Escrevo este texto de supetão, no susto mesmo, pra aproveitar o gancho de uma discussão gerada no site da Rackel (tive que digitar o nome do site no link porque a autora colocou um script que te dá um esporro ao simples apertar do botão CTRL). A discussão, sobre propriedade intelectual, me é muito cara e envolve diretamente boa parte do meu trabalho profissional, que é relacionado a projetos culturais, bem como minha atividade acadêmica.
Primeiramente, quero deixar claro que sou favorável à preservação do direito autoral, no sentido filosófico da coisa. Acho que é não só uma gentileza, mas também uma questão de respeito que, ao utilizarmos obras de outrem, a autoria esteja explicitamente indicada.
Entretanto, isto não significa que tal proteção deva se revestir de uma pesada carapaça, impedindo a livre circulação de criações artísticas, descobertas científicas, técnicas e saberes. Especialmente levando-se em consideração a nossa imersão na lógica capitalista, penso que a circulação destas “mercadorias” artísticas e científicas não pode ficar submetida a interesses econômicos.
Nosso modelo de lei de propriedade intelectual é copiado (como quase todo o resto) do esquema de copyright americano. Segundo a lógica jurídica que rege a lei, se você, por exemplo, estiver rabiscando um guardanapo enquanto divide uma cerveja com os amigos numa mesa de bar, seus esboços já estão, em tese, protegidos pela lei. Se o garçom depois os colocasse na internet, você poderia, em tese, processá-lo por violação de direitos autorais. Existem tentativas de flexibilização desta lei canhestra, mas discuti-las seriamente daria material para uma dissertação de mestrado (o que foi feito, exatamente desta forma, por um camarada meu chamado Tiago Coutinho).
Em que pesem todas as questões ligadas à pirataria, seria contra meus princípios (sim, eu tenho alguns) defender uma postura que incentiva a monopolização dos conteúdos culturais e/ou científicos. Ao contrário, defendo a idéia de que todo conhecimento deve ser compartilhado, epenso o mesmo para as produções culturais. Textos, ensaios, poesias,artigos, músicas, vídeos, tudo deveria ser passível de livrereprodução, porque os vejo como patrimônio da humanidade, que contribuem para o desenvolvimento (cultural, espiritual etc.) das pessoas. Se você não quer que ninguém te copie, então melhor nem divulgar.
É claro que, se o cara usa a minha música pra ganhar dinheiro, ideal seria que alguns miguelitos também pingassem no meu bolso. E mesmo que não haja dinheiro no meio, se copiam o texto de outrem e não dão o devido crédito – porque lhes falta capacidade artística e/ou criativa e, por isso, preferem gozar com o pau dos outros – então eles que sofram suas dores de consciência (caso a possuam), e que sejam eventualmente desmascarados um dia.
Minha conclusão é a seguinte: tudo é referência! Afinal, quem é que faz um trabalho de faculdade sem referência? Quem é que escreve um artigo sem referência? Quem é que faz ciência sem referência? Certa vez, Isaac Newton disse que só chegou aonde chegou porque se debruçou nos ombros dos cientistas que vieram antes dele. E se tais ombros não estivessem acessíveis, será que ele teria brindado a humanidade com suas descobertas sobre ação e reação e as demais leis newtonianas?
* * *
Se você ficou a finzão de se inteirar acerca das alternativas que estão sendo pensadas para o modelo de copyright, vale uma visita ao site do Creative Commons. Até o nosso ministro Gil liberou os direitos de uma música para mostrar seu apoio ao projeto... e, obviamente, esta música não é nem Realce, nem Aquele Abraço e muito menos Vamos Fugir, já que essas são as que realmente rendem um trocado e ajudam a botar comida na mesa, né ministro?
Primeiramente, quero deixar claro que sou favorável à preservação do direito autoral, no sentido filosófico da coisa. Acho que é não só uma gentileza, mas também uma questão de respeito que, ao utilizarmos obras de outrem, a autoria esteja explicitamente indicada.
Entretanto, isto não significa que tal proteção deva se revestir de uma pesada carapaça, impedindo a livre circulação de criações artísticas, descobertas científicas, técnicas e saberes. Especialmente levando-se em consideração a nossa imersão na lógica capitalista, penso que a circulação destas “mercadorias” artísticas e científicas não pode ficar submetida a interesses econômicos.
Nosso modelo de lei de propriedade intelectual é copiado (como quase todo o resto) do esquema de copyright americano. Segundo a lógica jurídica que rege a lei, se você, por exemplo, estiver rabiscando um guardanapo enquanto divide uma cerveja com os amigos numa mesa de bar, seus esboços já estão, em tese, protegidos pela lei. Se o garçom depois os colocasse na internet, você poderia, em tese, processá-lo por violação de direitos autorais. Existem tentativas de flexibilização desta lei canhestra, mas discuti-las seriamente daria material para uma dissertação de mestrado (o que foi feito, exatamente desta forma, por um camarada meu chamado Tiago Coutinho).
Em que pesem todas as questões ligadas à pirataria, seria contra meus princípios (sim, eu tenho alguns) defender uma postura que incentiva a monopolização dos conteúdos culturais e/ou científicos. Ao contrário, defendo a idéia de que todo conhecimento deve ser compartilhado, epenso o mesmo para as produções culturais. Textos, ensaios, poesias,artigos, músicas, vídeos, tudo deveria ser passível de livrereprodução, porque os vejo como patrimônio da humanidade, que contribuem para o desenvolvimento (cultural, espiritual etc.) das pessoas. Se você não quer que ninguém te copie, então melhor nem divulgar.
É claro que, se o cara usa a minha música pra ganhar dinheiro, ideal seria que alguns miguelitos também pingassem no meu bolso. E mesmo que não haja dinheiro no meio, se copiam o texto de outrem e não dão o devido crédito – porque lhes falta capacidade artística e/ou criativa e, por isso, preferem gozar com o pau dos outros – então eles que sofram suas dores de consciência (caso a possuam), e que sejam eventualmente desmascarados um dia.
Minha conclusão é a seguinte: tudo é referência! Afinal, quem é que faz um trabalho de faculdade sem referência? Quem é que escreve um artigo sem referência? Quem é que faz ciência sem referência? Certa vez, Isaac Newton disse que só chegou aonde chegou porque se debruçou nos ombros dos cientistas que vieram antes dele. E se tais ombros não estivessem acessíveis, será que ele teria brindado a humanidade com suas descobertas sobre ação e reação e as demais leis newtonianas?
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Se você ficou a finzão de se inteirar acerca das alternativas que estão sendo pensadas para o modelo de copyright, vale uma visita ao site do Creative Commons. Até o nosso ministro Gil liberou os direitos de uma música para mostrar seu apoio ao projeto... e, obviamente, esta música não é nem Realce, nem Aquele Abraço e muito menos Vamos Fugir, já que essas são as que realmente rendem um trocado e ajudam a botar comida na mesa, né ministro?