terça-feira, maio 15, 2007

Sobre as condições desiguais de apropriação cultural

O fato vergonhoso que irei mencionar chegou ao meu conhecimento no balcão do Buteco do Edu – página de um amigo tijucano, que promove uma verdadeira cruzada contra o que chama de bares de merda (“pés-limpos” como Devassa, Manuel & Juaquim, Informal, Espelunca Chic e Belmonte).

O próprio Edu é quem narra:


“Ocorre que recentemente, num desses domingos em que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro oferece, em suas salas, ingressos para o teatro a R$1,00 (um real), durante a apresentação do musical "Império", no Teatro Carlos Gomes, o afrescalhado ator [Miguel Falabella] esqueceu a fala de seu personagem. E dirigiu-se assim ao público:


"Mas também por R$ 1 eu não tenho a obrigação de decorar o texto".


E ainda acrescentou outra fala ao personagem:


"E quero baixar um decreto: nas noites de R$ 1, fica proibido o uso do banheiro. Ora, por R$ 1 ainda querem o quê? Vão fazer xixi na rua!"




Como o próprio Edu mencionou, o embaraçoso episódio deu-se durante o projeto “Teatro a 1 Real” da Prefeitura do Rio, um programa de políticas culturais que barateia o ingresso de espetáculos teatrais no último domingo de todo o mês, com o intuito de democratizar o acesso de toda a população à cultura (aqui entendida como produto cultural de cunho artístico).


Ações populistas como essa já foram realizadas pelo casal Garotinho em restaurantes e farmácias. Entretanto, quando trata-se de produtos culturais, o buraco é mais embaixo. E digo isso porque a democratização do acesso à cultura não implica, necessariamente, na democratização do consumo e do entretenimento – este entendido como experiência ou vivência pessoal.


Tentarei explicar meu ponto através de um exemplo: se há uma montagem de uma tragédia de Shakespeare com entrada a um real ou um concerto de música clássica gratuito na praia, não resta dúvida de que famílias pobres e ricas terão as mesmas condições materiais de acesso. Entretanto, a possibilidade de fruição destes espetáculos talvez se dê de forma desigual, já que os indivíduos com melhor condição financeira tiveram a chance de, na trajetória de suas vidas, serem socializados num meio onde o acesso a estas obras sempre esteve presente.


A educação fornecida por instâncias como a família e a escola confere aos indivíduos dos estratos médios e altos a oportunidade de absorver os códigos necessários ao entendimento (e conseqüente apropriação) de bens culturais que se encontram distantes das classes populares. Uma vez que tal disposição estética é internalizada e “naturalizada”, a tendência é que seja mais fácil para este indivíduo extrair algum tipo de prazer de uma obra que consegue, de alguma forma, classificar e se apropriar (Adorno diria algo como: rotulo, logo é meu).


Desta forma, a arte deixa de estar necessariamente ligada a um sentido (perguntas como “o que quer dizer essa pintura?” tornam-se irrelevantes) e passa a bastar-se por si só, pela estética – é a “arte pela arte”, como queria Flaubert. Um bom exemplo desse fenômeno pode ser encontrado no quadrinho abaixo, do André Dahmer.



Se um jovem, por outro lado, nasceu em uma comunidade pobre e possui limitado poder aquisitivo, dificilmente terá a oportunidade de ser socializado de forma a introjetar dispositivos estéticos que lhe permitam olhar para um emaranhado de linhas e dizer: “cara, foi na fase cubista que o Picasso atingiu o ápice da criatividade artística!”.


Sem o recurso do aprendizado estético, os indivíduos de poucas posses têm acesso limitado à produção cultural. E quando este acesso é disponibilizado, surge muitas vezes através de políticas públicas de cunho populista como a supracitada, e raramente durante a educação escolar destes indivíduos.


Assim, as distâncias que existem entre as condições materiais (e, consequentemente, de educação) das elites e aquelas dos indivíduos pobres resultam, vez por outra, na falta de respeito e em humilhações perpetuadas por aqueles que, do alto da crença na própria superioridade (uma vez que foram “artisticamente educados” e são, portanto, “mais cultos”), julgam estar fazendo um favor aos “populares” quando, na verdade, fornecem a argamassa para cimentar a barreira paternalista que confere um fluxo desigual às negociações e trocas culturais entre povo e elite.









Para ler mais sobre o assunto, uma boa dica é ir atrás das obras do sociólogo Pierre Bourdieu, como A Economia das Trocas Simbólicas, La Distinción e outras. Os livros de Néstor García Canclini, que misturam sociologia, antropologia e estudos de comunicação, também versam sobre o tema.

28 comentários:

Diogo Lyra disse...

Caro Arthur, discordo veementemente de sua análise.
Em primeiro lugar, afirmar que o restaurante e o cabeleleiro, bem como o teatro, a um real, é populismo, me parece equivocado. Ou melhor, taxá-los de populistas sem ressalvar que, de fato, facilitam o acesso a tais bens, me parece um engano.
Em segundo lugar - e o mais importante - é a crença na incapacidade do homem comum em desfrutar de bens culturais considerados eruditos - tal qual a música clássica, um quadro de Picasso ou mesmo uma peça teatral. Isso é um grande erro. O grande público de exposições e shows gratuitos demonstra o contrário. Falta, no caso, oportunidades de contemplação.
Claro que o conhecimento prévio sobre qualquer produto humano - artes, hidráulica, futebol - propicia, no mais das vezes, uma apreciação mais vigorosa do objeto em questão, mas não anula, aos ignorantes, a capacidade de admiração e reconhecimento de seu valor.
É a manipulação destes conteúdos sofisticados com intenções de cindir o público entre conhecedores ( e nesse caso, dignos) de ignorantes (e nesse caso, incapazes) que caracteriza o elitismo contemplativo - mas nunca o acesso contemplativo - das diferenças materiais.
Supor que a distância teórica do preparo distancia, igualmente, contemplador e objeto, é supor que somente enólogos são capazes de apreciar bons vinhos -quando, na verdade, eles são capazes apenas de sistematizá-los de acordo com um conhecimento teórico que, no ato prático (a degustação), mantém-se em igualdade de condições com o ignorante. É claro que o enólogo despreza certos vinhos que o leigo pode vir a apreciar (na arte dá-se o mesmo). Mas em última instância, é o primeiro aquele que se limita ao pré-determinado, enquanto que o segundo, pela ignorância que lhe caracteriza, encontra-se mais aberto à apreciação variada e, com isso, ao verdadeiro sentido da mesma, que se encerra única e exclusivamente no diálogo entre aquele único apreciador e o objeto em questão, sem intermediários.

obs: na minha opinião a tira do Dahmer ridiculariza justamente essa falsa superioridade proveniente do "conhecimento", uma vez que é ela quem prega, por duas vezes, uma peça no personagem (erudito) que aparece na tirinha.

Anônimo disse...

Primeira coisa q eu gostaria de dizer é q o nosso nobre colega Bourdieu é um merda. Ele é o maior talvez o maior exemplo do q vc está querendo dizer, mas num outro campo: se orgulhava de sua origem relativamente humilde, falava de distinção e uscaramba, mas prezava por escrever de maneira tão difícil, complicada e cheio de floreis e poréns q acabava sendo um dos caras mais excludentes intelectualmente, fazendo sua obra ser ainda mais restritiva do q normalmente são os textos de sociologia. Talvez fosse só um cara q escrevesse mal, mas tb poderia ser uma tentativa de se "distinguir" dentro do "campo" intelectual. O fato é q não precisava disso, pq suas idéia são bem fáceis - e, me arrisco a dizer, simplórias mesmo - q poderiam ter sido extendidas pra uma enorme galera. Ainda bem q não foram...

Discordo de vc num ponto fundamental: acho q a popularização da cultura, com Shakespeare, música clássica ou cubismo do Picasso, não servem para cimentar e tornar mais clara a diferença entre elite e povão, mas dão uma chance pras pessoas q não conheciam essas coisas de talvez, quem sabe, não acharem as acharem tão chatas e escrotas. A tal da educação estética pode até ser, e é, mais difundida na elite, mas ela não é de maneira alguma transmitida por herança ou transferência bancária. É um caminho a ser percorrido, q custa trabalho, interesse e dedicação, dando muito trabalho. É a tal da bildung q os alemães falam, e q dinheiro nenhum pode comprar. Mas pode ajudar bastante no caminho... Pra não perder a metáfora, dá pra dizer q é um ponto distante, no qual é muito mais fácil chegar de avião, relativamente tranq de carro, mas longe pra cacete a pé. Essas políticas de popularização da Cultura, se forem regulares, podem funcionar como caronas q levam a galera da caminhada um pouco mais adiante, um pouco mais perto do destino (q só é tão maneiro pq nunca alcançamos, cada vez q estamos chegando perto vemos q ele ainda está um pouco mais longe, e por aí vai). E quem quer q já tenha precisado andar pra caralho num lugar sem ônibus sabe o quanto uma carona é bem vinda.

E, terceiro e último ponto: convenhamos, o Miguel falabella é um merda, um grande babacão e no caso da peça dele eu acho um real uma fortuna... além de não contribuir nem um pouco pra formação de uma educação estética ou da bildung.
Bom, é isso. Boa polêmica, agora é só esperar nêgo ficar puto e esculachar meu comentário. Mas é de coração...

Anônimo disse...

(Eu sei, eu sei, eu falei q tinha acabado, mas pensei outra coisa porra, deixa eu escrever mais umas linhas...)

A classe artística é uma das mais hipócritas q conheço, além de neguinho achar q caga cheiroso. Essas polêmicas em torno do teatro a um real e das carteiras de estudante são muito características disso: eles tão pouco "se fodeno" pro alcance das obras deles ou no divertimento ou na educação estética das pessoas. Só pensam em grana e não vão me convencer q uma peça boa, q fica meses em cartaz, dá prejuízo. Amor á arte é balela, eles tão é buscando um emprego fácil, no qual não precisem trabalhar muito e possam sair por aí comendo geral.

Eles estão completamente alinhados com o discurso liberal q vê qquer produto (material ou cultural) sendo oferecido fora do preço de "mercado" (teatro ou alomoço a 1 real, por exemplo) como algo "populista", q acabará por deseducar os "beneficiários", q ficarão acomodados e "mal-acostumados". Nas minha humilde opinião, uma grande balela, pois, relativamente, o teatro a 1 real é pra muitas pessoas, muito mais caro do q a 50 reais para outras.

Paro por aqui, temendo sofrer represálias dos seus amigos artistas e ser tachado de "populista". Mas deixo a sugestão - estimulado pelo comentário acima -, pro governo, de implementar o programa de "Vinho Bom a 1 real", q poderia ser complementado pelo "Enólogos do Amanhã", pros pinguços mais jovens. Quero ver neguinho dizer q é populismo!

blah disse...

Porra Arthur... Confesso que fiquei com tanta raiva do Miguel Falabela que mal consegui criticar o seu texto propriamente dito... Mas as críticas levantadas pelos camaradas aí em cima são bem válidas...

Cara, como é que esse fdp teve coragem!? Acabou de confirmar que "Sai de Baixo" não era personagem, era o próprio que falava... Ahhh, cara, não li o artigo do Edu, mas tomara que a platéia tenha vaiado... Eu, se estivesse na platéia, com certeza, vaiaria... Elitista filho de uma puta!

4rthur disse...

Camaradas, do jeito que vocês estão falando, parece até que eu me coloquei contra o acesso do grande público ao teatro, posição da qual me mantenho diametralmente distante, até por acreditar que essa abertura ao grande público pode, a longo prazo, auxiliar na deselitização das artes cênicas.

Diogo, concordo plenamente com o que você disse sobre a tirinhia do Dahmer, e é exatamente esse o ponto: uma vez que a disposição estética aparece como um "capital cultural" (pra ficar nos termos do Bourdieu) eminentemente possuído pelas elites, estas utilizam este conhecimento estético para reproduzir, no plano simbólico, as desigualdades sociais e econômicas que os colocam em plano de superioridade em relação aos mais pobres. E é esse tipo de pensamento que faz com que os pobres sejam vistos como "incultos" e "sem educação" por gente da laia do Falabella, que não quer ser interrompido por esse 'povo malcriado" que vai ao banheiro no meio da peça.

Reafirmo que não defendo que alguém não-iniciado em uma arte seja incapaz de compreendê-la; o meu ponto, antes, é que a sociabilização que envolve predisposição estética entre as elites é o que dá a este grupo uma (falsa) ilusão de superioridade.

Quanto ao fato de ser ou não populista, bem, desde os tempos do Garotinho - e independente do benefício que isso traga à população - sempre tive a impressão de que os tais restaurantes e farmácias a um real soavam mais como uma estratégia de marketing para dar mais visibilidade ao governo. Talvez seja implicância mesmo, talvez eu esteja, como dizem os americanos, latindo pra árvore errada. É algo pra pensar.

Anônimo disse...

Manchete do jornal Meia-Hora no dia seguinte ao incidente da peça a 1 real: "Miguel Falabella tem dia de caco Antibes em teatro a 1 real"!

Acho q o Revolution_9 está no caminho certo.

Diogo Lyra disse...

"A educação fornecida por instâncias como a família e a escola confere aos indivíduos dos estratos médios e altos a oportunidade de absorver os códigos necessários ao entendimento (e conseqüente apropriação) de bens culturais que se encontram distantes das classes populares. Uma vez que tal disposição estética é internalizada e “naturalizada”, torna-se mais prazeroso para o indivíduo fruir uma obra que consegue, de alguma forma, classificar e se apropriar"

Desculpe, mas não vejo esta "disposição estética" como um "capital cultural". Mesmo sem ela qualquer um é capaz de classificar e de se apropriar de qualquer manifestação artística - desde o apreço sincero, passando pela reprodução do conhecimento erudito pura e simples, até chegar à expressão "esse monte de rabiscos é uma merda". De todas essas possibilidades, a única da qual o "pobre" está realmente excluído é a da reprodução estéril de um conhecimento pré-adquirido. A reprovação e a apreciação sincera (para mim, as que importam) continuam aí...

Diogo Lyra disse...

obs: não curto esses autores. No caso específico da arte, ao menos no Brasil, a "imposição cultural" provém, muitas vezes, dos meios economicamente mais precários. Quando não, é tórridamente influenciada por eles. Exemplos? Samba, funk, Chico Buarque, Helio Oticica...

Cascarravias disse...

algumas coisas:

1) esses insultos são o mínimo que desejo pra quem se dispõe a sair de casa e gastar algum centavo com um evento que tenha essa figura abjeta participando. foi ver o falabela? azar o seu se ele te esculhambou. bem feito.

2) eu ia escrever varias coisas sobre cultura isso e a quilo, mas qdo abri os comentarios vi que Mr. Lyra se antecipou e disse antes. mas reforço alguns pontos:
serviços essenciais a um real so podem ser considerados populismo ppor quem nao depende deles. nas condições objetivas de existencia no terceiro mundo, sao fundamentais esses aspectos distos ässistencialistas"

e bourdieu é foda pra caralho. la distinction é obra prima.

4rthur disse...

O interessante do blog (principalmente no caso deste, que se propõe a isso mesmo) é o debate e consequente revisão de idéias. Relendo o texto com as reflexões acima em mente, percebi que só no último parágrafo consegui, com algum êxito, apontar aquilo que julgo ser uma reprodução da desigualdade no plano cultural.

No fundo, era pra ser uma crítica ao sentimento interiorizado de superioridade, que faz com que pessoas ditas "cultas" enalteçam suas próprias capacidades de responder a um código (no caso, estético) predeterminado, em detrimento daqueles que, com os sentidos livres de qualquer "predisposição", irão absorver e julgar uma obra de arte sem as matrizes racionalizadas da crítica artística instituída - ou seja: de forma livre.

Anônimo disse...

Os românticos de plantão q me desculpem, mas por mais q existam (graças a deus) pessoas sem nenhuma educação estética ou hábito de consumir cultura "erudita" - do estilo Shakespeare e Picasso - capazes de admirá-la sinceramente, não acho q todas as pessoas são capazes de se apropriar de qquer manifestação cultural. Sei q argumentos e exemplos antropológicos não são muito bem vistos entre vcs, mas as infinitas possibilidades e formas de arte (sendo até esse conceito suspeito, pq pressupõe uma aura superior a determinadas manifestações culturais definidas como melhores q as outras por meios muito mais obscuros q um deleite sensitivo estético imediato, mas vá lá, senão já é chatice demais pra galera) encontradas mundo afora atestam como o próprio senso estético é um produto cultural, inseparável do processo de socialização (se vcs acham q eu to maluco, baixem pela internet música aborígene australiana - uma experiência única, garanto!).
Por mais q isso seja mal visto pelos apologetas da intuição e sensibilidade artísticas naturais, não existe um conceito de estética universal, e para chegarmos ao apreço à "alta cultura" (nomezinho escroto, mas quem fala essa merda é o babaca do Bourdieu)é preciso uma educação específica com valores q façam com q essa cultura seja apontada como esteticamente melhor do q as outras.
A questão não é q para apreciar a "verdadeira arte" é preciso ter educação estética, não para dar valor ao q realmente é bom, mas para chegar à própria definição de q aquilo, e não outra coisa, é bom.
Enfim, não sei se perdi o fio da meada, mas acho q ainda faz sentido o q estou dizendo. Concordem ou não com isso.

Ah, e por mais q o Chico Buarque de Hollanda possa ter sido influenciado pelos meios mais populares, acho q não seria um bom exemplo pra essa discussão: é difícil imaginar alguém com mais pedigree intelectual q ele, alguém q tenha tido, desde criança uma educação estética tão intensa (vale lembrar q o pai dele, o glorioso Serjão, era um grande entusiasta da "cultura popular brasileira", tendo ele convivido em casa, desde moleque com figuras como Pixinguinha e Benedito lacerda, além de outras nem tão "populares" assim como Tom jobim e Vinícius de Moraes).

Esse papo é infinito, tenho certeza...

Anônimo disse...

"No fundo, era pra ser uma crítica ao sentimento interiorizado de superioridade, que faz com que pessoas ditas "cultas" enalteçam suas próprias capacidades de responder a um código (no caso, estético) predeterminado, em detrimento daqueles que, com os sentidos livres de qualquer "predisposição", irão absorver e julgar uma obra de arte sem as matrizes racionalizadas da crítica artística instituída - ou seja: de forma livre."

Resumindo meu argumento, q vai de encontro ao seu, Arthur: é impossível qquer julgamento e absorção de obra de arte de forma livre. Ninguém parte pra esse encontro com a arte do zero. O q não quer absolutamente dizer q seja impossível partir de um padrão diferente do erudito.


Um abração e foi mal qquer coisa (inclusive a chatice da argumentação, mas, porra, não to obrigando ninguém a ler!)

4rthur disse...

Ô rapaz, comentários longos e esmiuçados, quer concordem e acrescentem ou discordem veementemente da minha opinião, são as roldanas que movimentam este blog. Sem eles, sou só um merda escrevendo absurdescências.

aliás, gostei tanto de um desses comentários que até transformei-o em uma postagem...

4rthur disse...

Bruno, só agora li o seu comentário nababesco e me sinto na obrigação de comentar algumas coisas:

Insisto que devamos, de uma vez por todas, demolir essa picuinha antropologia vs. sociologia. Não acho que ninguém aqui veja exemplos antropológicos com maus olhos. Pelo contrário, concordo com o que você disse e é justamente isso que eu estava levantando quando trouxe o Bourdieu à baila: a percepção estética é moldada culturalmente, e o gosto pessoal é em grande medida influenciado pelo campo cultural no qual se está inserido. É o que o Bourideu chama de "objetividade interiorizada", que é de tal forma naturalizada que chega a parecer algo subjetivo (ou pelo menos essa é a visão mais disseminada entre as pessoas, a de que o gosto é algo pessoal e subjetivo).

Acabamos então concordando que a elite, uma vez detentora do poder econômico e da posição social de destaque, traz para o plano cultural essa suposta superioridade, como se a própria formação do gosto pessoal não fosse também reflexo de uma inserção social num grupo privilegiado ou excluído.

Anônimo disse...

Yeah, I read Edu's "critique" of the "pes-limpos" a couple of weeks ago. Fuckin' hilarious and TRUE! It should have been re-named, "Edu Assaults the South Zone". I guess Clube 00 no longer exists. That place was the fuckin' worst. Nothing but a bunch of douche bags drinking R$8 beers and showing off ridiculously expensive cell phones. It reminded me of "home" so much that I had to go deep into suburbio to purge myself afterwards...

You've hit another nerve, Arthur. Manuscripts that are taking me forever to fuckin' read. This subject is only a symptom of a much deeper problem in Rio. Some of the guys have already touched upon it with their comments. Remember it for a later posting.

Samantha Abreu disse...

dá pra mandar o Falabella se fuder?

antes de qualquer outra coisa... dá pra mandar ele se fuder, por gentileza?

obrigada.

Voltemos ao assunto, rapazes.
estou gostando.

Anônimo disse...

Eu acho q comentários em língua que não seja a portuguesa geram condições desiguais de apropriação cultural da discussão...

4rthur disse...

Concordo, Bruno. Mas o mundo é um lugar frio e injusto, você não sabia?

Vivi disse...

Nossa, papo de gente grande! Bom, vou dar um exemplo de assistencialismo nesse sentido que aconteceu aqui em BH. A prefeitura, juntamente com um núcleo da UFMG implantou um programa chamado "Leitura no ônibus". Você entrava no coletivo, e encontrava textos dos mais variados, do cânone à literatura marginal, plastificados e pendurados nos bancos. A cada dia notava menos textos nos ônibus, o povo estava levando os textos embora. "Vandalismo" (não encontrei uma palavra melhor) ou interesse em levar pra casa poemas, crônicas e trechos de obras literárias clássicas? O fato é que não deveriam levar os textos, mas imagino (sou otimista) que alguém pode ter se interessando ou gostado de um texto a ponto de querer levá-lo consigo. Mas notava boa parte dos populares indiferente àquilo, talvez preguiça de ler. Infelizmente, se a população não se vê preparada para a fruição relacionada à pintura, à música ou ao teatro, que são manifestações multisemióticas,creio que apelam mais aos sentidos, a literatura, então, pede socorro! Quando falo de população, aí me incluo, formada em Letras, produto da escola pública, filha de pais que não fizeram curso superior, não apreciam literatura. Creio que também pode haver a predisposição do sujeito em se educar esteticamente, independente do seu meio. E experiências "populistas" podem ter sua validade.
Ah, desculpe se não tem nada a ver o que eu disse, é que o assunto é muito empolgante, seu texto excelente e o debate acima acalorado! rs

Cascarravias disse...

dig, sera que dava pra explicar essa do queridinho ser popular? aposto que em irajá ninguem com menos de trinta e cinco saiba quem ele é ou o que faz da vida

4rthur disse...

Madame, pelo contrário, sua intervenção não só tem tudo a ver como, ao trazer uma experiência ocorrida em BH e desconhecida da maioria de nós por aqui, imprimiu uma grande contribuição aos comentários deste post. só tenho a agradecer. Eu, particularmente, se membro do governo de lá, não sei se ficaria triste com o "furto" dos textos. Deve ser barato repô-los e, além do mais, não podemos esquecer que os textos surrupiados podem ter tido um destino bastante positivo, como você mesma salientou.

Valeu pela visita e apareça mais vezes!

4rthur disse...

Casca, tu bem sabe que o conceito de "popular" é bastante frívolo, principalmente no Brasil, onde a chamada MPB alcançou a condição de estilo musical. Ou seja: hoje uma Mariana Aydar (conhece? Se não, isso só reforça meu ponto) pode dizer que faz MPB, enquanto Zezés di Camargos e correlatos, com milhões de discos vendidos nas costas, não são considerados por boa parte da "intelligentzia" (grafia certa?) como música popular brasileira.

Cascarravias disse...

Arthur, esse é meu ponto. popular que não tem povo é rótulo. o que se classifica com esse rótulo hhj em dia só tem popular na etiqueta, e guarda traços de algo que já foi popular um dia - mas que definitivamente não era proiduzido por estas pessoas, nem copnsumido quando, onde e pór quem é consumido atualmente... aliás, 'consumido' já dá uma pista do processo que está por trrás disso.

de qualquer forma, música popular hoje pra mim é pagode, axé, funk e sertanejo.

4rthur disse...

...e tecnobrega, na minha terrinha.

Cascarravias disse...

na "sua terra" tem essas subdivisões que eu nao conheço direito, que pra mim são como trance: eu nao vejo a menor diferença entre umamusica e outra, mas os entusiastas têm capacidade de enumerar cento e vinte e oito categorias distintas.

4rthur disse...

É vero. Acontece comigo quando alguém, do alto de sua ignorância roqueira, acha que punk, heavy, thrash, doom, death, splatter, grind, black, HC e demais gêneros totalmente diferentes entre si podem ser generalizados sob o rótulo de "heavy metal" ou "rock pesado".

Eu mesmo, ultimamente, em razão da minha defasagem quanto aos barulhos que neguinho tem feito por aí, tendo a adotar uma categoria genérica pros sons mais esporrentos: "metal extremo".

Cascarravias disse...

metal extremo é um bom termo pra designa essa parcela resistente que nao sucumbiu à cretinice new metal... e outro dia que eu vi essas neo bandas de neo jovens dizeno que "neguinho é preconceituoso e julga emo sem saber do que se trata, tem que procurar saber da atitude..."

essa rebeldia pré-moldada que se compra pela internet e é difundida pela tv a cabo me embrulha o estomago

Arthur Maia disse...

Caros blogueiros,

Estou fazendo um trabalho sobre ética e apropriação cultural e me dou com este blog. Tem tud a ver. Muito legal mesmo, mas não me contive e fiquei pensando, não é que a tirinha ilustrativa é a mensagem mais importante deste texto ? Todos estão putos com o Falabella, mas colocaram a foto do Alemão do Big Brother, ha ha ha. Cultura, contra-cultura, meso-cultura e orto-cultura, tudo junto e embolado.