terça-feira, novembro 13, 2007

A terceira idade de Paulinho




Desde o dia de ontem, 12 de novembro, Paulinho da Viola já pode andar de ônibus sem pagar passagem e sentar nos bancos de cor laranja do metrô. Se o visse no ônibus, tal como Paulo Bono em relação a Dona Canô, eu cederia meu lugar a este grande sambista, que completou 65 anos mantendo a mesma calma e serenidade que sempre foram características de sua personalidade.



Filho de César Faria, violonista do conjunto Época de Ouro (que acompanhava Jacob do Bandolim) que faleceu há poucas semanas, Paulinho cresceu respirando música na sua casa em Botafogo, onde conheceu sambistas e chorões como o próprio Jacob, Pixinguinha, Canhoto da Paraíba e muitos outros músicos de primeira linha. Através do amigo Hermínio Bello de Carvalho, Paulinho ouviu sambas de compositores como Zé Ketti, Elton Medeiros, Carlos Cachaça, Cartola e Nelson Cavaquinho.



Foi também Hermínio quem o levou para conhecer o Zicartola, lendário restaurante do sambista Cartola e sua mulher, dona Zica, localizado na tradicional rua da Carioca, onde artistas, jornalistas, intelectuais e outras pessoas se reuniam para ouvir Cartola, Zé Ketti, Elton Medeiros entre outros. O Zicartola funcionou por apenas 20 meses (entre 1963 e 1965), tornando-se ponto de encontro de sambistas da zona norte e estudantes da zona sul. Foi lá onde Paulinho recebeu seu primeiro pagamento como músico (um “troco pra passagem” dado por Cartola) e onde ganhou, de Zé Ketti e Sérgio Porto, seu nome artístico (afinal, Paulo César não era nome de sambista, diziam. Leia mais sobre essas histórias aqui).



Nesta mesma época iniciou-se a paixão do sambista pela Portela, escola onde desfilaria pela primeira vez em 1965. Já no carnaval seguinte, a escola se consagraria campeã com um samba de Paulinho, que recebeu dos jurados a nota máxima. No mesmo ano de 1966, Paulinho lançou o seu primeiro disco como artista solo, Na Madrugada (em parceria com Elton Medeiros), que contém a música “14 anos”, uma das letras que mais gosto:



Tinha eu 14 anos de idade / Quando meu pai me chamou / Perguntou se eu não queria / Estudar filosofia / Medicina ou engenharia / Tinha eu que ser doutor / Mas a minha aspiração / Era ter um violão / Para me tornar sambista / Ele então me aconselhou / Sambista não tem valor / Nesta terra de doutor (...)




Segundo consta na biografia do seu site oficial, o período mais fértil de Paulinho é aquele em que compreende os 11 discos que lançou pela gravadora Odeon. São, na minha opinião, os melhores discos do cantor, com destaque para vários títulos como Zumbido, Memórias Chorando e Memórias Cantando. Mas o melhor de todos, na minha modesta opinião, é A Dança da Solidão, de 1972, que contém as canções “Ironia”, “Pagode na casa do Vavá”, a homônima “Dança da Solidão” e a minha predileta: “Meu mundo é hoje”, a melhor letra escrita pelo hoje sexagenário Paulinho da Viola:



Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim.
Meu mundo é hoje não existe amanhã pra mim
Eu sou assim, assim morrerei um dia.
Não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia.
Tenho pena daqueles que se agacham até o chão
Enganando a si mesmo por dinheiro ou posição
Nunca tomei parte desse enorme batalhão
Pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão.








Dicas pra quem curte Paulinho: todos os cds da fase Odeon, que foram relançados e são encontrados nas Americanas a 10 pratas cada, e os DVDs Meu tempo é hoje (um documentário sobre o cantor), Acústico MTV (que saiu agora em 2007) e Saravá, um filme de 1969 feito pelo francês Pierre Barouh que, além de imagens de Paulinho da Viola, tem também registros raros de Maria Bethânia, Baden Powell, João da Bahiana e Pixinguinha.

10 comentários:

gigi disse...

Eu entrego meu corpo a quem encontrar os discos na Americanas. Estão esgotadíssimos e faz tempo.

A minha preferida é Coisas do mundo, minha nêga. Depois fiquei sabendo que é o primeiro sucesso dele.

Meu coração se divide entre o Nervos de Aço e o de 1971 em que ele aparece sentadinho na capa. Eu amo ele todo e com cacofonia.

O cara tem de ser muito gênio pra fazer uma música como Sinal Fechado. Vai tomar no cu quem disser que não. Eu fico louca, eu fico doente. E os shows de samba que eram verdadeiros espetáculos de teatro? Que fineza, que luxo!

Esse sim é o Paulinho da minha vida. Só vc, Turos, só vc pra escrever um post TÃO LINDO.

Amei as fotos. Perdi a vontade de ir pra Argentina.

Paulo Bono disse...

é, Arthur. O da Viola só tem um defeito gravíssimo. torce pra aquela merda de time do Eurico.

abraço rubro-negro.

* por sinal, o Mengão tá brocando.

Cascarravias disse...

eu e Mark Barney Greenway nos abstemos

Anônimo disse...

chato de doer

Arthur Tirone disse...

Também adoro a letra de "Meu Mundo é Hoje", mas não é do Paulinho... É de José Batista e Wilson Batista.

Unknown disse...

putz! Tem razão, xará. A letra que eu mais gosto do Paulinho não é dele.

Samantha Abreu disse...

putz, Arthur... sempre gostei do Paulinho, mas nunca tinha lido assim um "texto" sobre ele. As pessoas, às vezes, esquecem de coisas boas e simples.
Gosto muito da naturalidade artística que ele tem. Canta um samba sem esforço... como se fosse pura poesia, se não o é. Acho que é. Acho lindo.

Tenho, também, algumas preferidas: Nervos de Ação é a top pra mim... seguida por Dança da Solidão e gosto muito de "Meu mundo é hoje" e não sabia que não era dele! Bom saber, embora continue amando!

Um beijo, babe!

Anônimo disse...

maldito samba. atualiza logo pra esse xaopão sair de foco

Anônimo disse...

Sambista de primeira linha, portelense e vascaíno, esse é o cara!

Jana disse...

quero saber se é aqui eu peço um post sobre o Led Zeppelin, ou tenho que entregar o pedido pro Romeu, o problema é que o caminho que ele tomou foi o atalho pela casa de espelhos. então, o pedido vai demorar a chegar ai.