quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Sobre a indústria fonográfica

Na semana passada fui a Recife participar da Feira Música Brasil, um evento que agrega rodadas de negócios – voltadas principalmente para músicos e selos independentes – e conferências, além, é claro, de shows – sexta passada, dia 9 de FRevereiro, além do aniversário de minha irmã mais nova, foi também o dia de comemoração dos 100 anos do frevo.

Mas o que eu quero mesmo é dividir com o leitor alguns dos dados e análises que os conferencistas explanaram acerca da situação da indústria fonográfica. Os que são do ramo, e creio que até os mais desavisados, sabem que a indústria fonográfica passa por profundas transformações, majoritariamente impulsionadas pelos avanços tecnológicos que, mediante a pirataria e o compartilhamento desenfreado de músicas e vídeos na internet, derrubou criticamente os índices de venda, alterando peremptoriamente a forma de atuação das grandes gravadoras – que no Brasil são quatro, cinco se contarmos com a Som Livre, que juntas detêm mais de 90% do nosso mercado de discos.

Fico a imaginar altos executivos de Warners, Sonys, Universais e EMIs da vida, batendo com a cabeça na parede na tentativa de arrumar uma maneira de manter seus índices lucrativos em alta, pra que tenham condições de manter suas picapes 4x4 de cabine dupla – além dos hábitos adictos que por ventura possam ter. Mas confesso que é um pouco difícil ficar triste com esse panorama, porque muito antes desta revolução tecnológica, quando as gravadoras detinham o monopólio do suporte físico (vinil ou CD), já engendravam práticas nefastas junto aos veículos de comunicação.

Quem já ouviu rádio sabe do que estou falando: em um dia inteiro de programação, metade (12hs) é preenchida com músicas, o que dá uma média de 450 canções tocadas – lembrando, por dia. Só que a prática do jabá faz com que, segundo palestrantes que ouvi, uma rádio toque de 150 a 200 músicas diferentes – POR ANO! Sendo o rádio o principal veículo de divulgação musical, não é exagero afirmar que a prática do jabá matiza, recrudesce, destrói a diversidade musical brasileira. E, como sabemos, essa diversidade é um dos nossos maiores orgulhos.

Hoje, com todas as mudanças tecnológicas apontadas, as majors não contratam mais um grande número de artistas, como costumavam fazer, nem apostam nas carreiras destes a longo prazo. Como sempre, a merda grassa pro lado dos empregados – nesse caso, os artistas.

Mas não priemos cânico, porque no fim do túnel as pequenas gravadoras e selos independentes empunham uma lanterna, modesta, mas que já ilumina o caminho a ser trilhado. É só comparar: no primeiro semestre de 2004, a Warner lançou 7 CDs no Brasil, enquanto a Biscoito Fino, que cresce a cada dia, lançou 19, segundo afirmaram os palestrantes. No site da Warner constam 17 artistas nacionais no casting, enquanto no da independente Deckdisc são 25 e no da Biscoito, especializada em música brasileira, são em torno de 150!

É claro que o buraco é bem mais embaixo – no bolso, exatamente. Os preços de CDs e DVDs são estratosféricos, então as classes baixas compram CDs piratas – que abocanham cerca de 60% da venda de discos hoje – e as classes médias e altas fazem download. Em termos de qualidade estas últimas se fodem, porque estão se acostumando a ouvir aquela merda comprimida que é o MP3, ao ponto de não conseguirem mais diferenciá-lo de uma faixa de áudio não comprimida.

Pra que o mercado fonográfico se reestruture, o governo precisa se coçar. Por exemplo, entender que disco é cultura, e que ao invés de pagar quase 40% do valor em imposto, poderia muito bem ter imposto zero, como ocorre com os livros. Outra atuação interessante – e, digo mais, urgente – seria cobrar das rádios uma programação diferenciada, algo inclusive previsto na Constituição, sob pena de perda de concessão. Bem que o moço do meu lado, que além de ministro é músico, poderia ajudar-nos nesse sentido... mas creio que há interesses adversos, sempre há interesses...





Quer perturbar o ministro com essas reivindicações? Faça-o aqui.

9 comentários:

Diogo Lyra disse...

Fico muito feliz em ver a crise das gravadoras, sobretudo quando boa parte desse caos está conectado ao mercado pirata. Como muitos são os motivos e pouco é o espaço, gostaria de argumentar rapidamente alguns fatores essenciais para tanto. Em primeiro lugar, a questão de para onde vão os lucros. Como o próprio Arthur pode confirmar, eles não vão para os artistas, e sim para os tubarões do monopólio fonográfico -logo, fora questões de ego/reconhecimento oficial, isto é, os discos de ouro e etc, não há prejuízos para o músico.
O mercado fonográfico relegou à marginalidade um sem número de potenciais clientes por anos, ao transformar o preço de um CD em um fator de distinção social. Privilegiaram, assim, um grupo específico de consumidores enquanto durou seu indiscutível monopólio sobre o produto musical - e isto quer dizer que se optou por restringir mercados à altos preços no lugar de alargá-los com preços mais acessíveis.
O avanço inevitável da tecnologia trouxe a estes senhores não só a flexibilização dos preços do CD, mas, sobretudo, a independência desta mesma parcela que antes era marginalizada e restrita à compra de um ou dois CDs por ano. Agora, eles têm seu próprio mercado, que corre independente das gravadoras (mesmo de selos independentes) e aterroriza executivos espalhados por todo o globo. Justamente por isso eu quero que se fodam tanto gravadoras quanto músicos que abraçam a "causa contra a pirataria". O pé-na-porta já aconteceu e, agora, meus caros amigos, um navio pirata fantasma ronda a indústria fonográfica...

Anônimo disse...

ei, por que vocês não boicotam a indústria fonográfica?

Anônimo disse...

Ei! Quem este sujeitinho intragável pensa que é para me parodiar desse jeito?

Advogados defensores do direito à propriedade intelectual, uni-vos!

Anônimo disse...

Lendo essas suas linhas, meu nobre colega, fiquei me perguntando: quem, afinal, compra CDs?
Acho que a música "física", com encarte, letras, etc, virou artigo de colecionador de quem realmente ama a arte, gente como eu e você, meu caro. A classe baixa compra uma xerox colorida da capa e a classe alta nem quer saber da capa, só quer o MP3 comprimido (ou melhor, achatado!), sem sequer saber o significado da palavra DINÂMICA... O que ocorre é que padrões estão sendo desconstruídos e só o tempo vai dizer onde isso tudo vai parar. Quem sabe acabaremos como a China, com gravadoras cobrando um percentual sobre a receita de shows dos artistas, já que naquele país TODA a venda de CDs é pirata. É mais ou menos o que o Real Madrid fazia com o Ronaldinho e seus contratos milionários com a Nike, Tim, etc...

Tchellonious disse...

Parece-me que o escriba fez inclusive um boicote aos banhos de sol...

gigi disse...

Bem... concordo contigo e com o Lyra no concernente ao preço dos CDs. Realmente, virou fator de distinção social. Como gosto de coisas antiguinhas e de mpb, que não vendem tanto quanto o Calypso nas Lojas Americanas, espero um tempinho e compro quando o preço chega a 10 merréis. Queria que a crise na indústria fonográfica chegasse a um ponto que perigasse quebrar.

Se os CDs fossem acessíveis, muitas pessoas prefeririam o original. É um grande tesão na minha vida abrir o plastiquinho, conferir a arte do encarte, ler o nome dos músicos que tocaram em cada faixa... É, eu tenho essa mania. Uma coisa é o baixo do Arthur Maia, outra é o baixo do zequinha da esquina... Enfim. Isso é outro papo.

As últimas postagens estão ótimas. Estou orgulhosa de você, meu garoto. Quando a gente vai beber aquela cerva pra Gigi encostar a cabeça no teu ombro e reclamar da vida?

beijinhos.

gigi disse...

ah, ficou lindão na foto! até salvei. não tinha nenhum retratinho teu ainda.

bjs.

Anônimo disse...

Faço parte do coro dos que pregam apenas uma saída àqueles que querem ganhar dinheiro com música :

Músico ganha dinheiro fazendo show!

E tenho dito.

P.S.S.*> Quando ganha dinheiro

(*) Post Scriptum Sarcasticus

Anônimo disse...

Industria liderada por corruptos, incompetentes. Fico feliz q o império deles esteja ruindo. Seu lugar será tomado pelos selos novos, q merecem o nosso apoio(a maioria), e de preferencia com imposto zero. Em relação as rádios, realmente o monopólio "imposto" pelas majors é inconstitucional.. alias, algumas leis são agredidas... e o Conselho de Comunicação Social?? Mais uma informação sobre os preços.. vale a pena dizer q algumas lojas de CD´s ajudam a jogar o preço la em cima.. ganancia ou desespero pela falencia q bate a porta?