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A pintura trata-se de uma obra de Pollock, intitulada Um (Number One). Foi pintada em 1948 e inscreve-se na tradição do expressionismo abstrato. Lemos no Wikipedia que Pollock desenvolveu uma técnica de pintura (criada por Max Ernst) chamada de “gotejamento” (dripping), ficando em pé sobre a tela e deixando a tinta pingar para elaborar, a partir dos pingos, uma obra de arte. A não-utilização de cavaletes e às vezes até de pincéis confere uma originalidade ao estilo, e é isso que será reverenciado por críticos e admiradores de arte. Não o conteúdo, mas sim a forma.
A “arte pela arte”, como queriam os poetas parnasianos e simbolistas da França do século XIX, é uma busca do primado da forma, que pressupõe o “distanciamento desinteressado” do espectador. Isto significa não estar preocupado com o que a obra de arte “quer dizer”, mas sim eleger como único objetivo da arte o prazer estético, alheando-se de quaisquer outros fins ou valores.
Esta manobra, obviamente, depende que o espectador disponha dos meios para engendrar este “distanciamento”, através de um lento processo de aprendizado. Mediante a educação artística pode-se reconhecer, por exemplo, que o quadro acima trata-se de um Pollock, ou que trata-se de um quadro expressionista – e este reconhecimento é que irá estimular o prazer estético.
Os indivíduos oriundos das classes baixas, desprovidos deste “capital cultural” (expressão do sociólogo francês Pierre Bourdieu), irão procurar algum significado naquele “borrão”, e não raro emitirão opiniões de repúdio, dizendo que “qualquer criança poderia fazer o mesmo”. Já a maioria dos indivíduos das classes mais altas, detentores do capital cultural mencionado, irão fruir esteticamente do quadro sem necessariamente buscar algum significado – ou seja, sem tentar entender o “borrão”.
E os burgueses médios ou em ascensão? Estes terão a reação menos espontânea de todas, uma vez que desejam marcar sua posição social (que está acima dos pobres) sem possuírem, no entanto, o capital cultural dos que estão no topo da hierarquia social (e por isso mesmo não precisam provar nada pra ninguém). A saída para esta situação é apenas uma: o silêncio.
Em nota do livro A Distinção, Bourdieu irá afirmar: “Às confissões pelas quais os operários diante dos quadros modernos denunciam sua exclusão (“não compreendo o que isto quer dizer” ou “isso me agrada, mas não compreendo nada”), opõe-se o silêncio entendido dos burgueses que, passando pela mesma confusão, sabem, no mínimo, que convém recusar – e, de qualquer modo, calar – a expectativa ingênua de expressão que denuncia a preocupação de compreender”.