sexta-feira, junho 27, 2008

A inVEJA é uma merda


Vez por outra recebo algum e-mail (desses que circulam amplamente pela internet) que me identifico a ponto de querer reproduzi-lo aqui. No presente caso, trata-se de um texto atribuído a um aluno da Universidade Federal de Pernambuco. O título da minha postagem é uma paródia da famosa frase do pessoal do Casseta e Planeta (na época em que ainda tinham graça), e expressa bem minha opinião em relação ao nojo de revista que é a VEJA.


Sem mais delongas, portanto, vamos ao texto.





A VEJA E O MEU PAI
*Por Roberto Efrem Filho*


Hoje, dia 10 de junho do ano de 2008, foi o dia em que meu pai cancelou a renovação da Revista Veja. É bem verdade que há fatos históricos um tanto quanto mais importantes e você deve estar se perguntando "o que cargas d'água eu tenho a ver com isso?". Não é nenhuma tomada de Constantinopla, queda da Bastilha ou vitória da Baia dos Porcos. É um ato de pequenas dimensões objetivas, realizado no espaço particular de uma família de classe média brasileira, sem relevantes conseqüências materiais para as finanças da Editora Abril, sem repercussões no latifúndio midiático nacional. A função deste texto, portanto, é a de provar que meu pai é um herói.


A Revista VEJA se diz assim: "indispensável ao país que queremos ser". Começa e termina com propagandas cujo público alvo é a classe média e, nela, claro, meu pai. Banco Bradesco, Hyundai, H. Stern. Pajero, Banco Real, Mizuno. Peugeot, Aracruz, Nokia. Por certo, a classe média – inclusive meu pai – dificilmente terá acesso à grande parte dos bens expostos na vitrine de papel. Não importa. Mais do que o produto, a VEJA vende o anseio por seu consumo. Melhor: credita em seu público-alvo, a despeito de quaisquer probabilidades, a idéia de que ele, um dia, chegará lá.


Logo no comecinho, na terceira e quarta folhas, estão as páginas amarelas da Revista. Nelas, acham-se as entrevistas com personalidades tidas como renomadas e com muito a dizer ao país. Esta semana a VEJA apresenta as opiniões de Patrick Michaels (?), climatologista norte-americano que afirma a inexistência de motivos para temores com o aquecimento global. Na semana passada, deu-se voz ao "jovem herói" Yon Goicoechea (?), um "líder" estudantil venezuelano oposicionista de Chávez e defensor da tese de que a ideologia deve ser afastada para que a liberdade seja conquistada contra o regime "ditatorial" chavista.


Não. Não é que a VEJA não conheça o aumento dos níveis dos mares, dos números de casos de câncer de pele, do desmatamento da Amazônia, da escassez da água e dos recursos naturais como um todo e de suas conseqüências na produção mundial de alimentos. Sim, ela conhece. Não. Não é que ela não saiba que um estudante não representa sozinho o posicionamento democrático de uma nação e que um governo legitimamente eleito não pode ser chamado de totalitário. Sim, ela sabe. Do mesmo modo que conhece e sabe da existência de diferentes opiniões (ideológicas, como tudo) sobre ambosos assuntos e não as manifesta. Acontece que isso ela também vende: o silêncio sobre o que não é lucrativo pronunciar.


Do meio pro final da Revista estão os casos de corrupção. Esta é a parte do "que vergonha, meu filho, quando isso vai parar?" dito pelo meu pai, com decepção na voz. A VEJA desenvolve um movimento interessante de despolitização nesse debate. Ela veste o figurino do combatente primeiro da corrupção, aquele sujeito que desvendará as artimanhas, denunciará os ladrões e revelará "a" verdade, única, inabalável. Com isso, a VEJA confere centralidade à corrupção no debate político, transformando a política em caso de polícia e escondendo o fato de que o seu próprio exercício policialesco é inerentemente político.


No fim, "todo político é ladrão" – menos os do PSDB, claro, todos "intelectuais" -, "política não presta", o que presta mesmo é a Revista VEJA. A Revista é ainda permeada por textos de cronistas e colunistas. Estão, entre seus autores, Cláudio de Moura Castro, Lia Luft e Roberto Pompeu de Toledo. Todos dignos do título de "cidadão de bem", conscientes e responsáveis. Evidentemente, todos de posicionamentos um tanto moralistas e um tanto conservadores. Difere-se deles Diogo Mainardi. Este, conhecido por chamar o Presidente da República de "minha anta" e por sua irreverência desrespeitosa e direitista, escancara a alma da VEJA. Mas não se engane. Não é Mainardi o perigo. São os outros.


Foram eles que meu pai um dia leu com respeito e é aquela auto-imagem que a VEJA quer – como tudo – vender. Sem dúvida a Revista VEJA é ainda mais que isso. Suas estratégias de persuasão vão muito além dos limites deste breve texto. Afinal, é ela a revista mais lida no país, parte significativa de um império da concentração do poder de informar. Seja nas suas "frases da semana", nas quais há de costume as fotografias de uma mulher bonita dizendo bobagem e de um homem-autoridade falando coisa inteligente e importante, seja no fetiche da citação "eu li na VEJA", faz-se ela um dos mais eficazes instrumentos de convencimento a favor da classe dominante.


Meu pai, por sua vez, é um trabalhador. Casado com Fátima, minha mãe, e pai também de Rafael, criou seus filhos com princípios que ele preserva como inalienáveis. Já votou no PT. Já votou no PSDB e mesmo no PFL ("porque foi o jeito, meu filho!"). Opõe-se a qualquer tipo de ditadura (conceito no qual incluía até pouco tempo o governo de Chávez: coisas da VEJA). Já se disse socialista, na juventude. É praticante da doutrina espírita desde menino. Discorda de mim em milhares de coisas. Concorda noutras. É um bom e sonhador homem com quem eu quero sempre parecer.


Hoje, ele cancelou a renovação da Revista VEJA, aquilo que para ele já foi seu meio de conhecimento do mundo, depois de chamar de "idiota" a entrevista daquele herói das páginas amarelas sobre o qual falei acima. Antes, havia criticado fortemente um artigo de Reinaldo Azevedo publicado na Revista, em que Azevedo falava atrocidades sobre Paulo Freire: "meu filho, veja que besteira esse homem está dizendo sobre Paulo Freire". Hoje, ele operou uma mudança nesta realidade tão acostumada à perpetuação do estabelecido. Hoje, para o mundo, como em todos os dias da minha vida para mim, meu pai é um herói.




*Roberto Efrem Filho é mestrando em direito pela UFPE e filho de "Roberto Efrem", a quem dedica este artigo

14 comentários:

Cascarravias disse...

O quadro pode ser ainda pior: a Veja (o setor empresarial, que no final é quem manda) não assume essas posturas por convicção ideológica ou militancia política. É a pragmática busca por lucro em um filão de mercado não explorado.

O governo do PT despertou reacalques adormecidos desde 85. O conservadorismo hibernante perdeu o pudor de se mostrar à luz do dia, e não havia ainda veículo que tivesse topado ocupar essa vertente, abundante no mercado editorial estdunidense. Resolveram comprar a idéia e fazer um arremdo da imprensa direitóide de lá, especialmente a que prolifera por meio de blogs e midia eletrônica em geral - mas não somente.

Eu li o reinaldo azevedo da semana passada. chega a ser constrangedor pensar que um senhor publique aquilo.

Anônimo disse...

"o silêncio sobre o que não é lucrativo pronunciar."

ótimo texto, ótimo!

azar de quem ainda lê a VEJA.

Paulo Bono disse...

qual é a revista que presta?

abração, Arthur

P.R. disse...

aumento dos níveis dos mares? dos números de casos de câncer de pele? desmatamento da Amazônia? aquecimento global? sério?? eu acredito é na veja! e ainda vou comprar aquele mimo na h.stern!

P.R. disse...

aumento dos níveis dos mares? dos números de casos de câncer de pele? desmatamento da Amazônia? aquecimento global? sério?? eu acredito é na veja! e ainda vou comprar aquele mimo na h.stern!

Diogo Lyra disse...

Pô, o texto desse cara é brilhante! Nem parece escrito por um pernambucano, quer dizer, advogado!

Samantha Abreu disse...

fabuloso! texto ótimo!
eu não tinha visto nesses e-mails da rede, não... só anda chegando porcarias à minha caixa.

Foi até engraçado, porque fui lendo o texto e percebia minha boca tremer e minha cabeça concordar. Li a matéria do Azevedo, e concordo com o Casca: dá vergonha. Além disso, no caso da VEJA, acho que o Mainardi é a única coisa que dá pra ser lido lá... nem que seja pra ver as barbaridades que ele fala. De resto, é patético.. até a Lya Luft é de envergonhar a nossa cara!

Se bem que tenho que fazer do Bono as minhas palavras finais: qual delas presta?!
(talvez uma ou outra... e olhe lá!)

Um beijo, Arthur!

Unknown disse...

Cara, seu pai é verdedeiramente um herói. Certeza. Mas agora segura a onda: você vai ver como a abril usa de métodos pouco invasivos, do tipo ligar para sua residência dez vez por dia, para reconquistar seus clientes.
Pior do que assinar a Veja é pós-Veja. Pode acreditar, assinei na época do vestibular e os caras me ligam até hoje. Não importa o quanto eu mande eles pro inferno!

Abraço

Unknown disse...

curiosamente, a veja nunca fez parte da minha vida.

Rackel disse...

É, a veja tb nunca fez parte da minha vida... nem nos dias q vou cortar o cabelo esta revista aparece na minha frente (e olha q de revista ruim o salão tá cheio!).

rs

Anônimo disse...

dendritos mitocondriais fortalecem a empanação de fósseis.

ontem a lambreta furou o chinelo, nem o sol fez a baliza direito.

Bianca Feijó disse...

Finalmente consegui comentar aqui!

Como já disse a VEJA mente e o Mainardi é um babaca...

Saudade de lê-lo...

B.E.I.J.O.S

Francine Albernaz disse...

Opa, opa! Tô na área!

Anônimo disse...

Por que nao:)