Na semana passada fui a Recife participar da
Feira Música Brasil, um evento que agrega rodadas de negócios – voltadas principalmente para músicos e selos independentes – e conferências, além, é claro, de shows – sexta passada, dia 9 de FRevereiro, além do aniversário de minha irmã mais nova, foi também o dia de comemoração dos 100 anos do frevo.
Mas o que eu quero mesmo é dividir com o leitor alguns dos dados e análises que os conferencistas explanaram acerca da situação da indústria fonográfica. Os que são do ramo, e creio que até os mais desavisados, sabem que a indústria fonográfica passa por profundas transformações, majoritariamente impulsionadas pelos avanços tecnológicos que, mediante a pirataria e o compartilhamento desenfreado de músicas e vídeos na internet, derrubou criticamente os índices de venda, alterando peremptoriamente a forma de atuação das grandes gravadoras – que no Brasil são quatro, cinco se contarmos com a Som Livre, que juntas detêm mais de 90% do nosso mercado de discos.
Fico a imaginar altos executivos de Warners, Sonys, Universais e EMIs da vida, batendo com a cabeça na parede na tentativa de arrumar uma maneira de manter seus índices lucrativos em alta, pra que tenham condições de manter suas picapes 4x4 de cabine dupla – além dos hábitos adictos que por ventura possam ter. Mas confesso que é um pouco difícil ficar triste com esse panorama, porque muito antes desta revolução tecnológica, quando as gravadoras detinham o monopólio do suporte físico (vinil ou CD), já engendravam práticas nefastas junto aos veículos de comunicação.
Quem já ouviu rádio sabe do que estou falando: em um dia inteiro de programação, metade (12hs) é preenchida com músicas, o que dá uma média de 450 canções tocadas – lembrando, por dia. Só que a prática do jabá faz com que, segundo palestrantes que ouvi, uma rádio toque de 150 a 200 músicas diferentes – POR ANO! Sendo o rádio o principal veículo de divulgação musical, não é exagero afirmar que a prática do jabá matiza, recrudesce, destrói a diversidade musical brasileira. E, como sabemos, essa diversidade é um dos nossos maiores orgulhos.
Hoje, com todas as mudanças tecnológicas apontadas, as majors não contratam mais um grande número de artistas, como costumavam fazer, nem apostam nas carreiras destes a longo prazo. Como sempre, a merda grassa pro lado dos empregados – nesse caso, os artistas.
Mas não priemos cânico, porque no fim do túnel as pequenas gravadoras e selos independentes empunham uma lanterna, modesta, mas que já ilumina o caminho a ser trilhado. É só comparar: no primeiro semestre de 2004, a Warner lançou 7 CDs no Brasil, enquanto a Biscoito Fino, que cresce a cada dia, lançou 19, segundo afirmaram os palestrantes. No site da
Warner constam 17 artistas nacionais no casting, enquanto no da independente
Deckdisc são 25 e no da
Biscoito, especializada em música brasileira, são em torno de 150!
É claro que o buraco é bem mais embaixo – no bolso, exatamente. Os preços de CDs e DVDs são estratosféricos, então as classes baixas compram CDs piratas – que abocanham cerca de 60% da venda de discos hoje – e as classes médias e altas fazem download. Em termos de qualidade estas últimas se fodem, porque estão se acostumando a ouvir aquela merda comprimida que é o MP3, ao ponto de não conseguirem mais diferenciá-lo de uma faixa de áudio não comprimida.
Pra que o mercado fonográfico se reestruture, o governo precisa se coçar. Por exe
mplo, entender que disco é cultura, e que ao invés de pagar quase 40% do valor em imposto, poderia muito bem ter imposto zero, como ocorre com os livros. Outra atuação interessante – e, digo mais, urgente – seria cobrar das rádios uma programação diferenciada, algo inclusive previsto na Constituição, sob pena de perda de concessão. Bem que o moço do meu lado, que além de ministro é músico, poderia ajudar-nos nesse sentido... mas creio que há interesses adversos, sempre há interesses...