a Coke and let me cry.

Anônimo disse...

peralá, há de seadmitir que, independente da sua preferência, o milk shake de ovomaltine do Bob's, principalmente na sua versão "mal batido", é imensamente superior a qualquer doce que o palhaço Ronaldo tenha a oferecer.

Diogo Lyra disse...

tem razão pakkatto. não paguei o big mac financiado pelo arthur na semana passada.

Cascarravias disse...

'tapar buracos deixados pelo estado'. conversa pra boi dormir. esse universo paralelo em que vivem os ongueiros me parece relativamente tranquilo; mas não corresponde muito ao que tenho visto por aí.

até onde eu entendo e classifico as coisas, os tais 'espaços deixados pelo estado', não têm sido satisfatoriamente preenchidos pela sociedade civil organizada, pelos 'movimentos de base', pelo 'arejamento da vida associativa', ou pela capilaridade das redes que convergem'. tem um sopão aqui, um agasalho ali, uma empresa responsável acolá e meia dúzia de evangélicos suecos ensinados muleques a jogar bolinhas pro alto e fazer um batuque étnico.

De resto, essas brechas vêm sendo fartamente preenchidas pelo mercado, e sua lógica própria de competição, acumulação e concentração. Bem o oposto dos propósitos 'comunitaristas' dos apologetas do terceiro setor. selvageria. aliás, nçao foi bem por isso que inventaram esse tal de Estado? Eu sabia que Aristóteles era mais razoável que Rubem césar fernandes...

Cascarravias disse...

acabei de ter um tema pra atualizar o blog...

Anônimo disse...

Não vale realmente a pena entrar aqui na discussão sobre se as Ongs sÃo ou nÃo capazes de substituir o Estado, até pq acho q de jeito nenhum esse seria o espírito da coisa. Mas não dá pra negar, e vcs blogueiros hÃo de concordar comigo, que é bom ter esse espaço de discussÃo, açÃo e reivindicações. Por mais q possa nÃo concordar com o q cada uma delas, ou o conjunto louco q formam, aja, é sempre melhor uma porrada de gente podendo falar e fazer alguma coisa - palpitar mesmo, como vcs, caros blogueiros, tanto fazem, do q deixar tudo na mão de poucas pessoas 9o Estado). até pq, pelo q temos visto, essas pessoas dificilmente estão bem intencionadas.
A continuar, Maria tá me pressionando pra sair. Mas aguardem

Cascarravias disse...

bruno, juro que o a minha opiniao sobre ese pessoal é bem proxima disso ( fora a implicancia(.

se classificar como ' expressão de interesses e demandas de grupos determinados', respeito e legitimo.

só vou bater de frente qdo chegar naquele ponto em que se propoe o afastamento do estado pra q o voluntarismo de consciencias pesadas cumpra o dever publico de fornecer um direito reconhecido.

Anônimo disse...

Ontém eu e Ledas assistimos o Supersize me!,e devo dizer que embora soubesse de vários daqueles efeitos colaterais produzidos pela metabolização dos sanduíches Mc, ainda assim me assustei com a rapídez com que eles se apresentam. Acreditem, mas até o Leandro resolveu tomar nova posição em relação à sua fixação nos hambúrgueres do Mc Donalds. Não é nada, não é nada...assim vamos construindo aos poucos modos alternativos de nos posicionar em nossa sociedade organizada tão somente pelo fluxo com que as mercadorias são trocadas no mercado. Parece-me um bom começo!
Beijo pra quem é de beijo, e abraço pra quem é de abraço!

Anônimo disse...

eu sou de ambos!

Anônimo disse...

Prezado Casca (desconfio, por intuição q te chames Leonardo, mas não posso afirmar sem provas contundentes, então, vá lá, Casca), tb não acho q esses malucos devam exercer o papel do governo nÃo, nem q só devam ficar ali pra buzinar merda no ouvido da galera (o q já seria até alguma coisa). Mas acho q esses putos de ONG devem sim agir, tanto para combater os malefícios causados pelo Estado, quanto pra atingir locais q Esse não chega nem perto (diria q muitas vezes tem até nojo... ui!).

Enfim, acho q nossas opiniões sobre isso são bem parecidas, e digo mais, parecidíssimas!

Um abraço

(porra arthur, vc deveria comandar mesa redonda, ou pelo menos sugerir temas... os assuntos vão ficando animados, crescendo... mandou bem)

Anônimo disse...

Prezado Casca (desconfio, por intuição q te chames Leonardo, mas não posso afirmar sem provas contundentes, então, vá lá, Casca), tb não acho q esses malucos devam exercer o papel do governo nÃo, nem q só devam ficar ali pra buzinar merda no ouvido da galera (o q já seria até alguma coisa). Mas acho q esses putos de ONG devem sim agir, tanto para combater os malefícios causados pelo Estado, quanto pra atingir locais q Esse não chega nem perto (diria q muitas vezes tem até nojo... ui!).

Enfim, acho q nossas opiniões sobre isso são bem parecidas, e digo mais, parecidíssimas!

Um abraço

(porra arthur, vc deveria comandar mesa redonda, ou pelo menos sugerir temas... os assuntos vão ficando animados, crescendo... mandou bem)

Anônimo disse...

Q merda esse comentário repetido, algum filha da puta q trabalha nesse site tá me boicotando...

Anônimo disse...

bruno disse...
Prezado Casca (desconfio, por intuição q te chames Leonardo, mas não posso afirmar sem provas contundentes, então, vá lá, Casca), tb não acho q esses malucos devam exercer o papel do governo nÃo, nem q só devam ficar ali pra buzinar merda no ouvido da galera (o q já seria até alguma coisa). Mas acho q esses putos de ONG devem sim agir, tanto para combater os malefícios causados pelo Estado, quanto pra atingir locais q Esse não chega nem perto (diria q muitas vezes tem até nojo... ui!).

Enfim, acho q nossas opiniões sobre isso são bem parecidas, e digo mais, parecidíssimas!

Um abraço

(porra arthur, vc deveria comandar mesa redonda, ou pelo menos sugerir temas... os assuntos vão ficando animados, crescendo... mandou bem)

11:44 PM

Clara Mazini disse...

Vamos abraçar a Lagoa! rs...

Concordo com o seu ponto de vista, o único problema é que realmente não acredito na social democracia... por mais que seja eleito um candidado com o mínimo de boa vontade, ele será submetido a todo um sistema político de peso, então pessoalmente não vejo grandes diferenças em quem esteja no poder (apesar de não anular meu voto). Não acho que seja através desse sistema que algo vá mudar, pelo contrário.
Quanto às ONGs, é aquela "faca de dois legumes"... isenta o governo, mas ao mesmo tempo não deixa de ser uma forma visível de insatisfação e também de desespero. Não sei, acho uma questão complicada...

Anônimo disse...

Mas que saco!

blah disse...

Putz,

Arthur, muito bom seus comentários. Me deu vontade de falar sobre as ongs, mas tou com preguiça de fazer isso lá no meu blog pois não posso me desviar da meta lá (tenho uma mensagem grande que não cabe num post, por isso tenho que tentar desenvolver uma coisa meio livro, o blog vai ser só uma experiência e uma etapa nisso.) Por conta disso vou falar tudo aqui nos comentários aqui desse blog.
Claro que existem suas excessões, existem Ongeiros idealistas e sinceros, mas vou falar aqui dos outros. Claro que tem gente boa, que faz alguma diferença, agora se isto isenta o estado, o substitui ou resolve o problema é outra discussão que vou me privar. Mas o que eu quero denunciar aqui é o seguinte:
Existe hoje uma indústria da miséria, porque a legislação das ONGs permitem que esse assistencialismo seja uma profissão, uma forma de ganhar a vida. Daí vem uma classe média e faz teses e teses de mestrado sobre a miséria, a favela, e que termina por trabalhar nas ONGs. Existem ONGs maléficas que se apropriam da cultura da miséria e fazem daquilo um verdadeiro negócio, senão capitalista e explorador (e alguns não destoam muito disso), no mínimo com a intenção de auto-promoção política. Eu sei porque eu vi, estive lá dentro, trabalhei já para duas ONGs. E não gostei nada do que eu vi. Além de outras que eu não trabalhei mas fiquei sabendo dos podres internos.
- continua -

blah disse...

Isso sem falar no disparate que são as ONGs financiadas por grandes corporações, levantando a bandeira da responsabilidade social. Responsabilidade social foi uma maneira que o Capitalismo criou de tapar o sol com a peneira. Assim, você incentiva as empresas a "fazer o bem", e olha como isso é bom pra elas: ganham desconto no imposto e ainda de quebra fazem propaganda positiva, tentando nos convencer de que são bonzinhos... Essa cultura assistencialista não ataca causas dos problemas, e sim os sintomas, é como uma alopatia social, e como toda alopatia, conserta de um lado estragando de outro, quando a gente não morre da doença morre da "cura".

-continua-

blah disse...

Tomemos por exemplo a coligação Telemar-Oi-Velox (repara o tamanho do gigante).
Ora, primeira coisa, a principal responsabilidade social que eles tem é com o serviço que prestam. Deve vir a um preço justo acessível ao cidadão para que, de acordo com seu poder aquisitivo, tenha os serviços (que hoje no mundo moderno se tornaram necessidade estratégica) e possa viver uma vida digna. Não acontece. Quem aí não fica revoltado com a conta de telefone ou com o péssimo atendimento? Eles cobram o preço que querem e lucram bilhões por ano. E no caso dos telefones fixos é pior ainda porque esses FDP não tem concorrência, cobram o que querem e prestam o serviço de merda que quiserem (já que primeiro, estrategicamente durante 10 ou 20 anos sucatearam nosso sistema público monopolista para usar como desculpa para entregar esse monopólio na mão deles a preço de banana... piada - e quem ganhou com isso definitivamente não fomos nós, que agora nem pro governo adianta muito reclamar).
Segunda responsabilidade social é valorizar seu capítal humano. A Telemar é uma das piores empresas pra se trabalhar, arrancam seu sangue e não lhe dão muitos mimos em retorno. São uns putos exploradores. E mesmo sem trabalhar pra eles, me sinto explorado toda vez que tenho que pagar a conta de telefone, simplesmente porque não posso me dar ao luxo de boicotá-los e ficar sem telefone e sem internet.
Em terceiro lugar, na minha visão do que seria uma sociedade com uma responsabilidade social verdadeira, não existem corporações que lucram bilhões de dólares. Porque isso desbalanceia o poder, concentra poder, tira completamente o poder do estado (até mesmo a concentração de poder pelo estado é questionável, numa visão mais anarquista - que eu tenho tendência - mas ainda tenho que embasar melhor antes de defender), logo do povo que teoricamente é representado por ele. Enquanto não derem um limite razoável as corporações de crescer, crescer, crescer, lucrar, lucrar, lucrar, não haverá verdadeira responsabilidade social. Continuaremos a ter um mundo em que crescem também os contrastes, onde há bilionários e miseráveis.
Então não então não vem com essa de responsabilidade social que não vai me convencer que os acionistas são bonzinhos.

blah disse...

Clara,

Gostei muito do seu comentário. Acho que tem muita gente pensando que este sistema não funciona, não vai mais resolver nada. Eu não vou mais votar. Votei no Lula só porque não queria o Alckmin de jeito nenhum, pensei: "dos males o menor". Mas não gosto dele não, é um banana, um merda que eu tou com vontade de dar uma na cara dele. Bem, eu queria muito ter votado no Cristóvam Buarque, gosto dele, mas no Brasil a gente nunca consegue que os bons candidatos vençam, e mesmo quando eles vencem, o que vão poder fazer de fato é tão pouco, exatamente como vc disse...
Mas embasando melhor a crítica a democracia representativa, enquanto houver uma mídia poderosa, enquanto o poderoso veículo da propaganda estiver a disposição dos políticos (principalmente os mais munidos de $$$, porque sem isso não se ganha eleição), e enquanto tivermos um povo sem educação, sem o mínimo de conhecimento pra entender o mundo, facilmente manipulável por estruturas de poder q se auto-perpetuam, não haverá democracia que funcione.
(Não que eu seja a favor de formas de governo que excluam o principal elemento da ideologia democrática - a suposta liberdade - que na prática democrática capitalista se resume a consumir de beltrano ou consumir de cicrano, ou seja, muito restrita).

blah disse...

Ora, eu nasci na cidade, mas isso não foi uma opção, se eu pudesse subsistia ecológica e auto-sustentavelmente da natureza... Pra isso só precisaria de acesso a terra e de conhecimento. Infelizmente nas escolas não se ensina a plantar, não se ensina marcenaria, artesanato, a fabricar sabão e produtos de limpeza baratos e ecológicos, enfim, coisas úteis e práticas que dêem ao homem autonomia e de forma ecológica e socialmente correta. Além disso, ou melhor, principalmente, não se dá o acesso a terra. (não estou aqui fazendo apologia aos sem terra - eu mesmo tenho vejo por aí inúmeras críticas válidas a esse movimento, além de ter as minhas baseadas na minha visão - e nem sou comunista, mas um ponto onde os sem terra, comunistas e anarquistas coincidem e concordam é que este é um pré-requisito básico pra uma sociedade mais justa. Porque o homem vive da natureza - mesmo nas cidades, fazendo isso de forma completamente anti-natural, ou seja, explorando a natureza como explora a seus semelhantes - e assim sempre será. Por isso, é voltando-se para a natureza, observando como ela opera, seus princípios universais, vivendo em função dela e em total harmonia com ela, esta é a única solução. No dia que desenvolvermos um sistema social tão eficiente e equilibrada como a própria natureza, adotando valores NATURAIS e não invenções mirabólicas humanas, aí então resolveremos todos os problemas sociais do homem. E isto não exclui a indústria nem a tecnologia, apenas as coloca num paradigma completamente diferente.
Bem já falei demais... Tenho que economizar palavras para o meu próprio blog rsrssrs
Abraço!