Com a inconstância do Rock In Rio – que debandou pra Lisboa (???) – e a proibição de eventos apoiados por marcas de cigarro – o que nos privou de bons eventos como o Free Jazz Festival e o Hollywood Rock –, restou aos cariocas contentarem-se com o Tim Festival, que firmou-se como o maior evento de música do Rio ao trazer uma miríade de artistas desconhecidos para cenários nobres como o MAM e a Marina da Glória.
Trazer desconhecidos não é problema, pois, como disse recentemente aqui, o carioca gosta mesmo é de um evento, de ver e ser visto, de dar uma azarada e mostrar as últimas tendências da moda “alternativa”. Do alto dos meus 29 anos, notei que pelo menos 80% do público presente era mais novo do que eu – estava, inclusive, acompanhado de algumas pessoas que nasceram no fim da década de 80, o que ainda soa como um absurdo para mim (e justifica o título carismático desta postagem).
Trazer desconhecidos não é problema, pois, como disse recentemente aqui, o carioca gosta mesmo é de um evento, de ver e ser visto, de dar uma azarada e mostrar as últimas tendências da moda “alternativa”. Do alto dos meus 29 anos, notei que pelo menos 80% do público presente era mais novo do que eu – estava, inclusive, acompanhado de algumas pessoas que nasceram no fim da década de 80, o que ainda soa como um absurdo para mim (e justifica o título carismático desta postagem).
Sim, meus caros, eu fui ao Tim Festival. Não para assistir a Bjork, cujas músicas, para não ser maldoso com os modernos, eu diria que não entendo. Queria era ver o show do Arctic Monkeys, a banda de rock queridinha da vez, o fenômeno inglês que vendeu, só no seu país de origem, 120 mil cópias do disco de estréia (e isso apenas no dia do lançamento, chegando a 340 mil ao final da primeira semana). Os garotos da banda, nascidos entre 1985 e 1986, fizeram um show honesto, nada mais que isso. Perfeito pra quem gosta das músicas e se contentou em simplesmente ouvi-las, uma atrás da outra, sem maiores firulas espetaculares – como foi o meu caso.
De maneira geral, a mídia elogiou o evento e, de fato, algumas fatores devem ser enaltecidos – como a decisão da organização de manter a lotação máxima bem abaixo da capacidade dos palcos, o que permitiu que se pudesse transitar sem maiores problemas mesmo nos shows com ingressos esgotados. Agora, não me sinto à vontade para elogiar um evento com as características que irei numerar em abaixo.
As pulseirinhas: embora entenda a necessidade das pulseirinhas coloridas para este evento (afinal, eram três palcos diferentes e uma área comum, e a pulseira permite o ir e vir do público), sempre associo o artefato a uma prática desprezível: a de hierarquizar a importância de grupos sociais através da categoria VIP (very important people). Recentemente, por exemplo, a CBF proibiu a venda de bebidas alcoólicas no jogo do Brasil contra o Equador, no Maraca, por tratar-se de “um jogo para a família brasileira”. Mas no camarote da mesma CBF, artistas globais, acompanhado dos filhos, mamaram gratuitamente litros de cerveja na área vip, e litros de uísque na área vipvip. Asqueroso, concordam? E não forma poucas as pessoas que vi no Tim com mais de uma pulseira no braço, mesmo depois de terminados os shows. Entendi que essa galera não tirava a pulseira por tratar-se de um símbolo de distinção, quiçá de prestígio social. Um nojo.
O preço: Um copo de plástico cheio de chope custava 4,50. Um cachorro quente do tamanho de um celular, 5 merréis. E a fila para adquirir um produto destes era quase sempre looooonga. Bebi cinco chopes, comi um cachorro, morri em quase 30 pratas e passei quase metade do show do Hot Chips, que abriu pro Monkeys, na fila. Sem contar que os ingressos para os shows mais esperados custavam 180 miguelitos cada. Quem foi ver Bjork e Arctic Monkeys no mesmo dia e não era estudante teve que morrer em 360 pratas (pelo menos, para alguns, valia pela onda de ostentar duas pulseirinhas no braço). É impressionante a clivagem socioeconômica que rola nesses eventos, que parecem exclusivamente voltados para a classe A e para malucos como eu dispostos a empatar toda essa grana em um único show de rock. Os ingressos para o show do The Police, que vem ao Rio no fim do ano, custarão entre 160 e 500 reais. E, acreditem, esses de 500 já esgotaram no primeiro dia de venda.
O amadorismo: embora incensado como o maior evento de música do Rio, a organização teve a brilhante idéia de botar o palco das atrações brasileiras em área aberta, não contando com a chuva torrencial que desabou no Rio desde a quarta passada. Resultado: Montage, Vanguart e Del Rey, bandas brazucas que eu queria assistir, tiveram os shows simplesmente cancelados. A organização disse que quem comprou os ingressos só pra ver as bandas de rock poderia entrar no dia seguinte de graça, quando tocariam DJs de música eletrônica! E quem é do rock como eu ficou como? Acertou: puto da vida.